Centenas de paraguaios saíram às ruas do país neste domingo (07/03) pelo terceiro dia consecutivo para exigir a renúncia do presidente Mario Abdo Benítez a quem responsabilizam pela crise pela qual passa o Paraguai, com acusações de má gestão da pandemia da covid-19, lentidão na campanha de vacinação contra a doença e escassez de insumos.
O repúdio também chega ao ex-presidente Horacio Cartes, do mesmo partido do atual mandatário, o Partido Colorado.
O epicentro das mobilizações é a capital Assunção, e os participantes são, em especial, familiares de infectados e falecidos por coronavírus e trabalhadores do setor de serviços e que foram impactados pela crise.
As redes sociais estão servindo como ferramenta de criação das mobilizações, convocadas a partir de slogans como #ParaguaySeLevanta e # YoEstoyParaElMarzoParaguay2021.
A primeira manifestação, na noite da última sexta-feira (05/03), ocorreu próximo ao Congresso Nacional. O anúncio das mobilizações resultou em declaração de alerta máximo da Polícia Nacional.
As ruas da capital foram ocupadas por um contingente policial e os protestos terminaram com repressão policial e uso de balas de borracha e gás lacrimogêneo contra os que protestavam.
No segundo dia de protestos, sábado (06/03), diferentes atores políticos começaram a se posicionar. Membros das diferentes bancadas do Partido Liberal Radical Autêntico (PLRA) anunciaram a elaboração de um pedido de impeachment e outros líderes da oposição exigiram renovação do governo.
Os atos de domingo (07/03) ocorreram em frente à residência presidencial Mburuvicha Róga, na capital paraguaia. Os manifestantes afirmam que irão permanecer em protesto até que o mandatário saia do poder.
AFP/Télam
Manifestações denunciam a crise sanitária no país, com falta de medicamentos e colapso do sistema hospitalar
Mudanças no gabinete
Após os protestos do primeiro dia, Abdo Benítez pediu a saída de três ministros no sábado (06/03): Saúde, Julio Mazzoleni, que já havia pedido a renúncia; da Educação, Eduardo Petta; e da Mulher, Nilda Romero; além do chefe do Gabinete da Presidência, Juan Ernesto Villamayor. Na noite do mesmo dia, ele concretizou a demissão de Petta, Romero e Villamayor.
O mandatário também havia afirmado que outros representantes do governo poderiam ser demitidos e que todos deveriam colocar seus cargos à disposição.
O ex-assessor do Executivo, Hernán Hutteman, foi nomeado nesta segunda-feira (08/03), como novo chefe de Gabinete do governo, substituindo Juan Ernesto Villamayor. “A partir de hoje vou iniciar esse novo processo, sempre a partir do marco legal. Vamos atuar junto com a Unidade Gestora, para que ministérios e secretarias trabalhem de forma harmônica no desenvolvimento das políticas públicas ”, afirmou Hutterman em coletiva no Palácio de Lopez, sede do governo.
O Poder Executivo também nomeou Carmen Marín para chefe da Unidade de Gestão da Presidência da República. Ela é ex-vice-ministra de Economia e substitui Hugo Cáceres. “É uma honra assumir este compromisso. É realmente uma honra para mim como mulher, como paraguaia, assumir este compromisso em uma situação única, e acho que é uma oportunidade de fazer transformações profundas”, declarou à imprensa.
Uma terceira nomeação ocorreu nesta segunda, confirmando Julio Borba como titular do Ministério da Saúde. Ele havia assumido o cargo de forma interina, desde a saída de Mazzoleni. “Em relação a insumos e medicamentos, a prioridade é que cheguem em tempo hábil, assim como sua rastreabilidade”, disse o novo ministro. Segundo ele, uma das prioridades em curto prazo é a instalação de novos leitos hospitalares para tratamento da covid-19, e o trabalho em conjunto com o Ministério da Educação e Ciências (MEC).
O Paraguai tem mais de 168 mil casos confirmados de covid-19 e mais de 3,3 mil mortes, segundo mapa da Universidade Johns Hopkins. O país enfrenta uma quantidade recorde de novos casos de coronavírus. Em uma população de 7 milhões, apenas 1.775 já foram vacinadas.