Atualizada às 15:44
Em continuação a uma série de medidas implementadas nas últimas semanas que modificam a aplicação da Lei de Meios argentina, que regulamenta os meios de comunicação no país desde 2009, Mauricio Macri, presidente desde o último dia 10 de dezembro, assinou nesta quarta-feira (30/12) um Decreto de Necessidade e Urgência (DNU) que dissolve as agências Afsca (Autoridade Federal de Serviços de Comunicação Audiovisual) e Aftic (Autoridade Federal de Tecnologias da Informação e das Comunicações).
A Afsca supervisiona a aplicação da Lei de Meios, aprovada pelo Congresso argentino em 2009 com o objetivo de impedir o monopólio dos meios de comunicação, enquanto a Aftic regula as telecomunicações. Ambas as agências foram criadas por leis votadas pelo Congresso e deixarão de existir a partir da próxima segunda-feira (04/01), quando serão fundidas no recém-criado Ente Nacional de Comunicações (Enacom), que absorverá as funções destes dois órgãos.
Casa Rosada Argentina / Divulgação
Malcorra, Mauricio Macri e Marcos Peña, chefe de gabinete, em visita ao Brasil no início de dezembro
A medida foi anunciada pelo chefe de gabinete de Macri, Marcos Peña, que afirmou que nos últimos anos houve “uma guerra contra o jornalismo” no país, em referência às disputas entre os governos Kirchner (2003-2015) e grandes meios de comunicação, como o Grupo Clarín. Segundo Peña, a Lei de Meios e a Lei de Tecnologia da Comunicação “serviram somente como armas desta guerra” e deverão ser integradas em uma nova lei de comunicações que será discutida por uma comissão bicameral no Congresso, cuja criação será proposta pelo governo Macri nas próximas semanas. O objetivo é estabelecer um novo marco regulatório para reger todos os atores da comunicação, desde as telecomunicações (como as empresas de telefonia) e os meios audiovisuais (como a TV a cabo).
NULL
NULL
O Enacom “regulamentará as comunicações”, disse Peña, e será presidido por Miguel de Gogoy, antigo colaborador de Macri e ex-secretário de Meios da Prefeitura de Buenos Aires, que, de acordo com o jornal argentino La Nación, teve um papel central na recente intervenção na Afsca, determinada no dia 24 de dezembro e que afastou o então presidente do órgão, Martín Sabatella, cujo mandato deveria durar até 2017.
Agência Efe
Martín Sabatella, destituído do cargo de presidente da Afsca no dia 24 de dezembro
O novo órgão estará sob a alçada do ministro das Comunicações, Oscar Aguad, e terá sete membros, quatro postulados pelo Poder Executivo e três pelas principais forças políticas com representação no Congresso. Segundo o La Nación, além de Godoy, os outros nomes indicados pelo Executivo argentino para o Enacom são Mario Frigerio, engenheiro próximo ao ministro Aguad, Alejandro Peryrea, advogado especializado em radiodifusão, e Heber Martínez, ex-executivo da Telefe, empresa do grupo Telefónica.
O decreto de Macri também prevê a retirada de barreiras à indústria de comunicações “para que se possa modificar e melhorar a necessidade de investimentos e para que haja um contexto de competência no setor”, afirmou Peña. “Hoje termina a guerra do Estado contra o jornalismo, de um tempo de confrontos e brigas que foi inútil. Começa uma política pública de comunicação do século 21 para que todos tenham um serviço melhor, em direção à modernidade”, declarou.
“Guerra contra instituições”
Em entrevista ao jornal argentino Pagina/12, Martín Sabatella refutou a ideia de uma “guerra ao jornalismo” dos governos Kirchner, como afirmou Marcos Peña. “A única guerra é a guerra deles [governo Macri] contra as instituições da democracia, da liberdade e da pluralidade de ideias”, afirmou. Para o ex-titular da Afsca, a dissolução do órgão é “uma loucura” do atual governo, produto de uma investida contra “as instituições democráticas e a liberdade dos cidadãos, como nas piores épocas de nossa história”. “Macri ignora o Congresso e governa com decretos” porque “odeia a democracia”, acredita Sabatella.
Graciana Peñafort, advogada da Afsca, afirmou em entrevista à Radio Del Plata que a medida anunciada nesta quarta-feira é “inconstitucional”. “Este governo está governando sem a Justiça, sem o Congresso, sem a Constituição”, declarou. “Não é válido governar com DNUs [Decreto de Necessidade e Urgência]. É uma vergonha o que estão fazendo.”