Após cinco anos sem se reunirem, Cuba aceitou a proposta dos Estados Unidos de conversar sobre assuntos migratórios, confirmou hoje (31) um porta-voz do Departamento de Estado norte-americano.
“Eles aceitaram se reunir conosco e nós obviamente estamos contentes. Esperamos que as conversas sejam produtivas”, disse o diplomata ao Opera Mundi.
Os dois países, politicamente opostos, se reuniam regularmente até o segundo ano da administração de George W. Bush, quando Havana decidiu se levantar da mesa e acusou Washington de reforçar sua agressividade contra a ilha.
Ontem à noite, o chefe da missão diplomática cubana em Washington, o ex-embaixador no Brasil, Jorge Bolaños, comunicou oficialmente ao Departamento de Estado que seu governo aceitava a proposta norte- americana lançada na semana passada.
Segundo um funcionário superior do Departamento de Estado, que acompanha a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton, em viagem na América Central, os Estados Unidos interpretaram o gesto cubano como um “aquecimento” pela parte cubana em resposta aos chamados do presidente Barack Obama de melhorar as relações bilaterais.
“É um gesto positivo e esperamos que seja entendido na região de uma forma positiva”, indicou o funcionário, que não pode ser identificado aos jornalistas que acompanham Hillary.
Cronologia
Obama anunciou há dois meses o levantamento de todas as restrições no envio de dinheiro e viagens impostas aos cubano-americanos pela administração Bush.
Na ocasião, Obama disse que esperava uma reação cubana, mas os dirigentes da ilha descartaram imediatamente um reatamento político e diplomático sem que antes Washington acabe com o embargo econômico, que já dura 48 anos.
O sinal verde cubano se deu a poucas horas do início da viagem de Hillary à Guatemala e Honduras, para participar da reunião anual da OEA (Organização de Estados Americanos) que se realiza este ano com a proposta do regresso do governo cubano à instituição regional.
Hoje a secretária de Estado desembarcou em El Salvador, onde participará da cerimônia de posse de Mauricio Funes, presidente eleito em março deste ano.
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“Bom primeiro passo”
Além de aceitar conversar sobre temas migratórios, Havana propôs que se incluam temas como a luta anti-terrorista, os esforços conjuntos contra o narcotráfico e o restabelecimento do serviço de correio entre os dois países.
“Isto é muito bom, pode ser o começo de algo ainda maior. É um bom primeiro passo, temos bons antecedentes neste tipo de discussões”, comentou ao Opera Mundi Phil Peters, vice-presidente do Lexington Institute, um centro de análise conservador que tem uma amplo programa de estudos cubanos.
Peters não pensa, todavia, que as conversas conduzirão ao fim da chamada “ata de ajuste cubano”, um polêmico mecanismo legal que permite que ao fim de um ano de permanência nos Estados Unidos, os cubanos recebam automaticamente a residência.
Cuba sempre se opôs a este mecanismo, assim como à chamada política de “pés secos-pés molhados”, que devolve à ilha todo cubano apanhado em mar alto, mas deixa ficar nos Estados Unidos aqueles que conseguem pisar em terra firme.
“O que penso é que os Estados Unidos vão levantar a questão daqueles cubanos que já receberam um visto de entrada aqui mas que estão tendo a saída do país negada”, disse Peters. A maioria dos cubanos afetados por esta decisão são médicos, professores, militares ou dissidentes.
Peters pensa que se existe vontade para continuar estes encontros, “vai chegar um momento em que os temas se esgotam porque se solucionam, e então vamos avançar para coisas mais complicadas, presos, comunicações, coisas assim”.
Quando levantou as restrições aos cubano-americanos, Obama também autorizou as empresas de telecomunicações a fazer negócios com Cuba e a instalação de uma cabo de fibra ótica entre os dois países, para acabar com a dependência cubana dos satélites para acessar a internet.
Comunidade
Não houve uma reação imediata à resposta cubana dentro da comunidade exilada, mas quando Washington propôs as conversas, a maioria da extrema direita conservadora se opôs.
Na ocasião, os deputados federais cubano-americanos, os irmãos Mário e Lincoln Diaz-Balart e Ileana Rós-Lehtinen, emitiram um comunicado no qual acusaram Obama de fazer uma concessão “unilateral” ao governo da ilha.
“O regime continua a violar o acordo migratório [assinado em 1994] ao negar todos os anos centenas de vistos de saída a cidadãos cubanos que receberam vistos para entrar nos Estados Unidos. Em primeiro lugar, o governo de Obama deveria insistir que a ditadura de Castro cumpra o acordo antes de começar toda conversa bilateral. Lamentavelmente, isto
é outra concessão unilateral do governo de Obama”, afirma o comunicado.
Vaticano
Por outro lado, Obama anunciou esta semana que pretende enviar como embaixador para o Vaticano o teólogo e professor universitário especialista em assuntos do catolicismo, Miguel Díaz.
Díaz nasceu em Havana e é o primeiro embaixador de origem cubana que Obama nomeia. Ele foi seu assessor religioso durante a campanha presidencial e é estudioso do teólogo Karl Rahner, considerado uma das maiores influências no pensamento do papa Bento 16.
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