Sob o calor da pior crise econômica em quatro décadas de democracia e a austeridade imposta pelo recente resgate financeiro, Portugal abriu oficialmente neste domingo (22/07) a campanha para as eleições antecipadas de 5 de junho, cujo resultado é incerto em todas as pesquisas.
Os dois partidos que governam o país desde a Revolução dos Cravos de 1974, o PS (Partido Socialista, centro-esquerda) e o PSD (Partido Social-Democrata, direita) são novamente os favoritos a vencer a votação, embora o empate técnico nas pesquisas possa complicar a formação de um Executivo.
Sem cartazes e com menos propaganda, os políticos lusos iniciaram oficialmente a campanha com rodízio de comícios e concentrações iguais aos que, de fato, já tomavam conta das cidades lusas há semanas.
Os grandes protagonistas do confronto eleitoral são o primeiro-ministro interino, José Sócrates, de 53 anos, e o líder conservador, Pedro Passos Coelho, de 46.
As pesquisas, no entanto, dão pouco mais de 30% das intenções de voto, com até dois pontos percentuais de diferença com relação ao PS e tendência de baixa nas últimas semanas.
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Sócrates, que perdeu a maioria absoluta nas eleições de 2009, enfrenta outro teste eleitoral. Desgastado pela adoção de duros ajustes econômicos, conta com o apoio total de seu partido, que o reelegeu secretário-geral em março com 96% dos votos.
PS e PSD estão comprometidos no cumprimento do programa de ajuste financeiro e reformas do Estado exigido pela União Europeia e pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) para salvar o país do colapso com o empréstimo de 78 bilhões de euros aprovado esta semana.
Apesar da pouca margem de manobra que a crise e os compromissos internacionais darão ao próximo governo português, os dois partidos se enredaram em críticas mútuas sobre as reviravoltas de seus respectivos programas eleitorais e a responsabilidade pela crise.
Coelho atacou neste domingo o primeiro-ministro pelo suposto descumprimento das primeiras medidas de austeridade vinculadas ao resgate financeiro e o acusou de não preocupar-se com o desemprego, situado em percentual recorde para Portugal, acima de 12%.
Por sua vez o primeiro-ministro voltou à carga sobre os supostos planos do PSD para destruir o Estado social e a ambição de poder que levou a vetar o quarto plano de austeridade do governo e forçou, em março, sua queda e o pedido de ajuda externa.
Além dos dois maiores partidos, nos 13 dias de campanha, outras 15 filiações também disputam vagas no Parlamento – no entanto, apenas o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista (com 20% de apoio eleitoral) e um democrata cristão (com 12%) – têm alguma possibilidade real.
Está última formação, o CDS-PP (Centro Democrático Social-Partido Popular), ainda mais conservadora que o PSD, pode ter a chave do próximo governo.
Os democrata-cristãos, frequentes aliados do PSD, estão dispostos a governar com Coelho, embora o líder conservador somou-se ao critério de Sócrates que, em consonância com a tradição lusa, deve formar Executivo quem ganhe, porém com maioria exígua.
Ao contrário do PSD, os socialistas precisam do apoio de outras forças por seu enfrentamento com as outras formações de esquerda, que fazem campanha contra o PS mais do que contra os conservadores. No meio de um panorama eleitoral que ameaça reinstalar em Portugal um governo frágil, o grande vencedor de 5 de junho pode ser uma abstenção prevista em torno de 40%.
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