A menos de três semanas das eleições de 3 de outubro no Brasil, lideranças políticas na França vêm revelando suas impressões e suas preferências na corrida eleitoral brasileira. Socialistas, gaullistas, verdes e até os “anticapitalistas” se dividem entre apoios e apostas para a sucessão de Luiz Inácio Lula da Silva – popular também entre os franceses -, embora o partido de Nicolas Sarkozy se mostre um tanto indiferente quanto aos candidatos à presidência do Brasil pelo PSDB, José Serra, e pelo PT, Dilma Rousseff.
“Nós não vemos grandes diferenças no programa político dos dois”, dispara Roland Du Luart – senador francês do partido liberal UMP (União por um Movimento Popular) e presidente do grupo de amizade franco-brasileira, em entrevista ao Opera Mundi. Embora não haja apoio oficial, Du Luart não esconde a simpatia da direita francesa pela candidata da situação. “Nós do UMP levamos em conta os laços entre o presidente Sarkozy e o presidente Lula. É normal que, de presidente para presidente, eles se apoiem e que o chefe de Estado dê apoio ao candidato escolhido por Lula”, justifica.
Luiza Duarte/Opera Mundi
No cartaz em metrô de Paris, a frase “Brasil: o país onde a esquerda prevaleceu”
Como José Serra deveria ser o candidato natural dos liberais franceses, o senador explica sua posição alegando que o PT deu continuidade à política econômica iniciada pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Já outros partidos franceses preferiram declarar apoio oficial a candidatos brasileiros, como Olivier Besancenot, líder do NPA (Novo Partido Anticapitalista) fez com o candidato Plínio Arruda Sampaio, do PSOL. Daniel Cohn-Bendit, deputado no parlamento europeu e copresidente do Partido Verde francês, esteve no Brasil no último mês para defender a candidatura de Marina Silva (PV) à presidência e a de Fernando Gabeira (PV), ao governo do estado do Rio de Janeiro.
Em junho deste ano, o franco-brasileiro Eduardo Cypel, deputado regional pelo PS (Partido Socialista), foi um dos articuladores do encontro, em Paris, entre Dilma Rousseff e Martine Aubry, primeira-secretária do PS e possível candidata à presidência da França em 2012. Ele reforça que as ligações entre seu partido e o PT sempre foram importantes e evoca uma solidariedade natural entre os socialistas. “O mais importante, para a gente na França e na Europa, é observar a experiência do governo Lula nos últimos oito anos”, diz.
O atual governo brasileiro inspira os socialistas franceses, hoje na oposição ao presidente Sarkozy, e afastados do poder desde 2002. Após o pior resultado vivido pela direita francesa nos últimos 50 anos, nas eleições regionais de março, eles sonham com um grande retorno. Apenas um terço da população aprova o desempenho do atual presidente, de acordo com pesquisa do instituto Louis Harris 2 para a revista Le Nouvel Observateur, publicada no início do mês.
Para francês ver
Pouca exposição midiática e mobilizações políticas isoladas mostram que o Brasil ainda não provoca tanto entusiasmo. A França, que há dois anos acompanhou atentamente cada etapa das eleições norte-americanas, reserva pouco espaço para a potência emergente. Para Cypel, o desinteresse tem haver com a situação que a nação francesa está enfrentando, com uma crise política e econômica.
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O cenário é composto pelo escândalo envolvendo o ministro do trabalho e a dona do grupo L'Oréal numa fraude fiscal e tráfico de influências, pela polêmica da reforma da aposentadoria, pela política de expulsão dos ciganos e ainda por ameaças terroristas, que provocaram falsos alertas a bomba em Paris desde a semana passada. Tudo isso é somado a um crescimento econômico de apenas 0,6% no segundo trimestre de 2010 e uma taxa de desemprego de quase 10%.
Nessa França submersa em problemas internos, apenas alguns raros suplementos e programas no rádio e na televisão são dedicados às eleições brasileiras. Mas, otimista, Cypel acredita que a aproximação do dia da votação vai provocar um maior interesse da mídia francesa.
Acordos e pendências
Em relação à atual política externa brasileira, Du Luart avalia que se pode fazer “um balanço bastante elogioso”. Além da excelente relação entre os dois presidentes, uma fronteira comum estável (entre a Guiana Francesa e o Amapá) e uma maior proximidade entre os respectivos senadores e deputados, houve um aumento dos contratos assinados entre França e Brasil.
“Não importa qual for o candidato ganhador, as ligações com o Brasil continuarão fortes”, insiste o senador, em tom diplomático.
A verdadeira lua de mel esconde duas preocupações para o senador: a venda dos caças franceses Rafale para o Brasil – um negócio de mais de 10 bilhões de reais que pode ser decidido apenas pelo próximo ocupante do Palácio do Planalto – e a posição brasileira em relação ao Irã, do presidente Mahmoud Ahmadinejad.
“Esperamos que os contratos assinados entre o presidente Sarkozy e o presidente Lula saiam do papel”, deseja Du Luart para o próximo mandato, em nome da saúde econômica dos dois países.
Já para o deputado socialista, o Brasil ganhou maior visibilidade e credibilidade graças ao carisma e à popularidade de seu presidente no exterior. No entanto, lembra ele, mesmo diante dos indicadores positivos do país, a desigualdade econômica e a violência ainda são os maiores fantasmas sobre o Brasil tanto na opinião pública francesa quanto internacional.
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