Usando carros blindados com canhões de água e gás lacrimogêneo, a polícia chilena reprimiu nesta quinta-feira (15/03) a primeira grande manifestação estudantil do ano. Uma marcha havia sido convocada pelos estudantes. De cinco a sete mil se concentraram em uma praça de Santiago e planejavam seguir até o Ministério da Educação, mas o aparato policial dispersou os manifestantes antes mesmo do início da caminhada.
Conforme testemunhou a reportagem do Opera Mundi, a repressão começou quando os jovens estavam ainda na concentração, segurando cartazes e cantando gritos de guerra contra o governo e o sistema educacional.
Juan, representante do Movimento Popular de Estudantes e Trabalhadores Asambleia Flori-Puente, que pediu para não ter seu sobrenome revelado, afirmou que esta seria a primeira marcha organizada do ano. As mobilizações por uma reforma no sistema de Educação, que começaram em junho de 2011, resultaram em greves e paralisações prolongadas, além da ocupação de prédios públicos e universidades no ano passado.
Para este ano, Juan prevê uma mudança de estratégia. “A nossa luta vai continuar, mas de um modo diferente. As ocupações prolongadas acabaram desgastando o movimento”, afirma.
Estudante de direção audiovisual na Universidade Católica do Chile, Consuelo Gonzales participa das marchas desde o começo, mas não é afiliada a nenhuma organização estudantil. Ela criticou a violência da polícia. “As marchas são uma maneira de as pessoas mostrarem o que pensam. Em minha opinião, a polícia não esta cumprindo com o que supostamente seria o seu trabalho e objetivo: proteger as pessoas e o bem-estar social”.
Ao longo da manhã e do começo da tarde, distúrbios foram registrados em vários locais no entorno da praça. Há relatos de que manifestantes teriam quebrado o calçamento de algumas ruas para jogar pedaços de concreto contra as forças policiais.
Segundo informações da prefeitura de Santiago, divulgadas pelo jornal El Mercurio, 50 pessoas foram detidas durante as manifestações e três policiais ficaram feridos, um deles com gravidade. A prefeita Cecilia Pérez condenou a iniciativa dos estudantes. “É uma manifestação não autorizada, apresentada fora dos prazos legais”, disse. A prefeitura havia dado ao movimento a opção de se reunir em outra região da cidade, mas a orientação não foi aceita pelos manifestantes.
Na segunda-feira (12/03) a Anistia Internacional no Chile publicou um documento endereçado ao presidente Sebastian Piñera, o parabenizando pelos dois anos de governo e reconhecendo avanços, mas se dizendo preocupada com o desrespeito aos direitos humanos no país. “A Anistia Internacional vê com muita preocupação as violações aos direitos humanos que foram registradas no último ano no contexto das marchas e protestos sociais. As denúncias feitas por manifestantes argumentam sobre o uso excessivo de força por parte da polícia, uso inadequado de gás lacrimogêneo e canhões de água, detenções arbitrárias e informações sobre tortura e maus-tratos”.
Origem dos protestos
“Nossa principal reivindicação é um sistema de ensino gratuito e de qualidade, que quebre com o estigma de desigualdade da sociedade chilena”, explicou o estudante de Direito na Universidade do Chile, Eduardo Mora.
No país andino, não existem universidades gratuitas e o ensino secundarista (equivalente ao ensino médio) está sucateado.
Os protestos começaram em junho do ano passado e foram as manifestações mais intensas enfrentadas pelo governo desde o final da ditadura de Augusto Pinochet, em 1990. Os manifestantes criticam o sistema educacional implantado pelo ditador na década de 1980, e pedem por mais financiamentos para estudantes, educação gratuita para os mais pobres e melhorias no sistema educacional, além de mais investimentos nas escolas secundárias, que hoje sao de responsabilidade dos municípios e recebem poucos recursos.
Mais protestos isolados estão previstos para esta noite em Santiago.
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