Com 26 anos, Juan Camilo cresceu rodeado pelas minas terrestres que os autores do conflito armado colombiano semearam em Antioquia, o departamento mais “minado” do país. Quando criança, ele deixou suas terras por medo dos conflitos entre as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e os grupos paramilitares que atuam na região.
Quando em março de 2015 resolveu voltar para suas terras, não sabia, mas a região ainda estava minada: “mais de uma vez caminhei por ali. Não sabia que havia minas, descobri só depois, quando começou a desminagem, que havia seis artefatos explosivos”, relata. “Decidi voltar porque agora a região está tranquila”, diz.
Orsetta Bellani
Juan Camilo mostra suas plantações no povoado La Honda, em Antióquia
Em setembro de 2015, a organização não-governamental britânica Halo Trust devolveu a Camilo a terra já livre da suspeita de minas terrestres.
A região montanhosa foi palco de diversos enfrentamentos entre a guerrilha, que controlava Antióquia, e as AUC (Autodefesas Unidas da Colômbia), grupo paramilitar criado nos anos 1990 com o apoio do Exército e das organizações criminosas para defender os interesses dos grandes latifundiários e empresários do país, que controlava os povoados vizinhos. De acordo com a procuradoria-geral da nação, as AUC são responsáveis por mais de mil massacres e de 25 mil assassinatos.
O Exército colombiano não usa minas terrestres desde 1997, quando assinou a Convenção de Ottawa (Canadá), que proibiu este tipo de arma em combates. Sobre o uso feito pelas FARC, Leonardo Ilich Rojas, ex-combatente da guerrilha esclarece que “as FARC colocam minas para frear o avanço dos soldados e não é verdade que as plantam ao redor de escolas”.
Ele observa, no entanto, que “antes eram colocadas minas grandes, agora a quantidade de explosivo foi reduzida para que a pessoa não morra. A decisão responde principalmente por uma consideração militar: para o Exército, um ferido é mais caro que um morto e freia seu avanço, porque ele tem de ser carregado por dois soldados.”
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Outro ex-guerrilheiro, do município de Argelia, que preferiu não revelar seu nome, trabalhou durante seis anos plantando minas montadas pelas FARC. Após deixar a guerrilha, teve de se integrar ao Exército, onde teria tarefas de desminagem. “Quando deixei a guerrilha tive de voltar ao Exército. Eu já não queria pegar um fuzil em minha vida, mas me disseram ‘você tem de ir ou o colocamos na prisão’. Então estive no Exército por um mês”, relata o ex-combatente que diz ter visto muitos companheiros morrerem ou serem mutilados depois de explosão de minas.
Desminagem
No dia 7 de fevereiro de 2015, a mesa de negociação de Havana anunciou um programa de retirada das minas do território — independente do trabalho realizado pelas organizações não-governamentais — no qual guerrilheiros e militares trabalham juntos e que representa o primeiro resultado concreto entre as partes até agora.
Reprodução/Mine Free World Foundation
Minas e artefatos explosivos fizeram mais de 11 mil vítimas, entre mortos e feridos, na Colômbia desde 1990
As minas plantadas pelas Farc são pequenos artefatos artesanais que valem pouco mais de US$ 4. De acordo com um relatório do Landmin Monitor, desde 1990, na Colômbia, 11 225 pessoas morreram pela explosão de minas, e em 2014 o país sul-americano foi o segundo do mundo, só atrás do Afeganistão, em número de acidentes.
Em 1997, com a assinatura da Convenção de Ottawa, o governo colombiano se comprometeu a deixar de plantar minas antipessoais, a destruir as que possui e a ajudar as vítimas, que, no entanto, denunciam a falta de apoio por parte das instituições. Com o acordo, o governo se comprometeu também a concluir a desminagem até 2013, mas pediu para que o prazo fosse ampliado até 2021. Não será fácil cumprir o compromisso: de acordo com especialistas, para remover as minas de todo o país podem ser necessários mais 70 anos.