O governo da Colômbia está comemorando nesta quinta-feira (23/9) o que considera “o fim” da ala militar mais dura das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
O ministro do Interior, Germán Vargas Lleras, afirmou que a morte de Jojoy é “um golpe contundente” no poder de fogo da guerrilha, a mais antiga do continente, que há quatro décadas conduz a luta armada contra o regime na Colômbia.
“Acho que hoje é um grande dia. Todos devemos nos sentir muito satisfeitos de que pessoas dessa natureza tenham sido abatidas”, afirmou.
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No entanto, embora o governo tenha se apressado em celebrar, analistas e especialistas no conflito colombiano ouvidos pelo Opera Mundi têm visões bastante divergentes sobre o que virá a seguir.
O analista Alfredo Rangel, especializado no estudo das FARC e primeiro a teorizar a necessidade da chamada política de “segurança democrática”, o processo de enfraquecimento da guerrilha é “absolutamente irreversível”, tanto no terreno político quanto no militar.
“Para as FARC, não vem outra cosa além de um futuro negro. Eles não têm nenhuma possibilidade de recuperar sua força militar. O impacto psicológico e a desmoralização causados por este golpe levarão a dezenas ou centenas de membros da tropa e até do médio escalão que vão sair do combate. Não descarto nem ver chefes de frentes que decidam abandonar as armas diante da falta de futuro da organização”, diz.
Financiamento
Outros, como Ariel Ávila Martínez, coordenador do observatório do conflito armado do think tank Nuevo Arcoíris, concorda sobre a gravidade das consequências do ataque, mas não sobre o futuro do grupo.
“É um golpe muito duro por duas razões: primeiro, no nível estrutural, Mono Jojoy administrava tudo, desde as compras para as tropas até os combates. Há homens que podem substituí-lo, mas a figura dele era tão simbólica, quase um mito, que, ao vê-lo morrer, algumas frentes de combate podem se destruturar e ocorrerem muitas deserções. Segundo, é um golpe muito duro também no nível econômico, porque o chamado Bloco Oriental é o verdadeiro coração das FARC e o que dava mais dinheiro”.
Martínez lembra que essa coluna, que era comandada por Jojoy, era o maior dos “blocos” da guerrilha, com 32 células e quase 4 mil homens.
“Não é um golpe que pode ser assimilado facilmente, mas não acho que seja o fim das FARC. Isso é um processo ainda muito longo”, prevê.
Linha-dura
Segundo Martínez, Jojoy era também o único membro do secretariado das FARC que vinha da classe camponesa. “Agora, os que sobraram são radicais, dogmáticos criados na época do muro de Berlim, e é uma ilusão pensar que será mais fácil negociar do que com a velha guarda”, alerta.
A líder do partido Pólo Democrático (de oposição), Clara López, expressou um ceticismo parecido e afirmou que o conflito armado não deve gerar felicidade para ninguém.
“Isso de que estamos perto do fim das FARC ou do fim do fim, eu escuto há 50 anos. Este fim do fim pode durar mais 30 anos. É claro que a guerrilha nunca vai ganhar do exército, mas também é claro que tampouco o exército vai ganhar da guerrilha. A solução é buscar uma saída negociada para o conflito”, defende.
Piedade
A igreja também se expressou sobre a morte do guerrilheiro, fazendo um apelo pela paz. “Não se pode comemorar a morte de nenhum ser humano”, disse nota oficial da Diocese de Bogotá, insistindo na necesidade de as FARC e o governo sentarem para dialogar.
Enquanto isso, no Twitter, a polêmica esquentou entre o ex-vice-presidente Francisco Santos, que ocupou o cargo no governo de Álvaro Uribe (2002-2010) e hoje é diretor da rádio RCN, além de primo do atual presidente, Juan Manuel Santos.
“Um princípio cristão: é preciso ter misericórdia de Jojoy e enterrá-lo com piedade”, escreveu, fazendo um trocadilho com a senadora Piedad Córdoba, mediadora do conflito com a guerrilha. A alusão de Santos sugere que seria preciso “enterrar” a senadora, pelo menos politicamente.
Piedad Córdoba preferiu não responder, mas setores próximos à senadora disseram que o tweet foi encarado como uma ameaça ou pelo menos uma incitação à violência em um país como Colombia, onde a senadora já foi sequestrada e teve um assessor assassinado.
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