Mais de 15 mil chilenos marcharam em Santiago
contra o projeto HidroAysén, que prevê a construção de cinco represas na
Patagônia chilena. O ato, que estava previsto para sexta-feira (27/05),
foi realizado neste sábado (28/05) e, ao contrário do que aconteceu em
manifestações anteriores, não houve registro de confronto com a
Polícia, de acordo com a imprensa local.
Os protestos mostram que o Chile é a expressão mais evidente do nó
energético sul-americano e colocam de forma dramática o debate entre
preservação ambiental e geração de energia.
Ainda se recuperando de um terremoto devastador que há pouco mais de um ano fez o PIB (Produto Interno Bruto) do Chile encolher 11% do dia para a
noite , o presidente Sebastián Piñera decidiu pôr força total na
aprovação do projeto de instalação de uma grande usina hidrelétrica na
Região de Aysén, no sul do país, numa das zonas mais belas e preservadas
da Patagônia. A iniciativa provocou reação imediata dos movimentos de
preservação ambiental chilenos e internacionais e fez com que,
rapidamente, gigantescos protestos se espalhassem pelo país.
Efe (21/05/2011)
Manifestantes protestam contra o megaprojeto hidroelétrico de Hidroaysén, em Valparaíso
Violentos choques foram registrados no
último domingo (22/05), quando Piñera entregou ao Congresso, em
Valparaíso, a prestação anual de contas do seu governo. Jovens
encapuzados e membros da tropa de choque se encontraram nas estreitas
ruas da cidade portuária sob uma chuva de pedras e bombas de gás
lacrimogêneo. Dentro do Congresso, 16 pessoas foram detidas por
interromper o discurso presidencial gritando slogans contra Hidroaysén.
A continuidade do crescimento da economia
chilena – que em 2010 foi de mais de 5% em comparação com o ano anterior
– é ameaçada pela iminência de um apagão no setor produtivo, de acordo
com alertas feitos pelo governo Piñera. O país produz hoje menos de 10%
do petróleo que consome e está precariamente apoiado numa matriz
energética altamente poluente, como são o carvão e demais combustíveis
fósseis.
Para piorar, o Chile mantém tensa relação com a Bolívia – que é o principal produtor regional de gás natural – graças a uma
disputa territorial centenária que também envolve o Peru.A mistura de um
alto padrão de consumo – principalmente pelas indústrias mineradoras do
norte do país e do setor doméstico, durante o rigoroso inverno do sul –
aliado à relação com a Bolívia e a escassa produção de energia própria
deixaram o Chile numa encruzilhada de más opções.
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Fontes alternativas
“Já passou da hora de apostarmos em fontes
de energia renovável não convencionais. Só no movimento das marés temos o
potencial de gerar 11 mil MW, o que duplicaria o potencial hoje
instalado. Há a inda a energia dos ventos, do sol e de represas menos
nocivas para o meio ambiente”, disse ao Opera Mundi o principal líder das manifestações, Luiz Mariano Rendón, da Acción Ecologica, de Santiago.
Para ele, “o Estado não pensa a questão
energética de forma estrutural, apenas delega isso aos interesses
circunstanciais de empresas privadas que pensam exclusivamente em suas
próprias conveniências econômicas”. Rendón diz ainda que há uma
distorção provocada pelos meios de comunicação a respeito das
manifestações. “Levamos 50 mil pessoas às ruas, nas maiores
manifestações populares em décadas, e os jornais só conseguem falar dos
distúrbios provocados por grupos menores, de 300 pessoas. Somos contra a
violência. O debate deve ser sobre a questão estrutural da energia, não
sobre ocorrências policiais.”
Comparativamente, Hidroaysén geraria quase
cinco vezes menos energia que o projeto brasileiro de Belo Monte. O
número de beneficiários seria mais de dez vezes menor, assim como a área
inundada. Apesar disso, Hidroaysén seria apenas 25% mais barata que o
projeto brasileiro. Da mesma forma que acontece no Brasil, a barragem
chilena é considerada de alto impacto ambiental e impulsiona, de acordo
com os ambientalistas, uma aposta errada num modelo antigo de geração de
energia.
Outro problema é a concentração econômica. O
consórcio que administra o sistema dominará 80% do mercado, caso o
projeto siga adiante. Apesar do rechaço de 74% dos chilenos, Hidroaysén
foi aprovado por ampla maioria dos parlamentares e uma reviravolta no
caso só seria possível com maior pressão popular, acreditam os
ecologistas.
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