A morte do historiador Eric Hobsbawm, aos 95 anos, ocorrida na manhã desta segunda-feira (01/08) e anunciada por sua família, repercutiu com destaque na imprensa mundial. Enquanto todos os grandes jornais anunciaram sua morte em manchetes, outros publicaram artigos e obituários enfatizando o legado do historiador.
O jornal britânico Guardian publicou um obituário afirmando que, caso Hobsbawm tivesse morrido há 25 anos, teria sido apontado “apenas” como o mais conhecido historiador marxista da história. No entanto, sublinha que ele se tornou, nos último anos, o “historiador britânico mais respeitado entre todos, reconhecido, embora nem sempre apoiado tanto pela direita quanto pela esquerda”. O jornal também destacou o vigor de sua última obra, “Como mudar o mundo: contos de Marx e o marxismo: 1840-2011”, em que defendeu a relevância e a atualidade do legado do economista alemão, principalmente após a crise mundial iniciada em 2008.
Reprodução
Já o conservador The Times não foi tão condescendente com sua biografia, anunciando seu falecimento em um setor de seu site com pouco destaque e o classificando apenas como “estrela intelectual da esquerda”. “Eric Hobsbawm, o historiador e “irredutível comunista”, que viveu para ver suas crenças serem testadas até a destruição, morreu aos 95 anos”, escreveu o jornal.
O espanhol El País demonstrou mais respeito, o classificando “como pensador-chave da história do século XX” e dedicou a ele um obituário. No entanto, afirmou que, “apesar de nunca ter renegado sua ideologia marxista, seu intelecto e capacidade para analisar até o mínimo detalhe e ao mesmo tempo sua facilidade para sintetizar a história o garantiram admiração tanto entre a esquerda quanto à direita política, especialmente nos últimos anos de sua vida”.
Recentemente, em entrevista à rede britânica BBC publicada em 31 de dezembro de 2011 e republicada hoje, ele havia comparado as insurreições da Primavera Árabe às revoluções que explodiram na Europa em 1848, retratados em sua obra “A Era das Revoluções”. “Me lembra 1848, outra revolução impulsionada de forma autônoma, que começou em um país (França) e depois se estendeu por todo um continente em pouco tempo (Alemanha, Itália e o Império Austríaco)”.
NULL
NULL
Ele lembrou que, na época, apesar de os primeiros anos terem indicado que as revoltas culminariam em um fracasso, houve uma série de avanços liberais. “De modo que foi um fracasso imediato, mas um êxito parcial no médio prazo, ainda que não tenha sido na forma de revolução”, apontou.
A rede estatal britânica afirma que “a vida do historiador e seus trabalhos foram moldados dentro de um compromisso duradouro com o socialismo ‘radical’”.
Reprodução
Também lembra de uma conversa com seu colega Simon Schama em abril deste ano, em que ele disse que gostaria de ser lembrado como “alguém que não apenas manteve a bandeira tremulando, mas quem mostrou que, ao balançá-la, pode alcançar alguma coisa, ao menos por meio de bons livros”.
O jornal espanhol El Mundo também noticiou a morte do historiador com grande destaque, publicando uma entrevista feita com ele e publicada no dia 15 de março de 2007. Hobsbawn, próximo dos 90 anos na época e brincava, dizendo que a idade o forçaria a “diminuir suas ambições” em relação à participação em novos projetos.
Também voltou a fazer duras críticas ao filósofo norte-americano Yoshihiro Francis Fukuyama e sua obra “O fim da História e o último homem”. “Não há qualquer razão para acreditar que o capitalismo liberal do tipo norte-atlântico que triunfou no final do século passado seja a base duradoura das operações mundiais no futuro”. Na entrevista, também explica as razões por se manter fiel aos ideais comunistas “Não sou a única pessoa do mundo que se manteve à causa da emancipação da humanidade por quase toda a vida”.
Ao contrário, no mesmo ano, em outra entrevista ao Libération, também republicada nesta segunda-feira (01) pelo site jornal francês, Hobsbawm fala do nascimento de uma nova história. Segundo ele, a efervescência histórica atual se dá pela aceleração das mudanças sociais e econômicas, como já havia explicado em sua autobiografia “Franco-atirador”, de 2005.