O historiador, dramaturgo e ativista social norte-americano Howard Zinn morreu ontem (27) de ataque cardíaco, aos 87 anos. O autor do best-seller História do Povo Americano, que vendeu mais de um milhão de exemplares somente nos Estados Unidos, escreveu por volta de 20 livros. Seus textos foram transformados em peças encenadas em teatros de todo o mundo.
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Zinn em foto de novembro de 2007: “Obama será um presidente medíocre”
O maior sucesso bibliográfico de Zinn, publicado em 1980, relata a história dos EUA, desde 1492, do ponto de vista das “mulheres americanas, dos trabalhadores fabris, dos afro-americanos, dos americanos nativos, dos trabalhadores pobres, dos imigrantes”.
Numa entrevista concedida em 1998 para a Associated Press, Zinn afirmou que não queria escrever uma história objetiva ou uma história completa. Ele considerou o livro uma resposta aos trabalhos tradicionais; o primeiro capítulo, não o último, de um novo tipo de história. “Não existe isso de história completa. Toda história é incompleta”, disse Zinn. “A minha ideia era que o ponto de vista ortodoxo já tinha sido apresentado milhares de vezes”.
O professor emérito da Universidade de Boston inspirou gerações de jovens ativistas e acadêmicos. “Desde o começo, meu modo de lecionar sempre foi influenciado pela minha própria história. Eu aceitava ouvir outros pontos de vista, mas eu queria mais do que objetividade. Eu queria que os estudantes deixassem a sala de aula não só bem informados, mas melhor preparados para abandonar o conforto do silêncio, para se posicionar, para agir contra a injustiça onde quer que ela estivesse. Isso, claro, era uma receita para ter problemas”.
Trajetória
Nascido em Nova York em 1922, Zinn era filho de imigrantes judeus. Aos 17 anos participou de uma manifestação política convocada por comunistas, que foi violentamente reprimida. “De repente, escutei sirenes e quando olhei em volta, policiais a cavalo avançaram sobre a multidão e começaram a bater nas pessoas”, afirmou na entrevista à agencia Associated Press. “Eu não podia acreditar no que via. Então fui atingido e fiquei inconsciente. Acordei pouco tempo depois na calçada, com a Times Square silenciosa, como num sonho, como se nada tivesse acontecido. Eu fiquei absolutamente indignado”.
Zinn lutou na Segunda Guerra Mundial, servindo na força aérea. Ganhou uma medalha, mas quando voltou, embrulhou-a e escreveu no papel: “Nunca mais”.
Em seguida, se tornou PhD em História pela Universidade de Columbia e começou a se engajar em movimentos pelos direitos civis, ao lado de ativistas como Alice Walker e Marian Wright Edelman.
Em 1963 foi demitido da universidade por “insubordinação” – Zinn criticava a instituição por não se engajar em movimentos pelas liberdades civis. Seus anos em Boston foram marcados pela oposição à Guerra do Vietnã.
Zinn recebeu em 2010 o prêmio Martin Luther King, Jr da Universidade de Nova York, por personificar “uma visão de paz, persistência e ação”.
Obama
Sua última publicação foi um artigo escrito para a revista The Nation, em que avaliou o primeiro ano da administração de Barack Obama. “Busquei intensamente por um ponto alto no governo dele até agora, mas não achei”, confessando que desde a eleição não esperava muito de Obama.
“Acho que as pessoas estão enfeitiçadas pela retórica de Obama, e precisam entender que ele será um presidente medíocre – o que significa, no atual momento, um presidente perigoso. A menos que algum movimento nacional o empurre na direção correta”.
*Com informações de jornais estrangeiros e do site pessoal do historiador
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