O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou hoje (17) a possibilidade de concorrer a um cargo na ONU (Organização das Nações Unidas). Segundo Lula, o cargo de secretário-geral da ONU deve ser exercido por um técnico, e não por um ex-presidente. De manhã, o presidente da Bolívia, Evo Morales, defendeu que Lula ocupasse a Secretaria-Geral das Nações Unidas.
“Vejo a indicação como um gesto de cortesia do meu companheiro Evo Morales, mas essas coisas a gente não reivindica, não pede e não articula. Acho que a ONU precisa ser dirigida por algum técnico competente, não pode ter um político forte, porque ele não pode ser maior do que os presidentes dos países”, disse Lula, na entrevista coletiva de encerramento da Cúpula do Mercosul.
'Lula merece ser secretário-geral da ONU', diz Morales
Na opinião de Lula, um ex-presidente dos Estados Unidos, por exemplo, não deve ocupar o posto. “Fico meio preocupado porque, se virar moda, presidentes de países presidirem a ONU, daqui a pouco, os Estados Unidosi estarão disputando, além do Conselho de Segurança, o controle também das Nações Unidas, e aí tudo ficará mais difícil.”
Sobre seu futuro político, Lula disse que “Deus já foi muito generoso” com ele e que não pretende pendurar as chuteiras, mas continuar “fazendo política”. Ele descartou também a possibilidade de ocupar a função de alto representante do Mercosul, cargo cuja criação foi aprovada ontem (16) por ministros dos quatro países do bloco que se reuniram em Foz do Iguaçu.
“Posso contribuir sem ter cargo. Não preciso mais de cargo, preciso somente de motivação”, afirmou o presidente.
Perguntado sobre a grande diversidade existente entre os países do Mercosul e sobre a possibilidade de a Argentina vir a sobretaxar produtos brasileiros do setor têxtil, Lula respondeu que as diferenças fazem parte do bloco.
“O Mercosul não é um convento, não é um encontro de freiras. Isso aqui é um encontro de chefes de Estado e de países soberanos, que sempre vão ter divergências. Sempre haverá um país com interesse diferente do outro, tentando não prejudicar o outro, mas defender a sua soberania.”
Segundo Lula, isso ocorre também em outros blocos, como a União Europeia. E essa divergência não é um problema para o Mercosul. “Acho que é a razão da existência do Mercosul”, afirmou o presidente. “Foi graças à ousadia do Brasil, da Argentina, do Uruguai e do Paraguai” que esses países puderam “chegar a um nível extraordinário de bom relacionamento político e comercial”.
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Para o presidente brasileiro, as relações entre os países do Mercosul são melhores do as relações entre os Estados Unidos e a China, a França e a Alemanha e a Inglaterra e a Irlanda. “Pode ficar certo de que, aqui no Mercosul, somos muito mais unidos e compreensivos e temos muito mais necessidades. Portanto, a divergência faz parte do processo democrático do Mercosul.”
Ao lado do presidente do Paraguai, Fernando Lugo, Lula participou de rápida entrevista coletiva, respondendo a apenas duas perguntas feita por jornalistas brasileiros. Isso ocorreu, segundo Lula, porque ele precisava viajar de volta a Brasília para participar, ainda hoje, da diplomação da presidenta eleita, Dilma Rousseff.
Foi a última entrevista dada por Lula como presidente do Mercosul, cargo que passa a ser ocupado agora por Lugo. “Deixo a presidência pro tempore do Mercosul satisfeito e deixo a presidência do Brasil realizado”, afirmou Lula.
O presidente paraguaio lembrou as dificuldades existentes no bloco. “Não existem processos de integração puros, sem dificuldades. Aquilo que se pensou originalmente [para o Mercosul] era um processo de integração comercial. Mas hoje temos um Mercosul que não olha para si mesmo e não mira apenas os países que iniciaram esse processo, mas vê adiante”. Lugo disse esperar que a Venezuela, o Peru, a Bolívia e a Colômbia também se integrem ao Mercosul.
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