O movimento jihadista reivindicou as explosões que deixaram ao menos 85 mortos na capital afegã na quinta-feira (26/08). Para o Talibã, esse braço do grupo Estado Islâmico é um “rival incontrolável”.
O duplo atentado suicida em Cabul foi o primeiro golpe do grupo Estado Islâmico-Khorasan (EI-K) contra o Talibã, que assumiu o controle do Afeganistão em 15 de agosto. Algumas horas depois do ataque, o movimento jihadista no Afeganistão reivindicou as explosões no aeroporto internacional de Cabul e no hotel Baron, consolidando o temor de países ocidentais de um massacre nos últimos dias das operações de evacuação no país.
Khorasan é o nome da antiga região que englobava parte da Ásia Central e da Índia. O braço afegão do grupo Estado Islâmico nasceu quando o movimento era visado na Síria e no Iraque pela coalizão ocidental liderada pelos Estados Unidos. Ele é principalmente integrado por ex-talibãs paquistaneses e afegãos e conseguiu recrutar facilmente jovens radicalizados do Afeganistão.
A expansão do grupo Estado Islâmico-Khorasan não preocupa somente os países ocidentais, mas também o Talibã, que o considera como um “rival incontrolável”. Uma aliança entre os dois movimentos sempre foi improvável: o duplo atentado de quinta-feira deixou claro que o braço do EI no Afeganistão não tem interesse em uma parceria.
As disputas com o Talibã e os ataques perpetrados pelos jihadistas do grupo Estado Islâmico no Afeganistão deixaram centenas de vítimas nos últimos anos. Ainda que tenha perdido terreno recentemente, eles seguem implantados em todo o país, incluindo Cabul. O massacre de quinta-feira comprovou a violência e capacidade de destruição desta nova facção.
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Khorasan é o nome histórico de uma região que engloba parte da Ásia Central e índia
Expansão do EI-K
No Afeganistão, que serviu de base durante anos para a rede Al-Qaeda, o grupo Estado Islâmico se enraizou, aproveitando do caos reinante. Com a nova geração de jihadistas, o EI-K deve ganhar ainda mais terreno.
Segundo especialistas, diante da rivalidade histórica entre os dois movimentos, o grupo originário do Khorasan não vai poupar o atual regime de novos banhos de sangue. Apesar de serem os novos homens fortes do Afeganistão, e após terem combatido durante vinte anos as forças americanas, o Talibã não vai poder largar as armas e baixar a guarda.
O EI, que não parabenizou seus rivais pela tomada de Cabul e chegou a chamar os talibãs de “infiéis”, está pronto para desestabilizar o Afeganistão. Um dos motivos da rixa é o acordo para a retirada das tropas estrangeiras do país, concluído em fevereiro de 2020 com os Estados Unidos. Outro motivo é o tom “moderado” adotado pelo novo regime afegão, que prometeu “clemência” aos cidadãos que se aliaram às forças estrangeiras e flexibilizar algumas das antigas normas às mulheres. “Os dois grupos são sunitas, mas não têm a mesma agenda”, afirma Didier Billion, diretor-adjunto do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas francês (Iris), em entrevista ao jornal Le Parisien desta sexta-feira (27/08).
Vários especialistas preveem que a guerra entre os dois movimentos não apenas vai continuar como se intensificar. “Os talibãs têm uma lógica de jihad nacional, enquanto que o grupo Estado Islâmico quer estabelecer bases no Afeganistão para organizar atentados no exterior do país”, avalia Didier Billio.