Sami Reininger
Em algumas das 1.518 páginas do manifesto que escreveu antes de realizar o duplo atentado que causou a morte de 77 pessoas em 22 de julho na Noruega, Anders Behring Breivik tenta, de certa forma, mostrar que é um cidadão comum. A despeito dos atentados que cometeu, o norueguês reserva as últimas páginas do documento 2083: Uma declaração Europeia de Independência para o que parece ser uma entrevista consigo mesmo.
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Entre as perguntas e respostas, que ocupam mais de 20 páginas, o autor dos atentados revela seus interesses pessoais, seus hobbies e dá detalhes de sua vida social. Além disso, conta como foi sua infância, incluindo sua relação com os pais e os irmãos.
“Meu pai, Jens Breivik, tinha três filhos de um casamento anterior, enquanto a minha mãe, Wenche Behring, tinha uma filha de um relacionamento passado. Eles se divorciaram quando eu tinha um ano de idade”, afirma Breivik em uma das respostas. Os pais do norueguês casara m-se posteriormente e Jens foi para França com a nova esposa. Em outra resposta, Breivik descreve a esposa de seu pai como uma mulher “marxista e feminista moderada”.
Wikimedia Commons
Foto do centro de Oslo instantes após a explosão feita por Breivik
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Jens ainda tentou obter sua custódia, mas não conseguiu. O pai e a madrasta separaram-se quando Breivik tinha 12 anos e, segundo ele, após os 15 viu seu pai se afastar e nunca mais teve contato com Jens. “Eu não carrego nenhum rancor”, afirmou Breivik. “Tentei entrar em contato com ele há cinco anos, mas ele disse que não estava mentalmente preparado para um encontro”, completou. Durante o manifesto, Breivik faz dura defesa do princípio de família nuclear e se mostra contra a ideia do divórcio. Quan do soube do massacre provocado por seu filho, Jens chegou a dizer que “preferia que ele tivesse se suicidado”.
Na sequência, Breivik afirma que não teve nenhuma experiência negativa em sua infância, apesar de ter tido “muita liberdade”. Ele diz também que foi criado por uma típica família norueguesa de classe média, sem nenhum problema econômico.
Na descrição dos irmãos e familiares, o norueguês deixa sempre claro a orientação política de cada um deles. “Eu sou muito feliz pelo fato de a maior parte da minha família ser inteligente e antimarxista”, afirma.
Por outro lado, ele ratifica que não é nem nunca foi racista. Segundo ele, durante sua infância e juventude, teve diversos amigos muçulmanos e não noruegueses. Segundo Breivik, eles e os amigos formavam um grupo muito forte que incluía skinheads.
Ainda sobre sua adolescência, Breivik afirma que entre os 12 e 15 anos foi um dos mais notáveis integr antes do movimento hip-hop a região oeste de Oslo. Afirmou também que aderiu à arte do grafite, no que considera serem os “anos vulneráveis” de sua vida. Nessa época, no entanto, ele revela que passou a se interessar mais pelo cristianismo por conta de discussões que tinha com um amigo muçulmano.
O terrorista norueguês afirma que tinha alianças com gangues locais, pois “alianças com as pessoas certas garantiam uma passagem segura por qualquer lugar, evitando assaltos ou brigas”. Na sequência, ele classifica os antigos amigos como “hipócritas, racistas e fascistas”.
Foto divulgada por Breivik junto do manifesto, horas antes do duplo atentado
Hobbies comuns
Breivik abre espaço também para informações pessoais. Ele se descreve como uma pessoa otimista, pragmática, ambiciosa, criativa e trabalhadora. Afirma que fuma e bebe ocasionalmente, mas negou fazer tatuagens e usar drogas. Após ser preso, ele confessou à polícia ter se drogado para realizar o massacre de Utoeya “para se torn ar forte e eficiente” e se manter acordado.
Sobre preferências pessoais, ele diz também que, em relação aos esportes, assiste apenas o vôlei de praia feminino. “Se a Noruega não fosse tão ruim no futebol, eu também assistiria”, declara.
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Breivik afirma adorar festas e que, há algum tempo, foi a Las Vegas celebrar o aniversário de um amigo. Depois fala que seu objeto com maior valor afetivo é seu Ipod e diz que, na Noruega, torce para dois times de futebol: o Lyn, de Oslo, mais tradicional, e o Bygdo Monolitten, equipes que já tiveram tradição, mas agora disputam divisões amadoras. Ele ainda elege seus filmes favoritos (300, O Senhor dos Anéis, Star Wars, Paixão de Cristo e filmes de zumbis), suas bebidas (Budweiser e Red Bull com vodca Absolute) e seus livros (1984, de George Orwell, Leviatã, de Thomas Hobbes, A Liberdade, de John Stuart Mill, A Riqueza das Nações, de Adam Smith, Derrotando a Eurabia, de Fjordman, entre outros).
Ao descrever seus hobbies, afirma que gosta de análises políticas, jogos de computador, viajar e conhecer outras culturas, músicas e amigos. Diz também que já teve o privilégio de conhecer 24 países. Entre eles: China, Estados Unidos, Espanha, Nigéria, Costa do Marfim e França.
Ele disponibiliza ainda seu currículo e diz que tem interesse em genética. “Sou muito orgulhoso da minha herança viking”, afirma. Breivik diz também que admira os sistemas políticos do Japão, da Coreia do Sul e de Taiwan por rejeitarem o multiculturalismo. Por fim, afirma que gostaria de conhecer o Papa Bento XVI e o primeiro-ministro russo Vladimir Putin, pessoas que afirma admirar.
Fonte de inspiração
Seu autor contemporâneo preferido é Fjordman, um blogueiro norueguês anônimo que luta contra o islã e o multiculturalismo na Europa. Não por coincidência, em 2007, Fjordman escreveu o ensaio “Uma declaração européia de Independência”, que serviu de grande fonte de inspiração para o manifesto de Breivik.
Montagem: Sami Reininger/Foto: Efe
Em recente entrevista por e-mail ao jornal norueguês VG, Fjordman
repudiou os ataques, disse que nunca conheceu Breivik, a quem chama de
psicopata, e diz não ter ideia pela razão pela qual possa ter servido de
inspiração: “Nunca defendi a violência. É um absurdo acusarem os
críticos do Islã de se envolverem com um psicopata violento”.
Em seu blog, Fjordman diz ainda que Breivik é “um monstro que merece
receber a mesma simpatia que ele deu às suas vítimas, inocentes
desarmados”.
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