Rafael Duque/Opera Mundi
“Como vamos pedir igualdade na Europa quando exigimos privilégios dentro da Espanha?” Está é a ideia que resume o pensamento de Maria Teresa Giménez Barbat, escritora e presidente da Associação Cidadãos da Catalunha, movimento criado em 2006 por intelectuais catalães que se opunham ao crescente sentimento separatista da região. Maria Teresa foi uma das fundadoras da agregação, que deu origem a um partido de mesmo nome.
Após conseguir emplacar três deputados nas eleições regionais em seu ano de fundação, o Ciutadans (Cidadãos, em catalão) passou por uma divisão interna e alguns de seus principais membros abandonaram a legenda. Maria Teresa estava entre os afiliados que deixaram o partido, mas seguiu dentro da associação. Ela agora milita no UPyD (União Progresso e Democracia), sigla que abrigou grande parte dos políticos que deixaram o Ciutadans. Apesar da mudança, ela afirma que ambos são “partidos irmãos” e que embora se apresente como segunda na lista de candidatos do UPyD nas eleições catalães está “contente com a possibilidade de o Ciutadans dobrar o número de deputados no Parlamento”.
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Em entrevista a Opera Mundi, a presidente da associação critica a nova onda independentista. Para ela, o partido governista CiU (Convergência e União) quer esconder a má gestão e os cortes orçamentários dos últimos anos. Maria Teresa ainda comenta a provável perda de eleitores do PSC (Partido Socialista da Cataunha), segunda força política da região. As eleições regionais espanholas acontecem neste domingo (25/11).
Opera Mundi – Qual o principal tema da eleição?
Maria Teresa Giménez Barbat – O que está claro é que nos estão levando a uma separação terrível, a uma independência. Alguns políticos e alguns grupos políticos que foram hegemônicos na Catalunha durante muitos anos e que agora tiveram um fracasso evidente de sua gestão e que também estão envolvidos em casos de corrupção […] tentam fugir destes assuntos. Neste momento, eles mudaram as regras do jogo. Eles disfarçaram toda a corrupção e má gestão colocando o tema em cima da mesa. No partido UPyD, do qual faço parte, vamos sair diretamente com o nosso lema: não à independência. Colocaram em discussão algo que pode ser mais perigoso do que [a crise que] está acontecendo agora, que é esta possibilidade de ruptura. Mas nós queremos falar da crise econômica, do desemprego terrível que existe na Catalunha, da má gestão dos recursos da Catalunha, desta construção de um Estado utópico que estão fazendo na Catalunha.
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OM – A crise econômica tem algum papel nessa nova onda separatista?
MTGB – Ela tem influência no sentido de que até agora a proporção de independentistas declarados na Catalunha oscilava em torno de 20%. Agora, conforme observamos nas manifestações — alguns dizem que foram 600 mil, outros 1,5 milhão de pessoas –, é muito possível que tenham arrastado pessoas enganadas, dizendo-lhes que a solução de todos os seus problemas seria esta. Além disso, houve uma grande bolha causada pelo temor sobre o que vai acontecer com a economia catalã e espanhola.
OM – A forma usada por Mariano Rajoy para tratar a crise com Artur Mas foi determinante?
MTGB – O governo não está indo ao centro do problema. O desperdício de dinheiro no sistema autonômico da Espanha, com muitas repetições de estruturas e sobreposições de funções, é grande. Rajoy não está solucionando estes problemas estruturais. Na verdade, os está piorando. E também promove recortes onde não se deveria, nas coisas que realmente importam para as pessoas, como educação e saúde. Com relação a Mas, Rajoy não pode conceder nada que não faria aos demais. […] E muito menos quando ocorre uma chantagem. Como catalã, não quero que me deem nada que não possam dar a ninguém mais. Não apenas porque eu seja boa ou algo parecido, mas porque também não queremos que ocorra isso na Europa. Como vamos pedir igualdade na Europa quando exigimos privilégios dentro da Espanha? Quando Mas esteve em Bruxelas no dia 9 de novembro, lhe perguntaram justamente isto. “Vocês querem separar-se de umas pessoas porque não acreditam que devem ser solidários com elas, mas quando chegarem à Europa ocorrerá o mesmo com vocês.” Essa é a questão.
OM – E qual é a sua opinião sobre a mudança de postura do Partido Socialista da Catalunha (PSC), que agora defende uma consulta popular?
MTGB – Todos esses solavancos do Partido Socialista, tanto na Espanha como na Catalunha, são o motivo pelo qual eles vão acabar como um partido irrelevante nacionalmente. Eles não têm uma linguagem homogênea. Agora, estão tirando da manga esta questão do federalismo, quando de alguma forma o sistema autonômico já queria ser federal. So não é porque regiões como o País Basco e Navarra, que por problemas conjunturais da transição, obtiveram privilégios que os outros não possuem. Queremos uma federação que funcione. O que acontece é que o que se almeja na Catalunha, inclusive por parte do partido socialista, é esta coisa extraordinária da assimetria. Algo que compreendem alguns socialistas, mas o resto das pessoas não.
OM – O que significaria um Parlamento com maioria absoluta do CiU?
MTGB – Não acredito que eles conseguirão. Porém, se sim, seria muita tensão. A única coisa que o governo precisa fazer é ignorar. Como eles irão declarar independência? Além do mais, todas as declarações que estão fazendo os dirigentes independentistas são absurdas. Chegou-se ao extremo do senhor [Oriol] Junqueras [presidente do ERC] dizer outro dia que “não, não sairíamos da Europa porque poderíamos conservar a cidadania espanhola”. Ou seja, eles não sabem o que fazem, há uma falta de rigor intelectual que realmente, como catalã, me envergonha muito. E, sobretudo, porque estão levando para a Europa um tipo de discurso que nos rebaixa muito, pois é infantil e insensato.
OM – Você imagina uma Catalunha independente nos próximos anos?
MTGB – Não, eu acho que a Catalunha não será independente. Eu não imagino que isso ocorra.
OM – Os partidos estão se aproveitando da situação de crise econômica?
MTGB – Sim. Se aproveitam de um Estado fraco, em um momento de descontentamento. Em vez de ajudar para que todos possamos sair da crise, aproveitam para tocar sua própria agenda, a agenda independentista. Aproveitam-se do sofrimento do povo para levar adiante um projeto utópico, que beneficia apenas algumas elites. Uma camada da população que há anos parasita na administração publica catalã.