O presidente da Bolívia, Evo Morales, disse hoje (31), em entrevista publicada no jornal chileno La Tercera, que a decisão do Peru de recorrer ao Tribunal Internacional de Justiça, em Haia, para pedir a redefinição de seus limites marítimos com o Chile, tem como objetivo acabar com a tentativa boliviana de recuperar uma saída para o Oceano Pacífico. Morales afirmou também ter informações de que o “Peru sabe que perderá a causa”.
“Se existisse um problema entre Peru e Chile relacionado aos limites, a forma de resolvê-lo seria o diálogo. Mas, para nos prejudicar, fazem uma demanda, para que a Bolívia não tenha saída para o mar”, argumentou Morales. “No fundo, é isso, e também tenho a informação de que o governo peruano sabe que vai perder a demanda. Eles sabem disso: fizeram a demanda para prejudicar a Bolívia”, complementou.
Morales indicou também que o presidente peruano, Alan García, estaria fazendo uso político da questão. “Sua imagem estava tão desgastada que ele propôs isso para se levantar politicamente. Isto não é dito, mas eu digo: a demanda em Haia serve para melhorar a imagem do presidente e prejudicar a Bolívia”, enfatizou.
Bolívia e Peru atravessam um delicado momento diplomático. Além da disputa geográfica, Morales ficou descontente com a decisão de Lima de conceder asilo político a três ex-ministros bolivianos acusados de crime de lesa-humanidade, que estão sendo processados na Bolívia.
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Questionado sobre o relacionamento com o país vizinho, Morales, que chegou a cogitar o rompimento dos vínculos diplomáticos, disse que o verdadeiro problema é com o presidente Alan García. “O meu problema não é com o Peru, mas com seu governo, com seu presidente”, ponderou.
Ele reiterou que, por outro lado, tem boas relações com movimentos sociais e indígenas, além de outros políticos peruanos. “Alan García sabe disso”, prosseguiu. “É uma aberta provocação. Ele talvez queira se vingar por causa de nossas diferenças ideológicas e políticas.”
No Chile, o vice-presidente da República e ministro do Interior, Edmundo Pérez, não quis comentar a entrevista. “Não vou opinar. Este é um tema entre Peru e Bolívia, e eu não quero qualificar de nenhuma forma as intenções do presidente Morales”, disse Pérez, que já foi cônsul do Chile na Bolívia.
A Bolívia perdeu sua saída para o mar após um confronto com o Chile travado entre 1879 e 1883. O Peru apresentou recentemente um relatório em Haia para pedir a redefinição dos limites marítimos. O Chile alega que a atual configuração foi definida por acordos firmados na década de 1950.
Provocação peruana
O chanceler peruano, José García Belaúnde, afirmou ontem (30) que o presidente Evo Morales está “um pouco passado” de época ao convocar uma “segunda e definitiva independência” dos povos indígenas americanos.
García Belaúnde comentou, segundo a agência oficial de notícias Andina, que não sabe “quem deu” o mandato a Morales para que ele se considere o representante de todos os indígenas do continente.
Morales enviou na sexta-feira um comunicado aos organizadores da 4ª Cúpula Continental de Povos Indígenas, realizada na cidade peruana de Puno, em que defendeu a luta pela terra e “a vida própria” para os nativos.
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