* Atualizada às 18h21 com a confirmação do Ministério das Relações Exteriores
Um homem branco europeu quer vir ao Brasil ensinar técnicas de como “pegar mulheres”. Entre uma “lição” e outra, seu discurso está cheio de elementos preconceituosos e que, no Brasil, constituem crime: violência contra a mulher, racismo e, inclusive, apologia ao estupro. Ao tomar conhecimento do fato, a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República pediu, nesta quarta-feira (12/11), que o ministro da Justiça, José Eduardo Cardoso, “tome as providências cabíveis” para evitar que o curso ministrado por Julien Blanc seja realizado.
Procurada por Opera Mundi, a assessoria do Ministério das Relações Exteriores sinalizou que não concederá o visto de entrada a Julien Blanc, afirmando que “já existem elementos suficientes” para barrá-lo. “Caso uma solicitação de visto seja recebida por qualquer Embaixada ou Consulado no exterior, já existem elementos suficientes que recomendam a denegação”, diz a nota enviada pelo Itamaraty. Até o momento, não há registro de pedidos para a concessão de visto a Blanc. O MRE diz que seguirá acompanhando o assunto “em coordenação” com o Ministério da Justiça e a Secretaria de Políticas para as Mulheres.
Twitter: @RSDJulien
Imagens divulgadas por Blanc no Twitter mostram suas “técnicas” em ação
O posicionamento da Secretaria de Políticas para as Mulheres foi seguido por outras organizações e movimentos sociais que começaram uma campanha denunciando o teor do curso chamado “PIMP”, gíria norte-americana que significa “cafetão”. A petição, criada na internet para solicitar que a entrada de Blanc no Brasil seja negada, teve, até o fechamento desta matéria, 260 mil assinaturas.
Os signatários argumentam que a proibição da entrada de Blanc é “fundamental para combater a violência contra as mulheres”. Os cursos “exaltam a cultura do estupro, crimes de agressão emocional e física contra mulheres, o racismo e o profundo desrespeito pelas mulheres”, diz a petição no Avaaz.
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Antes da posição oficial do Itamaraty, o diplomata Hugo Lorenzetti Neto, lotado em Nova Déli, na Índia, já havia adiantado, em sua conta no Facebook, que a orientação dada a todos os consulados e postos consulares foi de negar o visto ao “instrutor de estupro”.
Além disso, o vereador do Rio de Janeiro Renato Cinco (PSOL) apresentou um projeto de decreto legislativo para tornar Blanc uma “persona non grata” na cidade. “Não queremos uma pessoa que traga mensagem de violência contra as mulheres. A mensagem dele é criminosa. Ele orienta os homens a ignorarem o ‘não’. Ele defende o estupro”, afirmou Cinco.
A cada 10 minutos, uma mulher é estuprada no Brasil, de acordo com dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. Somente em 2013, mais de 143 mil mulheres teriam sido estupradas. Número que pode ser ainda maior devido à quantidade de pessoas que, por medo ou vergonha, não denunciam os abusos. Com base neste dado, a secretaria ressalta que “repudia qualquer estratégia e instrumento que incentivem a violência contra as mulheres, incluindo os estupros”.
Rejeição mundial
O conteúdo dos cursos causou problemas também em outros países. Na última semana, Blanc e sua equipe foram deportados da Austrália. A razão para a expulsão e revogação do visto foi a coleta de assinaturas em uma petição online, que obteve mais de 46 mil adesões.
Entre as técnicas ensinadas por ele estão: puxar a cabeça de mulheres em direção ao pênis, agarrá-las pelo pescoço (num sufocamento sugerido) e beijá-las à força. Além disso, defende que “um homem branco pode fazer qualquer coisa”.
Twitter
Imagem retirada do Twitter de Blanc mostra algumas das lições na hora de chegar em uma mulher
O suíço Julien Blanc é um dos “instrutores” da empresa “Real Social Dynamics”, que se define como um centro de conselhos de namoro e dinâmicas sociais. No quadro divulgado por ele no Twitter Blanc ensina “como fazer ela ficar”. Ele estimula claramente a violência física e sexual. “Use intimidação”, “abuso emocional”, “isolamento”, “privilégio masculino”, “abuso econômico”, “coerção e ameaças”.
A visita estava prevista para janeiro e as palestras seriam ministradas no Rio de Janeiro e em Florianópolis. O valor cobrado para tais aconselhamentos é de até US$ 497 para conselhos por seis meses. No Brasil, um dos seus workshops sairia por R$ 1.980.
Veja o vídeo da apresentação de Blanc no Japão (em inglês):