Os Estados Unidos estão estudando iniciar uma série de contatos com elementos moderados dos talibãs no Afeganistão como parte de um processo de reconciliação nacional, revelou o presidente Barack Obama, em entrevista divulgada ontem pelo diário The New York Times.
Obama explicou que o passo é necessário, porque os Estados Unidos “não” estão tendo sucesso no país árabe e se um diálogo com elementos moderados funcionou no Iraque, o impacto será o mesmo no Afeganistão. Além disso, a manobra é necessária, pois o governo afegão ainda não ganhou a “confiança” da população, disse o presidente.
“Não!”, respondeu Obama enfaticamente, quando os jornalistas lhe perguntaram diretamente se pensa que os Estados Unidos estão ganhando a guerra no Afeganistão e acrescentou: “O que penso é que nossas tropas estão fazendo um trabalho extraordinário, em meio a uma situação muito difícil. Mas a verdade é que as condições se deterioraram nos últimos dois anos. Os talibãs estão mais fortalecidos. Ultimamente, vemos como nas regiões do sul do país eles atacam de uma forma mais intensa que antes”.
Karzai impopular
Na sua opinião, a intensificação dos combates no Afeganistão deve-se principalmente ao fato de que “o governo nacional (liderado pelo presidente Hamid Karzai) ainda não conseguiu ganhar a confiança do povo afegão”.
Para Obama, por isso, “não só será difícil levar adiante as próximas eleições e estabilizar a segurança interna, como teremos de redesenhar nossa política, de modo que nossos objetivos militares, diplomáticos e de desenvolvimento estejam todos orientados a evitar que a Al-Qaeda e os extremistas possam se refugiar em lugares seguros de onde possam nos atacar”.
Este fim de semana, a secretária de Estado, Hillary Clinton, anunciou na Turquia que os Estados Unidos iráo realizar uma conferência internacional sobre a situação no Afeganistão no dia 31 deste mês.
Diálogo com Paquistão
Na entrevista para o The New York Times, realizada na sexta-feira a bordo do Air Force One, Obama defendeu uma melhoria nas relações com o Paquistão, vizinho do Afeganistão e cujas províncias fronteiriças tem servido de refúgio a Osama Bin Laden e os homens da Al-Qaeda.
“O coração de uma nova política para o Afeganistão será uma política muito mais inteligente em relação ao Paquistão, porque enquanto hajam regiões seguras na fronteira para Al Qaeda e os talibãs, que o governo do Paquistão não controla ou onde não chega de uma forma efetiva, vamos continuar a ter pontos vulneráveis do lado afegão da fronteira”, disse os presidente dos Estados Unidos.
Por isso, na sua opinião, uma solução seria contatar os elementos moderados do Taleban, tal como a administração de George W. Bush fez com a milícias sunitas no Iraque.
“Se falar com o general David Petraeus, chefe das tropas no Iraque, ele lhe dirá que parte do seu êxito foi conseguir estender a mão a pessoas que ele via como fundamentalistas islâmicos, mas dispostos a trabalhar conosco, porque se opunham às táticas de Al Qaeda”, sublinhou Obama.
E, “tanto no Afeganistão como no Paquistão podemos ter oportunidades parecidas”, acrescentou o presidente.
Desafio pela frente
No entanto, reconheceu Obama, não será uma tarefa fácil. “É uma região pouco governável, com uma história de independência entre as várias tribos, muitas delas com objetivos totalmente diferentes. Perceber tudo isso vai ser um desafio muito grande”, disse.
As reações à entrevista não tardaram. “Penso que está claro que tem de haver uma solução política para o Afeganistão e não estou excluindo nada de cima da mesa de discussões, incluindo negociações com algumas fações do Taleban”, afirmou Reuben Brigety, especialista em política afegã do Center for American Progress, um instituto de análise na capital norte-americana.
Em fevereiro, Obama anunciou o envio de mais 17.000 soldados norte-americanos para o Afeganistão. Entre os contingentes da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) e dos Estados Unidos, as tropas estacionadas no país árabe já soman 96.000.
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