Na sua quarta semana na Casa Branca, Barack Obama lançou ontem (18) seu segundo plano de recuperação econômica. Desta vez, voltado para o salvamento da indústria hipotecária, protagonista de uma das crises mais sérias que os Estados Unidos já enfrentaram em sua história.
Com seis milhões de pessoas correndo o risco de perder suas casas nos próximos três anos, o governo norte-americano anunciou um plano que envolve a despesa de US $275 bilhões, entre ajudas diretas ao consumidor e subsídios às firmas de hipotecas.
O plano não terá de ser submetido ao Congresso, pois o dinheiro será retirado do pacote de US$700 bilhões aprovados no ano passado.
A parte mais destacada do projeto de Obama, e que abrange US$75 bilhões, prevê a entrega de subsídios aos bancos e firmas hipotecárias para que fixem o preço máximo da hipoteca em 31% do salário do proprietário da residência, desde que essa seja a sua moradia principal, onde resida também sua família. Isto beneficiará entre quatro e cinco milhões de proprietários.
Também serão beneficiados aqueles que, na gíria hipotecária norte-americana, estariam “debaixo de água”, ou seja, vivendo em casas cujo valor é inferior à dívida com o banco: cerca de três milhões de pessoas se encontram nesta realidade. Desde 2006, o valor das casas nos Estados Unidos caiu 25%.
Obama apresentou seu projeto numa escola do Arizona, estado natal do seu rival na campanha presidencial, o senador John McCain, e um dos mais afetados pela crise imobiliária. Ano passado, 600 mil pessoas perderam suas casas.
“O meu plano vai funcionar para as pessoas responsáveis, ajudará as famílias em dificuldades, mas não há margem para engano e mentira. Salvaremos aqueles que cumprirem as regras do jogo”, disse o presidente.
No entanto, reafirmou, se antecipando às críticas que imediatamente surgiriam dos setores mais conservadores, que “é preciso salvar a indústria hipotecária de suas piores conseqüências, para não provocar desastres ainda maiores à economia”.
“Todos temos de pagar um preço por esta crise das hipotecas”, afirmou o presidente norte-americano, que culpou “bancos, especuladores de mercado e consumidores irresponsáveis” por inflacionar o mercado imobiliário com promessas irrealistas e por serem irresponsáveis com suas despesas.
Obama disse que dentro de duas semanas os bancos e as firmas hipotecárias começarão a receber instruções precisas sobre como aplicar estes fundos federais. “O meu plano estabelece regras válidas para toda a indústria de hipotecas”, sentenciou o presidente.
“Nacionalização da indústria”
A frase valeu-lhe de imediato a crítica mais aguda da direita conservadora norte-americana. No seu programa de rádio diário, o comentarista Ruch Limbaugh acusou Obama de “nacionalizar” a indústria.
“Quando o presidente fala em 'este é o meu plano'e diz que as regras aplicam-se para toda a indústria por ordem dele, ele automaticamente vira dono de toda a indústria. Agora já não há regras para os bancos, mas sim, regras que o presidente quer. O Estado não tem que ser rentável. A quem importa o dinheiro, que o gaste”, disse Limbaugh.
“Senhoras e senhores, o presidente acaba de nacionalizar a banca”, acrescentou.
Fannie Mae e Freddie Mac
Os outros US$200 bilhões serão entregues diretamente, mediante linha de crédito, às duas grandes financiadoras de hipotecas nos Estados Unidos, as firmas Fannie Mae y a Freddie Mac.
Em contrapartida as duas empresas voltam a conceder novos créditos habitacionais. Mas também, vão passar a poder refinanciar as hipotecas atuais daqueles proprietários que se encontram “debaixo de água”, e que nada podiam fazer antes.
Cautela ao plano
As reações iniciais ao plano de Obama foram de cautela, apesar de analistas da indústria hipotecária terem se perguntado se o fato da adesão a suas regras ser voluntária, não seria mais um problema que uma solução, ainda mais porque visa os proprietários de casas e não os investidores.
“Até agora tudo aquilo que tem sido voluntário nesta indústria, não funciona. Será que todas estas guloseimas oferecidas às firmas hipotecárias são suficientes para levar as hipotecas ao nível que o governo quer?”, se perguntou John Taylor, presidente da National Community Reinvestment Coalition. Calcula-se que 40% das casas compradas durante a crise, foram investimentos imobiliários.
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