O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, dará explicações hoje (21) sobre a política de segurança nacional de seu governo, com a intenção de acalmar os ânimos do Congresso e da opinião pública. Recentes decisões como a de manter em funcionamento as polêmicas comissões militares instituídas para julgar os suspeitos de terrorismo detidos em Guantánamo, ou de se opor à divulgação de fotografias documentando o abuso de prisioneiros no Iraque e Afeganistão, têm sido alvo de intenso debate político. E ontem mais um capítulo foi escrito: Barack Obama sofreu sua primeira derrota legislativa. Durante a madrugada, por 90 votos a 6, os senadores federais recusaram um pedido de 80 milhões de dólares para fechar a prisão de Guantánamo, onde estão 240 prisioneiros.
O fechamento da base foi uma das principais promessas eleitorais de Obama, tanto que horas depois de assumir a presidência em janeiro, assinou uma ordem executiva estabelecendo o encerramento no prazo de um ano. Ao negarem o dinheiro a Obama, os senadores virtualmente o impediram de levar adiante seus planos de encerramento da prisão.
A Câmara dos Deputados Federal já tinha seguido decisão similar, com o argumento de que o presidente pediu o dinheiro sem apresentar um plano detalhado de aplicação do valor.
A maioria dos deputados, conforme apurou Opera Mundi juntos a fontes legislativas, ainda apóia a ideia de Obama, mas pensa que a única forma de convencer os norte-americanos a aceitarem o traslado dos presos para continente é apresentar um plano melhor detalhado.
Não na minha rua
Nas últimas semanas, senadores, deputados federais, governadores, diretores de prisões e chefes policiais se recusaram a receber presos da guerra contra o terrorismo em seus estados.
Como os Estados Unidos não é uma república, mas sim um estado federal, as instituições estatais tem grande poder de decisão nesta matéria.
“Isto não é fácil, ainda temos um longo caminho a percorrer. É preciso convencer os meus colegas mas também a opinião pública”, assinalou o líder da maioria democrata no Senado, Harry Reid.
Na segunda-feira (18), o diretor do FBI Robert Mueller não foi de grande ajuda para o presidente. Mueller disse à comissão judicial do Senado que a mudança dos presos de Guantánamo para os Estados Unidos “representa um sério problema de segurança”. “Se os tribunais decidem que alguns devem ser libertados em nosso território, esse perigo seria maior”, sublinhou.
Erro
Examinando este cenário, o analista da Universidade Internacional da Florida, Daniel Alvarez, acha que o presidente norte-americano cometeu um erro de apreciação “notável”.
“Os norte-americanos assustam-se com muita facilidade perante o desconhecido. A maioria dos xerifes e diretores de prisão do país não tem a mínima ideia de como lidar com muçulmanos, não sabem o que é Meca, o Corão ou os hábitos alimentares. Mas também não lhes interessa. Não querem mais problemas à sua volta e não tem a intenção de facilitar a vida para Obama”, afirmou Alvarez ao Opera Mundi.
O analista, que segue a carreira de Obama há vários anos considera, contudo, que o plano poderia ser aprovado caso sugerissem colocar os presos em uma ilha do país. Onde? “Não sei. São capazes de reabrir Alcatraz, na baía de São Francisco”, acrescentou, em tom de brincadeira.
Próximos dias
Ontem, o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, garantiu que “o presidente sabe que o mais importante é garantir a segurança de todos nós”.
“O presidente está neste momento olhando as minúcias de muitas decisões que tomará nos próximos dias relacionadas com isto e com esta situação [a derrota no Congresso]. Vão ser decisões difíceis. É preciso ter em conta que na administração anterior tomaram decisões muito complicadas que agora vão ser muito difíceis de serem desfeitas”, disse Gibbs.
Mas o problema não se limita ao traslado dos presos. Se supõe que no fim de junho o grupo de trabalho que Obama criou para montar o mecanismos legislativos e estabelecer as regras necessárias para tratar os presos em território dos Estados Unidos, apresente suas conclusões. “Espero que quando este plano esteja pronto, os meus colegas percebam que devemos apoiar o presidente nisto”, acrescentou Reid.
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