O reconhecimento da Palestina como Estado “livre, soberano e independente”, anunciado nesta sexta-feira (07/01) pelo ministro de Relações Exteriores chileno, Alfredo Moreno, gerou controvérsias tanto no país sul-americano, como no exterior. O ponto central de discórdia envolve a omissão dos limites territoriais reconhecidos como palestinos.
Para o presidente da Federação Palestina do Chile, Mauricio Abu-Ghosh, o anúncio do chanceler foi “um avanço positivo para gerar um novo impulso para as negociações”. Segundo ele, no entanto, o governo pecou ao não corroborar que as fronteiras reconhecidas são as da resolução 242 da ONU, de 1967, que determinava a retirada israelense dos territórios ocupados de Gaza, Cisjordânia e Jerusalém Oriental, durante a Guerra dos Seis Dias.
Um dia antes do reconhecimento, Abu-Ghosh havia declarado ao Opera Mundi que “seria uma grande decepção” se a resolução 242 não fosse citada na declaração oficial chilena. Após o anúncio, afirmou: “A questão das fronteiras está implícita nos parágrafos que mencionam genericamente as resoluções da ONU. Para que fiquemos 100% satisfeitos, o governo deve fazer um reconhecimento explícito destes limites territoriais.”
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Quando questionado sobre a ausência de menções às fronteiras do Estado palestino, o Ministério das Relações Exteriores do Chile respondeu que se posiciona segundo todas as resoluções da ONU. “Nossa intenção é que os países resolvam seus diversos problemas, que vão além dos limites fronteiriços – como a água, os refugiados da condição estabelecida por Israel e uma série de variáveis que têm de poder resolver”, justificou o chanceler.
Já o presidente da comunidade judaica no Chile, Gabriel Zaliasnik, elogiou a prudência das declarações do ministro. “Serão os israelenses e os palestinos quem definirão os aspectos medulares, como o das fronteiras. Para o povo judeu, Jerusalém e as fronteiras do Estado de Israel não podem ser entregues a terceiras partes”, afirmou ao jornal chileno El Mercurio.
Zaliasnik ressaltou também que “a prudência que o governo chileno tem demonstrado nos anima a pensar que o Chile continuará sendo o exemplo de convivência harmônica e prolífica das comunidades judaica e palestina”. “Certamente, um pronunciamento unilateral em outro sentido teria danificado potencialmente esta relação histórica”, garantiu.
Mais otimista em relação ao reconhecimento, a embaixadora da Palestina no Chile, Mai Al-Kaila, afirmou que recebeu a notícia oficial com “muita alegria e gratidão”, e convocou, durante uma entrevista coletiva, a comunidade judaica a avançar para a conquista da paz e do “reconhecimento mútuo” de ambos os estados.
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Defendendo-se com relação à controvérsia, o chanceler Alfredo Moreno afirmou achar que a ausência de menção às fronteiras, “é a maneira mais adequada de proceder”. “Não seremos nós, nem o Brasil ou a Argentina os que vão determinar quais serão os limites e será o processo de negociação o que o fará”, declarou a uma rádio chilena.
Israel, por sua vez, afirmou que a decisão chilena foi “um gesto inútil”. Segundo agência France Press, um funcionário do governo garantiu que o país não acredita que a decisão tenha influência nas negociações para a paz. A fonte cita também a ausência da menção do retorno às fronteiras de 1967 no reconhecimento do Chile.
As expectativas se direcionam agora para a primeira viagem que o presidente Sebastián Piñera realizará ao território palestino nos dias 4 e 5 de março. “Esperaremos para ver as tentativas de estabelecer acordos e tratados comerciais entre o Chile e o Estado palestino. Este é o próximo passo”, afirma Abu-Ghosh.
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