Após serem identificados como “autores intelectuais” do desaparecimento dos 43 estudantes, ocorrido há mais de um mês, o ex-prefeito de Iguala José Luis Abarca e sua esposa, María de los Ángeles Pineda, foram detidos na madrugada desta terça-feira (04/11), informou a Polícia Federal do México.
De acordo com funcionários do gabinete de segurança nacional, o casal não ofereceu resistência à prisão. A detenção ocorreu às 2h30 de hoje na colônia Santa María Aztahuacán. Na sequência, eles foram transportados para a Subprocuradoria Especializada em Investigação de Crime Organizado.
Agência Efe
María de los Ángeles Pineda e José Luis Abarca são acusados de comandar cartel na região
“O trabalho coordenado do gabinete de segurança do governo de Enrique Peña Nieto permitiu deter o ex-prefeito e sua esposa”, afirmou o comissionado geral da Polícia Federal, Enrique Galindo Ceballos.
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Pais e familiares consideram que os depoimentos do casal podem ajudar a encontrar os jovens que desapareceram em 26 de setembro por ação das polícias municipais de Iguala e Cocula, em conjunto com integrantes do grupo Guerreros Unidos. “A prisão é importante, já que acreditamos que com isso será completo o quebra-cabeças”, afirmou Felipe de la Cruz, porta-voz dos pais dos alunos.
Na semana passada, o presidente Peña Nieto se reuniu por mais de cinco horas com os pais. Apesar do acordo de dez pontos assinado pelo mandatário, a avaliação dos pais é de que os compromissos não eram “suficientes”. Eles reiteram que os jovens devem ser encontrados com vida e que se tratou de um crime de Estado, já que as evidências iniciais apontam que o ex-prefeito de Iguala foi o mandante da ação.
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Relações com o crime
No fim de outubro, o procurador-geral do México, Jesús Murillo Karam, afirmou que Velázquez e María Villa eram os principais operadores do grupo narcotraficante Guerreros Unidos, também acusado do desaparecimento dos estudantes.
Sapdiel Gómez Gutiérrez
Imagens da manifestação realizada no dia 8 de outubro na Cidade do México pelos estudantes normalistas desaparecidos
O ex-prefeito financiava o grupo mediante um pagamento mensal entre 2 e 3 milhões de pesos mexicanos (entre R$ 367 mil e R$ 551 mil), segundo Karam. Pelo menos 600 mil pesos (R$ 111 mil) eram destinados ao pagamento de policiais de Iguala, município a 200 km da Cidade do México.
María de los Ángeles, parente de dois operadores do cartel, era a responsável pela distribuição do dinheiro e contava com a conivência do marido e do secretário de Segurança Pública, Felipe Flores Velázquez, como informou Karam. Todos receberam ordem de prisão.
Desaparecimento
De acordo com a promotoria, no dia 26 de setembro, às 18 horas, os estudantes partiram da escola onde estudavam em direção a Iguala a bordo de dois caminhões. Eles pretendiam coletar fundos para participar, em 2 de novembro, na Cidade do México, da marcha em memória do assassinato dos estudantes em Tlatelolco em 1968. A manifestação também lembraria dois companheiros assassinados pela polícia na estrada federal que vai até Acapulco, em dezembro de 2011, enquanto os alunos bloqueavam-na para exigir que as autoridades aumentassem os recursos destinados à ração alimentícia diária por estudante, que não chegava a 35 pesos [cerca de R$ 6] para três refeições.
Ao tomar conhecimento da chegada dos estudantes à cidade, o grupo narcotraficante considerou que a ação tinha como objetivo sabotar um evento promovido pela primeira-dama na cidade e, por isso, pediu apoio à polícia de Cocula, cidade vizinha. De acordo com o relato de Marco Antonio Ríos, integrante do Guerreros Unidos à promotoria, a ordem de enfrentar os estudantes veio do prefeito de Iguala.
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As polícias de Iguala e Cocula, então, bloquearam a estrada e evitaram que os ônibus seguissem e um dos jovens foi morto, fazendo com que alguns dos estudantes saíssem em fuga. Os policiais, então, começaram a perseguir o veículo. Em meio à confusão, no entanto, eles detiveram e alvejaram um terceiro ônibus, com membros da equipe de futebol Los Avispones de Chilpancigo.
Após perceberem o erro, libertaram os esportistas e foram atrás novamente dos estudantes. Quando os encontraram, levaram-nos para a central de polícia de Iguala. Na sequência, afirma o promotor, os jovens foram conduzidos por policiais de Cocula, que, por sua vez, os transportaram para Pueblo Viejo, onde os entregaram aos narcotraficantes do Guerreros Unidos na presença dos oficiais de Iguala.
O saldo foi seis mortos, 43 desaparecidos e dezenas de feridos.
Na região, foram encontradas valas comuns com corpos de 30 pessoas – mas, de acordo com exames de DNA, nenhum deles corresponde aos desaparecidos. Novos exames serão realizados.