As principais tendências islâmicas egípcias exibiram neste sábado (01/12) seu poder de convocação com uma grande concentração no centro do Cairo em apoio ao presidente do país, Mohamed Mursi, e à minuta da nova Constituição.
Simpatizantes da Irmandade Muçulmana e dos partidos salafistas lotaram a praça de Nahda e ruas próximas para mostrar solidariedade a Mursi e suas últimas medidas, entre elas o decreto que blinda suas decisões à ação da justiça, o que na prática lhe confere plenos poderes.
Os manifestantes levaram bandeiras do Egito e pediam a unidade do país, muito dividido após o decreto emitido por Mursi no dia 22 de novembro pelo qual blindou seus poderes, os da Assembleia Constituinte e os da câmara alta do Parlamento perante a Justiça.
Uma maré de homens com barba e “galabiyas” (túnicas) e de mulheres com véu marcharam misturados neste protesto realizado em um ambiente festivo.
“Todos elegemos o Egito”, “A declaração constitucional é para cumprir as reivindicações da revolução” e “Sim à declaração para golpear a corrupção” eram as mensagens que podiam ser lidas em alguns cartazes.
Para a estudante Yunna Esam, que foi à concentração acompanhada por amigas, a decisão do presidente era necessária para não paralisar o trabalho da Assembleia Constituinte.
“Precisamos de estabilidade no país, e o presidente disse que assim que houver uma nova Constituição, todas as decisões anteriores serão invalidadas, e depois haverá eleições parlamentares”, lembrou a jovem, militante do braço político da Irmandade Muçulmana, o PLJ (Partido Liberdade e Justiça).
Em sua opinião, a declaração constitucional de Mursi “não é ditatorial porque o presidente explicou que são decisões revolucionárias”.
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Enquanto a manifestação acontecia em frente à Universidade do Cairo, o acampamento dos opositores de Mursi continuava de pé na emblemática praça Tahrir, aonde na sexta-feira (30q11) foram dezenas de milhares de pessoas para rejeitar as medidas adotadas pelo chefe de Estado e a minuta constitucional.
Os islâmicos encararam como desafio superar hoje o número de manifestantes opositores, que foram convocados por grupos laicos e revolucionários.
Na sexta-feira (30/11), a Assembleia Constituinte, dominada pelos islâmicos, deu sinal verde à minuta da nova Carta Magna, apesar do boicote de grupos laicos que se queixavam do predomínio da Irmandade Muçulmana e dos salafistas neste órgão.
Entre os manifestantes estava um coronel da reserva, Saleh Igazi, que atirou seu sapato (uma forma de expressar repulsa no mundo árabe) em um cartaz com os rostos dos dirigentes opositores Mohamed el Baradei, Hamdin Sabahi e Amir Mussa.
“Os partidos da oposição querem destruir nosso país e nossa unidade”, disse Igazi à Agência Efe, garantindo ser apartidário.
Segundo Igazi, a nova Carta Magna é “moderada”. “Passei toda a noite vendo televisão e ouvindo cada um de seus artigos e (a Constituição) é muito boa. Se souber de algo melhor, me diga e podemos debater”, sugeriu.
Apesar de o protesto ter transcorrido de forma pacífica, pelo menos um manifestante morreu e 24 ficaram feridos devido à queda de uma árvore em cujos galhos vários deles haviam subido nas imediações da praça de Nahda, informaram fontes de segurança.
Espera-se que hoje o presidente da Assembleia Constituinte, Hosam al Gariani, entregue a minuta da Constituição a Mursi, que terá que convocar um referendo sobre o texto.
O Tribunal Constitucional deve se pronunciar amanhã sobre a validade da Assembleia Constituinte, apesar de esta última contar com imunidade desde o decreto de Mursi, que provocou uma greve indefinida dos juízes.
Fontes judiciais não descartaram, em declarações, que a corte possa se declarar incompetente para examinar a questão.