Após dez anos de governo no controle da Geórgia, o presidente Mikail Saakashvili, principal aliado dos Estados Unidos na região do Cáucaso, poderá sofrer um duro revés. A oposição, liderada pelo empresário Bidzina Ivanishvili é apontada pelas pesquisas de boca de urna como a virtual vencedora da eleição legislativa, realizada nesta segunda-feira (01/10) em todo o país.
De acordo com o último levantamento, divulgado pelas redes Rustavi 2 e Imedi TV, a coligação Sonho Georgiano, de Ivanishvili, teria 51% dos votos contra 41% do Movimento de Unidade Nacional, liderado pelo chefe de Estado.
Já a ONG Liga dos Eleitores da Geórgia, em parceria com a companhia norte-americana Barselo, apresentou um resultado ainda mais elástico: a oposição teria obtido 70% dos votos, contra 24% dos governistas.
Segundo outra pesquisa realizada pelo canal de televisão Maestro, ligado à oposição, a coalizão “Sonho Georgiano” somaria 63% dos votos, contra 27% do partido atualmente no poder.
Agência Efe
O empresário Bidzina Ivanishvili comemora vitória nas eleições legislativas após divulgação de boca de urna
Logo após a divulgação dos dados das primeiras pesquisas, milhares de pessoas saíram às ruas de Tbilisi para comemorar a vitória da oposição, que tinha denunciado tentativas das autoridades de falsificar os resultados.
Mais de três milhões e 600 mil eleitores, de uma população total de 4,7 milhões, foram chamados às urnas para eleger um novo parlamento com poderes reforçados, uma disputa considerada como um teste à força do Movimento de Unidade Nacional, coligação do presidente, que terá de abandonar o poder em 2013.
“Vim para restaurar a justiça na Geórgia”, afirmou hoje Bidzina Ivanishvili, multimilionário tido como aliado geopolítico da Rússia e cuja fortuna é superior à metade do PIB da Geórgia. Vive num palácio no topo da capital Tbilisi, onde, entre outros hobbies, gosta de alimentar pingüins de estimação. “Quero felicitar a todos os integrantes da nossa coalizão. Agora é preciso manter a calma e esperar que se formalize oficialmente a nossa vitória”, disse o líder opositor.
O empresário garantiu à comunidade internacional nesta semana que a oposição não vai protagonizar um enfrentamento civil contra as autoridades, mas alertou sobre a possibilidade de provocações por parte dos partidários do presidente.
Já Ivanishvili conseguiu triunfar onde muitos outros fracassaram: agrupar a oposição com o único objetivo tirar Saakashvili do poder, o responsável pela queda do ex-presidente Eduard Shevardnadze na Revolução Rosa de 2003.
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O presidente, por sua vez, reconheceu a vitória da oposição nas legislativas, mas só por listas de partidos, já que advertiu que o governo lidera a apuração por comarcas eleitorais. “Nosso sistema eleitoral está feito dessa maneira em que são distribuídos de forma equitativa os votos no Parlamento por sistema proporcional e majoritário”, comentou Saakashvili em uma declaração emitida pela televisão local.
Saakashvili se referia ao fato de as 150 cadeiras do Parlamento georgiano serem divididas por listas de partidos (77) e por comarcas unipessoais (73). “É preciso levar tudo em conta e esclarecer quem representará a maioria no Parlamento. Longe de Tbilisi o MNU lidera com grande vantagem em quase todas as regiões”, declarou. O MNU informou que seus candidatos teriam derrotado os opositores em 53 das 73 comarcas eleitorais.
Saakashvili viu-se mergulhado num escândalo de abusos prisionais nas últimas semanas, após um vídeo ter mostrado torturas a detentos em várias prisões de Tblisi, o que, segundo especialistas eleitorais, o teria enfraquecido eleitoralmente.
Saakashvili convocou todos os partidos a trabalharem juntos, apesar das tensões na campanha eleitoral, e garantiu que ele como presidente é “o fiador para que a transição de poder do novo Parlamento seja feito de maneira pacífica de acordo com a Constituição e a democracia”.
As eleições legislativas são cruciais para o futuro do país, que se transformará em 2014 em uma república parlamentar, na qual o homem forte já não será o presidente, mas o primeiro-ministro, eleito pela maioria parlamentar e será responsável por designar a política interna e externa.
Ivanishvili, a quem Saakashvili acusa de defensor dos interesses da Rússia, garantiu que, caso seja nomeado primeiro-ministro, manteria o rumo da integração na OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte), apesar de também tentar melhorar as relações com Moscou, rompidas desde 2008 após a guerra separatista na Ossétia do Sul.