A América Central, que há muito tempo serve como um importante corredor e ponto estratégico na distribuição de mais de 200 toneladas de cocaína para o mercado dos Estados Unidos, se vê assediada pelos cartéis da droga e se encontra sem recursos para combatê-los.
As instituições dos países da região acabaram por se submeter à dinâmica mundial do mercado das drogas ao se converterem em aliados dos grandes cartéis.
Analistas locais indicam que os policiais, fiscais e funcionários públicos em geral cederam à pressão dos comandantes das drogas que, com o intuito de expandir seu mercado, cometem uma série de crimes e massacres em várias populações.
Guatemala, Honduras e El Salvador formam o chamado ‘triângulo do norte’, onde o aumento de mortes relacionadas com o narcotráfico tem sido alarmante devido à presença permanente dos cartéis mexicanos e colombianos.
Um relatório do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) indica que a região centro-americana tem a taxa mais alta de homicídios da América Latina, 336 para cada 100 mil habitantes, o que equivale ao triplo da taxa média mundial. No Caribe o índice atinge 28,8. A região Andina fica 24,8 e o Cone Sul com 10,9.
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O chanceler da Guatemala, Haroldo Rodas, reconhece que seu país tornou-se um “narco Estado”, devido à crescente presença dos cartéis, formados não apenas por mexicanos. Nas últimas capturas realizadas também foram identificados integrantes salvadorenhos e hondurenhos.
A América Central estima que, para combater o crime, são necessários cerca de 950 milhões de dólares. Entretanto, com recursos próprios, os países consideram inviável o combate a estes grupos criminosos.
As organizações, que não se limitam ao tráfico de entorpecentes, também cometem crimes como a lavagem de dinheiro, assassinatos por encomenda, tráfico de armas e pessoas e outras atividades que garantem milhões em lucros.
Um relatório da UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime) estima que o mercado das drogas nos EUA move cerca de 38 bilhões de dólares por ano. Uma pesquisa recente do Serviço de Inteligência salvadorenho indica que, no país, opera o chamado “cartel de Texis” (que se refere a cidade de Texistepeque, na parte ocidental de El Salvador), uma estrutura criminosa que envolve policiais, prefeitos, fiscais e deputados.
As investigações policiais também mostram que os cartéis atuam com a colaboração de integrantes das principias gangues, chamadas Maras, como a MC (Mara Salvatrucha) e sua rival Mara 18, espalhadas pela região centro-americana.
Os chefes do tráfico também estão por trás de execuções sumárias de pessoas na Guatemala e no México. O último massacre aconteceu no departamento guatemalteco de El Petén, quando 28 índios foram mortos em resposta à captura de um dos chefes da área.
Para o ministro da Defesa de Honduras, Marlon Pascua, o narcotráfico e o crime organizado têm impedido o desenvolvimento econômico dos países centro-americanos, em razão dos valores gastos para combater as atividades e da atenção das vítimas desta guerra.
Pascua garante que a falta de fundos e de financiamento são os principais obstáculos para lutar contra o crime, e que estes grupos estão se expandindo por todo o continente.
“Os narcotraficantes operam em toda a região. Não apenas na América Central e no México, mas na América Latina também estamos vendo que há droga que está sendo transportada para o Brasil, para a Europa e esse é um tema que está afetando a todos”, disse.
Os países da América Central apresentarão para vários países do mundo uma estratégia conjunta de combate ao crime, onde esperam obter um financiamento milionário de 950 milhões de dólares para a luta contra a narcoatividade da região.
A reunião ocorrerá na cidade de Guatemala nos dias 22 e 23 de junho. O presidente dos EUA, Barack Obama, ofereceu o apoio financeiro de 200 milhões de dólares, segundo divulgou o subsecretário-adjunto dos EUA para a América Latina, Arturo Valenzuela.
Para o chanceler guatemalteco Haroldo Rodas, o compromisso dos EUA deve existir não apenas em termos econômicos, mas também no sentido de comprometer-se para acabar com o mercado de drogas interno do país. “Deve haver um maior comprometimento dos países consumidores, como os EUA, no sentido de fornecer mais fundos para a luta contra este problema”, disse Rodas ao Opera Mundi.
Os funcionários, que se reúnem na 41º Assembléia Geral da OEA sobre “Segurança nas Américas”, em San Salvador, dizem que a falta de responsabilidade dos países que consomem drogas produzidas pelos países exportadores, só aumenta o problema na América Central. “Estamos certos que, se houve alguma cooperação dos EUA, esta foi muito pequena”, concluiu o ministro da Defesa, Marlon Pascua.
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