Num gesto que recebeu tanto aplausos como críticas, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, acabou hoje (13) com todas as restrições de viagem, envio de dinheiro e mercadorias que os cubano-americanos tinham para ajudar suas famílias na ilha.
A decisão não só dá um certo alívio para um setor da população cubana, como pode representar um redesenho das relações econômicas entre os dois países. De imediato, dispararam as ações de empresas já estabelecidas em Cuba, assim como de companhias aéreas e de cruzeiros, também autorizadas a operar.
Com o argumento de que os cubanos devem receber todo tipo de informação, a decisão também autoriza empresas de comunicações a começar a operar em Cuba.
Por outro lado, ao autorizar os cidadãos norte-americanos de origem cubana a viajar livremente para Cuba, enquanto continua a proibição para o resto, cria-se uma situação em que uns têm mais direitos que outros, o que deve obrigar o Congresso a aprovar a liberação das viagens para todos.
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Neste momento, por iniciativa do senador republicano Richard Lugar, um projeto nesse sentido encontra-se em estudo no Congresso. A decisão de Obama vai acelerar este processo, garantiu ao Opera Mundi uma fonte da Casa Branca. “É o que esperamos”, disse a fonte, que pediu para não ser identificada porque não está autorizada a falar publicamente do tema.
As reações não se fizeram esperar. “Pela primeira vez, sendo Obama um presidente norte-americano, conseguiu colocar a bola do lado cubano”, considerou o analista político Alejandro Armengol.
“Agora, o governo cubano está obrigado a dar algum tipo de resposta. Não apenas aos Estados Unidos, como ao próprio povo cubano, porque esta decisão de Obama vai criar grandes expectativas em Cuba. As pessoas ali vão vê-la como algo que pode melhorar sua qualidade de vida”, afirmou Armengol.
Para o analista, ao autorizar as empresas de comunicações a operar na ilha, Obama abriu as portas ao lançamento de um cabo de fibra ótica entre os dois países, que os cubanos reivindicam há muito tempo.
“Não estou dizendo que em Cuba agora todo mundo vai ter acesso à internet, o governo nunca o permitiria. Mas melhoraria muito as comunicações”, acrescentou Obama.
Segundo números de empresas telefônicas, Cuba recebe dos Estados Unidos em média 7 mil chamadas telefônicas por hora, feitas através de terceiros países.
Silêncio em Havana, raiva em Miami
O governo cubano não se pronunciou de imediato sobre a decisão de Obama, nem a imprensa local a noticiou. Segundo contaram jornalistas estrangeiros na ilha, os cubanos na rua não pareciam saber do anúncio e, em termos gerais, não quiseram se pronunciar quando foram consultados.
Nas ruas de Miami, também não se registaram grandes reações. Mas na rádio local, trincheira da direita cubano-americana, os ativistas anticastristas radicais não perderam a oportunidade de criticar o presidente.
“Sempre disse que Obama era comunista, e agora estamos vendo seus gestos. Ao tirano, não se pode dar nada. Isso não vai beneficiar a família cubana, mas sim o regime”, disse o locutor Armando Pérez Roura, da Rádio Mambí, conhecido ativista da extrema-direita republicana, que foi porta-voz do ditador Fulgêncio Batista e do governo revolucionário cubano, antes de viajar para Miami em 1969.
Segundo o deputado federal republicano de origem cubana Lincoln Diaz-Balart, o presidente cometeu “um grande erro”. “Toda concessão à ditadura, o único que faz é facilitar-lhe a tarefa de reprimir ainda mais o povo cubano, foi um erro muito grande”, disse o deputado, numa comunicação escrita enviada ao Opera Mundi.
Ações em alta
O levantamento das restrições fez disparar as ações de empresas cotizadas na bolsa de Nova York, como a canadense Sherritt, que opera em Cuba a indústria do níquel e petróleo, e teve alta de 17,6%. O mesmo aconteceu com as empresas de cruzeiros Carnival e Royal Caribean, com sede em Miami: 10 pontos em média.
Calcula-se que nos Estados Unidos vive cerca de 1,5 milhão de cubanos, incluindo os de segunda e terceira gerações.
O levantamento das restrições entra em vigor imediatamente, mas por razões operacionais deve começar a funcionar só na próxima semana.
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