O apoio à educação judaica e mesmo ao iídiche parece ser forte na Região Autônoma (ou oblast, no termo russo) Judaica, localizada na Sibéria. Em pesquisa realizada em 1998 pelo Instituto Público de Fomento da Educação de Professores, um órgão local, e financiada pelo Ministério da Educação da Rússia, 90% de um universo de mais de mil habitantes (a maioria não-judeus) disseram concordar com a obrigatoriedade do iídiche na escola.
Leia a primeira parte:
O Sião esquecido de Stalin
No entanto, autoridades locais com quem conversei afirmam não saber o que os não-judeus acham da educação iídiche obrigatória, mas negam veementemente qualquer interferência oficial. Acrescentam com orgulho que seu apoio à cultura judaica é demonstrado pela decisão de financiar metade das comemorações do 75º aniversário.
De acordo com Valery Gurevich, vice-governador da região (ele é judeu, como o governador), “o iídiche deveria ser desenvolvido e sua morte deveria ser impedida, mas isso tem de ser feito voluntariamente. Se você tenta impor uma cultura aos outros, pode provocar protestos internos. Agora está tudo calmo, deixemos as coisas assim”.
Apesar dessas divisões, ninguém duvida que a cultura judaica e o iídiche estejam florescendo. Hoje, o iídiche é obrigatório em apenas uma das 14 escolas públicas (escola nº 23), mas a cultura e a literatura judaicas são estudadas em todo lugar. A partir de setembro, as escolas nº 7 e nº 14, representando um quarto dos estudantes da cidade, introduzirão aulas de iídiche obrigatórias para crianças de 6 a 10 anos, medida adotada voluntariamente por seus administradores, que se sentem responsáveis pelo desenvolvimento da cultura judaica.
Curiosamente, os esforços para ressuscitar as tradições judaicas e iídiches são liderados por não-judeus. Eles veem o judaísmo não exatamente como uma religião, e sim como parte de sua própria cultura, já que pioneiros judeus foram os principais responsáveis pela criação desta região.
Natalia Mohno, uma russa não-judia de 40 anos, por exemplo, é diretora da única escola totalmente judaica de Birobidzhan, o jardim-de-infância Menora, fundado há 25 anos e frequentado por mais de 100 crianças, na maioria não-judias.
“Pais não-judeus trazem os filhos para cá porque consideram tudo isso parte deles. Temos até crianças chinesas. As ucranianas gostam especialmente daqui. Todos estão interessados no iídiche e no judaísmo”, diz Mohno. Enquanto ela fala, ruidosos grupos de estudante passam em fila pelo corredor da escola. Alguns param para dizer “shalom” (saudação em hebraico).
Mais que um idioma
O caso de Mohno está longe de ser único. Elena Sarashevskaya, uma bela e jovial jornalista russa não-judia de 33 anos, é editora da seção em iídiche do principal jornal local, Birobidzhan Shtern, criado em 1934.
“O judaísmo e o iídiche são parte de minha cultura. Muitos autores que escrevem sobre a região só o fazem em iídiche, por isso foi normal meu desejo de aprender a língua. No começo foi bem difícil, as letras são incomuns, a leitura é da direita para a esquerda. Mas aprendi devagar e percebi que o iídiche é mais que uma língua, é uma cultura inteira, nossa cultura.”
Sarashevskaya trabalha há dez anos no jornal e seu marido é judeu. “Ele não sabia uma palavra de iídiche e conhecia muito pouco das tradições judaicas. Por isso, tive de ensiná-lo”, conta, entre gargalhadas.
A seção de duas páginas em iídiche publicada às sextas-feiras cobre eventos judaicos locais e inclui notícias curtas, histórias infantis e poemas de autores que, na maioria, vivem em Israel. Sarachevskaya admite que o número de seus leitores de iídiche tem diminuído, especialmente com a migração de judeus para Israel, mas afirma que a língua continua viva.
“Estão dizendo há muito, muito tempo que o iídiche está morrendo, mas ele ainda está aí. Contam que o povo judeu diz adeus, mas não vai embora. O iídiche é como os judeus.”
Google Maps
Ponto vermelho mostra localização da república judia
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