Assim como diversas localidades brasileiras, algumas cidades no exterior tiveram protestos contra o governo da presidente Dilma Rousseff neste domingo (15/03), como foi o caso de Lisboa (Portugal) e Nova York (Estados Unidos). Na cidade norte-americana, a manifestação, que começou tímida, terminou com uma ex-petista, contrária à derrubada da mandatária, hostilizada e expulsa do local pelos manifestantes. Na capital lisboeta, com camisas amarelas, bandeiras do Brasil e duas panelas, os manifestantes cantaram o hino brasileiro e gritaram “xô corrupção!” e “Fora PT!”.
Também foram registrados atos em Sidney (Austrália) e Londres (Reino Unido).
Guilherme Balza
Manifestação em Nova York reuniu dezenas de pessoas
Em Nova York, o protesto organizado pelas redes sociais começou por volta de 11h na Union Square, em Manhattan, único espaço da cidade onde é permitido protestar sem autorização da polícia. Um grupo de no máximo cem manifestantes portava cartazes que pediam desde a saída da presidente eleita até a privatização da Petrobras, passando por críticas ao Foro de São Paulo.
O grupo dirigia-se para as câmeras de televisão com gritos de “fora PT” e fizeram um minuto de silêncio. “Pela morte da Dilma!”, como gritou um dos presentes. “Aí a gente não faria um minuto de silêncio. Iria comemorar”, respondeu outra, provocando risos e euforia. Os manifestantes também cantaram o hino nacional e o clássico “sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor”.
Guilherme Balza
Protesto em Nova York
O agente de turismo Jaime Pereira Dyman, 54, era o mestre de cerimônias. “Alguém tem que liderar o grupo para ter um só objetivo”, disse. Ele puxava os gritos e o foco da imprensa. “Eu quero que a gente tenha no Brasil tudo o que a gente tem na América, neste país maravilhoso”, afirmou, referindo-se aos Estados Unidos. “Por muito menos, o Getúlio se suicidou”
Para o agente de turismo, é necessário uma intervenção militar para que a presidente seja destituída, e o Congresso e o STF (Supremo Tribunal Federal), dissolvidos. “Hoje é diferente de 40 anos atrás. Os militares ficariam um tempo até o país se organizar, até escolher a pessoa certa para presidir o Brasil. Tem que dissolver tudo.”
Dyman, que deixou o Brasil em 1995, depois de ver suas duas empresas de contabilidade quebrarem pelas dificuldades econômicas daquele momento, não acredita que o impeachment de Dilma seja um golpe à democracia porque as eleições, sustenta ele, foram fraudadas pelo PT. “Essas urnas eletrônicas não são confiáveis. O PT não só roubou as eleições, como fraudou todo o Brasil.”
Vídeo mostra enfermeira sendo hostilizada
O clima de festa acabou depois que a enfermeira e professora universitária Miriam Marques, 52, questionou o clamor pelo impeachment. “Pode protestar, pode reclamar aqui, mas não tem que pedir o impeachment da Dilma. Golpe, não. Eleição é coisa séria.”
Em seguida, assim que Miriam passou a dar entrevistas a jornalistas, os presentes se dirigiram a ela e passaram a hostilizá-la. “Vai pra Cuba!”, “Corrupta!”, foram algumas das ofensas. Um homem chegou a dar um tapa na nuca de Miriam enquanto dizia que ela estava ali por ser beneficiária de políticas do governo. “Olha só a carinha dela de que ganha Bolsa Família.”
NULL
NULL
Alguns dos manifestantes tentaram evitar que Miriam fosse hostilizada, mas ela acabou tendo que se retirar da praça. “Estava num 'giro' de umbanda, que sempre faço aos domingos, e acabei passando por aqui. Nem sabia que estava tendo protesto. Achava que era no Central Park”, disse a enfermeira, que chegou a ser filiada ao PT, mas deixou o partido em 2004, e mora nos EUA desde 2000.
Protesto em Nova York:
“Esse pessoal está enganado. Eles são da turma do ódio ao PT. É gente que não sabe história. O povo acha tudo lindo nos EUA, as compras, os shoppings, mas ninguém acha lindo a democracia daqui, onde se respeita as eleições.” A enfermeira saiu do partido frustrada com os rumos da sigla e com as denúncias de corrupção. Para a enfermeira, a “corrupção está em todos os partidos”, e não só no PT.
Lisboa
Na quarta maior zona eleitoral brasileira no exterior e maior da Europa, dezenas de brasileiros se reuniram na praça Luís de Camões, no Chiado, em frente ao Consulado Geral do Brasil em Lisboa para protestar “contra o governo e a corrupção”. Na eleição realizada em 2014, Aécio Neves venceu com 65,17% dos votos válidos, contra 34,5% de Dilma.
Há dois meses na cidade, o engenheiro carioca Caio Pinhão, de 30 anos, levou o filho Cauã, 4, para protestar com uma panela, “inspirado no panelaço argentino”. Pinhão explica que migrou por causa da decepção como o Brasil está sendo conduzido. “Acho saudável a alternância de poder, pois o país parou. Não vejo nada de positivo no governo Dilma, o que fez de bom – como a inclusão social no Nordeste – foi preparado nos governos anteriores”, analisa.
Marcelo Montanini/Opera Mundi
Ato foi realizado na praça Luís de Camões, no Chiado, um importante ponto turístico de Portugal
No país desde o governo Collor (1990-1992), há 25 anos, a consultora imobiliária recifense Adua Reis, 54, reclama da corrupção no Brasil. “Precisamos mudar para o Brasil não se tornar uma Venezuela. Não queremos o Brasil uma ditadura de esquerda”, declara.
Mestrando em Direito, o estudante curitibano Renan Wozniack, 30, diz estar descrente com o sistema judiciário brasileiro. Segundo ele, há um ativismo político camuflado pró-PT no alto escalão judiciário do Brasil e observa o impeachment como uma solução. “[Michel] Temer [vice-presidente/PMDB] seria menos pior. Com o impeachment, fica a lição de que o povo não engole tudo”, pondera.
Marcelo Montanini/Opera Mundi
Grupo protesta com bandeiras e iphones
De passagem pelo Largo de Camões, a servidora pública federal cearense Vera Lúcia Pedrosa, 52, ironizou o ato: “O candidato de oposição não se conforma que perdeu a eleição e quer levar no tapetão.” Segundo Vera, a burguesia não aceita que os pobres ascendam e que eles percam os privilégios. “Eles querem manter a casa grande e senzala”, critica.