Movimentos de ativistas pró-Rússia chegaram ao sul da Ucrânia nesta quarta-feira (16/04), aumentando o foco de atuação em pelo menos quatro cidades do país. Ao leste, separatistas hastearam a bandeira da Rússia sobre blindados do Exército ucraniano na cidade de Kramatorsk e depois se direcionaram a Slaviansk, a apenas 15 quilômetros de lá. Mais ao sudeste, em Donetsk, manifestantes tomaram o controle da prefeitura local. Já na região sul do país, ativistas pró-Rússia na cidade de Odessa apresentaram pela primeira vez seu posicionamento frente à crise, proclamando hoje a criação da “República Popular de Odessa”.
Mariane Roccelo/ Opera Mundi
Localização de focos de turbulência de ativistas pró-Rússia na Ucrânia. Para Kiev, Moscou deu a eles ordens de “disparar para matar”
Ativistas ergueram as bandeiras da Rússia e da República Popular de Donetsk em veículos blindados do Exército de Kiev. Segundo a Reuters, vários desses veículos partiram de Kramatorsk para a cidade vizinha, Slaviansk. Lá, homens encapuzados e armados com fuzis tomaram mais blindados ucranianos. À Agência Efe, o comandante do grupo armado responsável pelas atuações afirmou ser originário da Crimeia. Em torno de 100 soldados ucranianos entraram em ônibus nas imediações da cidade para voltar a seus locais de origem.
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Segundo a AFP, ao menos seis veículos blindados e três tanques transportando homens armados em trajes camuflados leves foram vistos no centro de Slaviansk e uma coluna de 14 veículos blindados das forças ucranianas foi observada em Kramatorsk. O governo interino de Kiev confirmou que seis blindados haviam sido “capturados por extremistas”. No entanto, de acordo com a imprensa russa, “soldados ucranianos teriam decidido se unir aos insurgentes”.
Donetsk
Epicentro do movimento separatista no país após a anexação da Crimeia, Donetsk teve sua prefeitura tomada por ativistas mascarados e armados com fuzis e rifles no nono dia de sublevações na cidade. “Tomou-se a decisão de lançar uma operação especial para controlar o edifício da prefeitura de Donetsk. Ninguém ficou ferido”, informou um porta-voz das forças de autodefesa para as agências locais. As milícias pró-Rússia controlam também o edifício que abriga o governo e o parlamento da região.
Efe
Prefeitura de Donetsk foi tomada por ativistas mascarados e armados com fuzis e rifles no nono dia de sublevações na cidade a sudeste
Banhada pelo mar Negro, Odessa foi o primeiro grande foco de manifestações de ativistas pró-Rússia na porção sul do país. Na cidade, separatistas declararam hoje a República Popular de Odessa. “Aqui, todo o poder é apenas do povo que vive em seu território”, disse o movimento, em sua página na internet. Segundo eles, uma guerra civil já está em andamento na Ucrânia e convocaram a população a bloquear o transporte e as passagens subterrâneos na cidade a partir das 16h locais (11h de Brasília) de quinta (17/04).
“Se não querem uma guerra que transforme nosso país em uma ruína como a Síria e a Líbia, que cobra milhares de vidas, então é preciso atuar. Odessa já está rodeada de postos de controle inimigos. No país já se declarou o estado de guerra”, afirmaram.
Efe
Tanque tomado por ativistas mascarados pró-Rússia passa pela cidade de Slaviansk nesta quarta
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Provocações mútuas
Na noite de terça (15/04), o presidente russo, Vladimir Putin, apontou que a escalada do conflito coloca a Ucrânia “à beira de uma guerra civil”, em conversa telefônica realizada com a chanceler alemã, Angela Merkel. De acordo com nota oficial do diálogo divulgada hoje, Putin alegou que atitudes das autoridades ucranianas levam a um “rumo anticonstitucional de suprimir através da força os protestos” nas regiões do sudeste do país.
Em reação ao comunicado do Kremlin, o primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk, afirmou que a Rússia “exporta terrorismo” para a Ucrânia, aludindo às atitudes do Kremlin na porção leste do país dele, onde ativistas pró-Rússia se manifestam contra Kiev. “Nossos vizinhos russos querem construir um novo muro de Berlim e voltar aos tempos da Guerra Fria”, disse o premiê.
Vitor Sion/Opera Mundi
“Stop Put(in) War”: Cartazes contra a atuação da Rússia são vistos espalhados pela Maidan
Segundo o chefe do Executivo, o terrorismo seria o “novo produto de exportação” de Moscou. “Ao longo das últimas semanas, as autoridades russas se omitiram sobre seus grupos de sabotagem junto a terroristas locais, que dispararam com metralhadoras e mataram militares e civis ucranianos”, disse Yatseniuk. Além disso, os serviços de segurança ucranianos também denunciaram hoje que os comandantes dos separatistas receberam ordens do Kremlin de “disparar para matar”.
Reunião em Genebra e atuação da Otan
A ampliação da atuação dos separatistas pró-Rússia acontecem na véspera de uma reunião para discutir o futuro do conflito entre Kiev e Moscou, programada para esta quinta (17/04), em Genebra. No encontro, a proposta é que os chefes da diplomacia da Rússia, Ucrânia, Estados Unidos e a União Europeia busquem uma saída e “abra o caminho para uma solução pacífica e política para a crise”, segundo a Otan. No mais grave conflito entre Rússia e Ocidente desde a Guerra Fria, Yatseniuk informou que Kiev já prepara suas “reivindicações” para as negociações.
Diante da crise russo-ucraniana, o secretário-geral da Otan, Anders Fogh Rasmussen, anunciou hoje um reforço “imediato” da defesa coletiva dos membros da organização com o envio de recursos por “terra, mar e ar” nos países do leste da Europa. “Haverá mais aviões no ar, mais embarcações na água e mais disposição em terra”, sintetizou Rasmussen, acrescentando que “uma solução política será a única saída” para a crise.
Vitor Sion/Opera MundI
Nos arredores da Praça Maidan, símbolo do levante ucraniano em Kiev, ainda é possível perceber marcas dos confrontos
De acordo com o político dinamarquês, o acordo servirá para demonstrar “solidariedade” e fortalecer a defesa coletiva, explicando que o intuito em jogo é garantir “a defesa, a dissuasão e a redução da tensão”. Essas medidas militares incluirão uma expansão da área de atuação, como saídas das patrulhas aéreas sobre os países bálticos e maior presença de navios no Mar Báltico e no leste do Mediterrâneo.
“Pedimos que a Rússia seja parte da solução. Que deixe de desestabilizar a Ucrânia, retire suas tropas das fronteiras e deixe claro que não apoia as ações violentas de milícias separatistas pró-Rússia bem armadas”, finalizou Rasmussen.