O procurador-geral da Bolívia, Juan Lanchipa, informou nesta quarta-feira (19/01) que será iniciada uma investigação das supostas viagens da então autoproclamada presidente boliviana Jeanine Áñez ao Brasil em 2019.
“O Ministério Público vai realizar a investigação sobre os voos feitos para o Equador, Argentina e Brasil. Essas viagens não estão contempladas no sistema legal. Sem a respectiva autorização, vão ser objeto de investigação”, disse o funcionário.
Lanchipa explicou que o Ministério Público aguarda o recebimento da documentação com informações sobre os voos para iniciar uma investigação formal. Também afirmou que a primeira instância que receberá informações sobre o caso será a Direção Geral da Aeronáutica Civil (DGAC). As movimentações irregulares da ex-autoproclamada presidente são contempladas nesses inquéritos.
De acordo com uma investigação do jornal argentino Página 12, o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, revelou em um comentário que havia realizado uma reunião com Áñez, que tomou o poder em novembro de 2019 após um golpe de Estado que culminou na renúncia de Evo Morales.
“A ex-presidente da Bolívia, Jeanine […] estive com ela uma vez, é uma pessoa simpática que está presa”, foram as palavras de Bolsonaro, cuja data ou local do pronunciamento não foi especificado, de acordo com o periódico.
Segundo a mídia argentina, alguns canais de Bolsonaro no YouTube aparentemente retiraram do ar as falas. Até agora, nenhuma reunião oficial entre o presidente brasileiro e Áñez é conhecida. Como não há registro de um encontro, a suspeita é que a conversa tenha ocorrido de forma sigilosa.
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Sem registro de encontros oficiais, reunião de Jeanine Áñez com Jair Bolsonaro indica existência de viagens não registradas
Tal afirmação da declaração confirma indicações de viagens não registradas do avião presidencial boliviano ao território brasileiro em 2019.
Áñez foi presa em março de 2021 acusada de “terrorismo, sedição e conspiração”, no chamado processo Golpe de Estado, e está detida preventivamente na prisão de Miraflores, em La Paz.
Morales acusa Bolsonaro de apoiar governo golpista da Bolívia
Ainda nesta quarta, o ex-presidente boliviano acusou o governo do Brasil de participar do golpe de Estado na Bolívia em 2019 contra ele.
A acusação ocorre após a publicação do jornal Página 12 informar sobre a suposta reunião entre Bolsonaro e Áñez. Morales exigiu uma “profunda investigação deste atentado criminoso contra a democracia e a paz na América Latina”.
“Está na hora de pôr um fim a golpes militares, congressionais, judiciais e inconstitucionais patrocinados pelos EUA para subjugar os povos e saquear os recursos naturais”, disse.
Para ele, o possível conluio faz parte de um “Plano Condor [campanha de repressão política e terror de Estado de 1975 organizada pelos EUA e executada por ditaduras da direita na América do Sul] do séc. XXI”.
“Por admissão de um presidente da extrema-direita, é comprovado que os governos de Brasil, Equador e Argentina, que estavam submetidos aos EUA, conspiraram e colaboraram com o golpe de Estado na Bolívia, que resultou em perseguição, massacres e corrupção”, declarou Morales.
O presidente brasileiro, que está em viagem oficial ao Suriname e à Guiana a partir desta quinta-feira (20/01), não se pronunciou a respeito.
(*) Com Telesur e Sputnik.