O Knesset (Congresso israelense) decidiu nesta quarta-feira (29/10) manter a suspensão por seis meses da deputada palestina Hanin Zoabi. A decisão veio após comentários que ela fez no caso do suposto sequestro de três jovens colonos israelenses. Esse fato foi atribuído pelo governo ao grupo Hamas e utilizado como estopim para o início da chamada Operação Margem Protetora.
A manutenção foi aprovada por 68 legisladores, 16 foram contrários e houve uma abstenção. Trata-se da maior sanção já imposta pelo Parlamento na história.
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Hanin Zuabi, de origem palestina, conseguiu se eleger para uma vaga no parlamento israelense
Árabe-israelense (palestinos que permaneceram em Israel após a criação desse Estado), Hanin Zoabi foi a primeira mulher árabe a ocupar o Knesset e é símbolo de uma nova geração de liderança política para palestinos de Israel. Seu mandato tem sido constantemente perseguido por parlamentares israelenses devido às reiteradas críticas que faz ao país.
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A medida havia sido decidida pelo Comitê de Ética do Parlamento em 29 de julho, em meio à Operação Margem Protetora, e Zoabi recorreu. Os legisladores argumentam que ela concedeu entrevista a uma rádio na qual se mostrou em desacordo com o suposto sequestro dos jovens colonos, mas se recusou a classificar os responsáveis da ação de “terroristas”.
Durante a sessão desta quarta-feira (29/10), a deputada afirmou que a “expulsão é sem precedentes, vingativa e desproporcional” e disse ainda que os que apoiaram a decisão “levantaram a mão a favor da perseguição política”. O discurso de Zoabi foi diversas vezes interrompido sob o grito: “as coisas que fez nunca foram feitas”.
Agência Efe
Mulheres israelenses choram diante dos escombros da casa demolida por Israel onde serão criadas novas colônias judias
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Ela também é acusada de supostamente incitar uma “humilhação policial” durante uma massiva prisão de manifestantes árabes. Zoabi teria repreendido um policial dizendo que ele estava “do lado do opressor”. Por esse fato, a polícia e o Ministério Público recomendaram que ela fosse indiciada. O caso será analisado pela Procuradoria-Geral.
Além disso, a comissão de Lei, Constituição e Justiça apresentou neste mês dois projetos de lei contra a deputada. O primeiro visa negar a candidatura ao Knesset a alguém que tenha apoiado “um ato de terrorismo” e o segundo tem como objetivo retirar sua cidadania. Ambos são de iniciativa da vice-ministra do Interior, Faina Kirschenbaum, do partido ultranacionalista Yisrael Beytenu.
“O presidente israelense, Reuven Rivlin, classificou Israel, na semana passada, como ‘sociedade doente’ por suas políticas e atitudes racistas”, disse Zuabi. “Não se trata de doença ou enfermidade, e sim do cultivo de uma cultura política racista e um sistema de apartheid legal com os últimos esforços antidemocráticos conduzidos para me silenciar”. Ela ainda afirmou que “a verdadeira violência está sendo feita por figuras do governo – tão regulares quanto os atos violentos realizados contra palestinos nas ruas – e até agora ninguém foi suspenso do Parlamento por isso.”
Quase expulsão em 2010
Em 2010, ela quase perdeu o mandato após ter participado da flotilha que tentou furar o bloqueio israelense e desembarcar em Gaza. Um comitê do Knesset chegou a votar pela cassação, por traição a Israel, mas a decisão foi revertida na Justiça. Em entrevista a Opera Mundi, concedida em 2013, em Nazaré, Zoabi afirmou que “há uma contradição insanável entre o caráter judaico do Estado e o regime democrático.”
“Quando se determina que um país pertence ou está subordinado a uma determinada etnia, a discriminação racial é inerente”, explicou. “Os direitos passam a ser desiguais e a base para a democracia deixa de existir. É verdade que os árabes-israelenses podem votar, mas não temos o mesmo acesso à terra, aos empregos , à educação e à moradia que os cidadãos de origem judaica. Mesmo nossas garantias políticas podem ser revogadas se as instituições considerarem que colocamos em risco a natureza do Estado”, apontou.