O presidente francês, Nicolás Sarkozy, realizou hoje (25) a primeira visita oficial de um chefe de Estado francês a Kigali, capital de Ruanda, após o genocídio de 1994. Entre abril e julho daquele ano, mais de 800 mil pessoas da etnia tutsi foram mortas por ruandeses da etnia hutu, de acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas).
“Em nome do povo francês, me inclino ante as vítimas”, foram as primeiras palavras de Sarkozy enquanto visitava um memorial aos mortos, segundo a AFP. A França é acusada pelo governo ruandense de participação no genocídio. Documentos secretos revelados em 2007 pelo jornal francês Le Monde mostraram que o país, sob o comando do então presidente François Miterrand (1981-1995), seguiu apoiando os líderes de Ruanda, mesmo ciente de que o massacre era iminente e estava sendo planejado com antecedência.
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Mais tarde, em reunião com o presidente ruandense, Paul Kagame, Sarkozy foi mais longe e reconheceu “os erros” de seu país. “O que aconteceu aqui é inaceitável, e obriga a comunidade internacional, inclusive a França, a refletir sobre os horrores que poderiam ter sido evitados”, disse. Entre os erros, Sarkozy reconheceu que seu país “não percebeu a dimensão genocida do governo do presidente que foi assassinado”.
A série de assassinatos em 1994 foi iniciada após a morte do presidente Juvenal Habyarimana em um atentado a seu avião e só teve fim quando a Frente Patriótica Ruandesa, liderada por Kagame, venceu uma guerra civil.
O governo ruandense acusa políticos e militares franceses de ter apoiado e treinado militares hutus. A justiça francesa, por sua vez, acusa os colaboradores de Kagame de ter abatido o avião de Habyarimana, detonando o massacre.
Em um determinado momento do passeio pelo memorial, Sarkozy se deparou com uma fotografia que mostra um veículo militar francês passando em frente a um grupo de civis armados com fuzis, com a legenda: “A França teve seu papel em armar e treinar as formas armadas ruandesas”.
“Aqui está a responsabilidade da França”, disse o guia, enquanto Sarkozy observava a imagem em silêncio, segundo a France Presse. Mais à frente, o mesmo guia mostrou ao presidente francês um retrato do secretário-geral da ONU à época, Kofi Annan, e lembrou que o ganense havia pedido perdão pelo pífio desempenho da organização em 1994. Sarkozy permaneceu calado.
Relações tensas
França e Ruanda anunciaram o restabelecimento das relações diplomáticas em 30 de novembro de 2009, três anos após a ruptura e um dia após a Commonwealth britânica admitir o país africano – antiga colônia belga – como sócio.
Kigali rompeu com Paris no fim de 2006, após um juiz francês ordenar a detenção de várias pessoas próximas a Kagame, de etnia tutsi, suspeitas de estarem implicadas no atentado que acabou com a vida de Habyarimana.
Após uma recente viagem à capital ruandense, o ministro das Relações Exteriores francês, Bernard Kouchner, afirmou que a visita de Sarkozy é crucial para a França manter uma influência relevante na zona dos Grandes Lagos africanos.
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