Dois velhos aliados fizeram as pazes após mais de um década de desencontros e selaram a amizade com mais de 30 acordos bilaterais e um tratado de “associacão estratégica”, cujos detalhes não foram divulgados. Adicionalmente, Moscou anunciou a concessão de um empréstimo de US$ 20 milhões a Havana.
Este foi o resultado do primeiro dia de conversações entre os presidentes da Rússia e de Cuba, ontem (30). Raúl Castro voltou a Moscou para se encontrar com Dimitri Medvedev depois de uma ausência de 25 anos, que separa os dias atuais de uma época em que a então União Soviética e Cuba se consideravam os maiores amigos do mundo.
”Não há dúvida de que estamos vivendo um momento importante, diria mesmo que se trata de um momento-chave nas relações entre a Rússia e Cuba”, comentou Castro, citado pela imprensa da capital russa.
O empréstimo será usado na compra de equipamentos para agricultura, construção e energia, confirmou o vice-primeiro-ministro russo, Igor Sechin, responsável direto, há alguns uns meses, pelos contatos com Havana.
Moscou também enviará umas 100 mil toneladas de cereais para alimentar a população afetada pelos estragos causados por dois furacões e uma tempestade tropical, que passaram por Cuba em setembro do ano passado. A Rússia é neste momento o oitavo sócio comercial de Cuba, com um volume de negócios da ordem dos US$ 240 milhões.
“Temos de aumentar o nosso comércio, o nível atual não é satisfatório”, comentou o presidente russo, que esteve em Havana em novembro, durante pouco mais de 24 horas, e teve um encontro com Fidel Castro.
A visita de Raúl a Moscou, além de oficializar o relançamento das relações entre os dois países, deterioradas desde meados da década de 1980, depois que Mikhail Gorbachev chegou ao poder na extinta União Soviética, constitui um momento de particular intensidade para o presidente cubano, um fervoroso adepto das relações tanto com a URSS quanto com a Rússia.
“Acho que posso dizer com toda a responsabilidade que Cuba, por si só, nunca poderia ter resistido ao monstro imperialista sem a ajuda soviética. Seríamos obrigados a pagar um preço terrível porque nunca pararíamos nossa luta, como não paramos depois da desintegração da União Soviética, e ficamos sozinhos num mundo hostil, muito próximos do vizinho do norte, que nunca parou de nos agredir”, comentou Raúl à agência russa Itar-Tass no início da semana.
Fragatas russas no Mar do Caribe?
Nos dias prévios à visita, observadores especularam sobre a possibilidade de a Rússia voltar a ser um fornecedor de armamento para Cuba. Nas conversas de ontem, o tema não foi aparentemente abordado. Raúl deve permanecer na Rússia até a próxima quarta-feira.
No entanto, o vice-presidente do parlamento russo, Oleg Morozov, disse numa entrevista que “estamos a reviver a nossa cooperação técnico-militar com Cuba, incluindo uma ampliação de nossa presença naval na ilha”.
Em novembro, coincidindo com a visita de Medvedev, o porto de Havana foi visitado por uma fragata russa, pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria. Na quinta-feira, Raúl viveu um regresso ao passado, quando Medvedev o convidou para almoçar numa dacha (casa de campo tipicamente russa) à beira do rio Volga, onde tanto o presidente cubano como o seu irmão, Fidel, passaram temporadas durante os tempos da União Soviética.
“Recordo com saudade o momento em que assamos um porco salgado no bosque. Não sei se desta vez voltarei a comer o mesmo, com pão integral, mas aqui estou”, disse Raúl ao seu homólogo russo. O prato não estava no menu original, mas ao regressarem de um passeio pelo bosque, o russo surpreendeu o cubano, satisfazendo o seu pedido.
A dacha pertenceu ao extinto birô político do Partido Comunista soviético e fica na aldeia de Zavidovo, a oeste de Moscou. ”Me dá muito prazer não só vê-lo de novo na Rússia, como neste lugar, onde descansou tantas vezes”, foram as palavras de boas vindas do presidente russo, que entregou-lhe um pesado casaco de pele de urso, para que Castro se protegesse das temperaturas negativas.
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