A visão humanística que o fotógrafo José Medeiros introduziu no fotojornalismo do Brasil a partir da década de 40 chegaram nesta quinta-feira (18/01) em Portugal, graças à exposição Crônicas do Brasil.
Algumas das mais destacadas reportagens realizadas por Medeiros, morto em 1990, para a revista O Cruzeiro, fazem parte da mostra, que inclui fotos suas dos índios da região do Xingu, seu famoso trabalho sobre o candomblé, realizado em 1951, e também imagens das áreas mais pobres do Brasil. A exposição ficará aberta até o dia 4 de abril.
“Esses trabalhos mostram as raízes brasileiras, além das raízes do Nordeste, uma região historicamente mais carente. Com elas Medeiros introduziu a sensibilidade e uma postura mais humanista no fotojornalismo”, disse Sergio Burgi, curador da exposição ao lado de Elise Jasmin.
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Estas fotos contrastam com “seu olhar mais crítico em direção à sociedade urbana e à elite” da cidade do Rio, que também retratou para a revista “Cruzeiro”.
Os trabalhos de Medeiros serão expostos em outra mostra em Portugal, chamada Brasil era uma festa. A dobradinha sobre o fotógrafo faz parte do programa do Ano do Brasil em Portugal.
“Sempre que pôde, ele mesmo introduziu pautas na revista. E o universo aqui representado é sempre afetivo, de empatia com quem se relaciona através da fotografia”, declarou Burgi.
Algumas das imagens correspondem aos primeiros contatos dos indígenas com a fotografia, o que reforça o aspecto documentário de sua obra, uma das chaves da renovação de sua linguagem.
Da revista O Cruzeiro, Medeiros se transferiu, ao lado do também fotógrafo da revista Luiz Carlos Barreto, para o cinema. Os dois participaram do movimento do Cinema Novo e Medeiros, que se tornou diretor de fotografia, manteve sua objetividade humanística e o uso privilegiado da luz natural.
Medeiros trabalhou em obras como A Falecida, de Leon Hirszman, Memórias do Cárcere, de Nelson Pereira dos Santos, e Xica da Silva, dirigida por Cacá Diegues.
A obra de Medeiros foi posteriormente uma referência para fotojornalistas como Evandro Teixeira e Walter Firmo, também influenciados pela revista O Cruzeiro.
“Foi uma revista de grandes recursos e repercussão, com reportagens que não seriam admitidas por outras”, conta Burgi sobre a publicação, que chegou a vender 750 mil exemplares por semana nos anos 50.