Os governos de Mianmar e de Bangladesh assinaram um memorando de entendimento para o retorno de centenas de milhares de pessoas da minoria étnica rohingya que fugiram do território birmanês após intensa repressão das Forças Armadas, afirmou o Ministério do Exterior de Mianmar nesta quinta-feira (23/11).
“Estamos prontos para aceitá-los de volta tão logo seja possível, assim que Bangladesh nos enviar os formulários”, disse Myint Kyaing, secretário do Ministério do Trabalho, Imigração e População de Mianmar, à agência de notícias Reuters. Ele se referiu ao documento que os rohingyas devem preencher com seus dados pessoais antes de serem repatriados.
A crise em Mianmar começou em agosto, após o chamado Exército de Salvação Rohingya de Arakan (Arsa), que luta pela autonomia do grupo étnico, atacar diversos postos das forças de segurança de Mianmar e, segundo o governo, matar 12 pessoas. Em resposta, as forças de segurança de Mianmar lançaram uma repressão violenta no estado de Rakhine.
Segundo o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (Acnur), mais de 600 mil pessoas fugiram para Bangladesh, que já abrigava outras centenas de milhares de rohingya devido a outros episódios de violência das forças birmanesas, ocorridos em anos anteriores.
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Reuters/C.McNaughton
Mais de 600 mil rohingya fugiram para Bangladesh, que já abrigava outras centenas de milhares de membros da etnia
A ONU denunciou que as forças de segurança de Mianmar cometeram assassinatos, estupros e incendiaram aldeias inteiras durante a repressão em Rakhine. O governo afirmou ter reagido aos ataques de insurgentes, mas as Nações Unidas afirmaram que a resposta militar foi desproporcional.
“Excesso de intervenções externas”
O comissário para os direitos humanos da ONU, Zeid Ra'ad al-Hussein, chegou a classificar a incursão como “exemplo clássico de limpeza étnica”. Nesta quarta-feira, foi a vez de o secretário de Estado dos EUA, Rex Tillerson, afirmar que “está claro” que a violência e os abusos contra os integrantes da etnia rohingya no estado de Rakhine “constituem limpeza étnica”.
Porém, o embaixador da Rússia em Mianmar, Nikolay Listopadov, rebateu a acusações, alertando que “intervenções externas excessivas” no país asiático apenas contribuem para aumentar a pressão, sem resultados concretos.
Na semana passada, em visita oficial a Mianmar, Tillerson pedira ao governo da líder Aung San Suu Kyi que permitisse a realização de um inquérito imparcial para apurar as denúncias. O embaixador russo, porém, disse que tal investigação é “inaceitável”, “contraprodutiva” e que não iria funcionar. Moscou, segundo afirma, defende uma solução pelos “meios políticos” e o diálogo.
RC/rtr/dpa