Uma nova palavra entrou no vocabulário francês. “Bossnapping” (termo em inglês que pode ser traduzido como “sequestro do chefe”, uma abreviação de “boss kidnapping”) tornou-se um modo de protesto dos trabalhadores indignados na França, contra o fechamento de fábricas ou cortes de pessoal. Vários diretores de fábrica e de recursos humanos foram mantidos reféns durante até 36 horas por seus empregados.
A França tem uma conhecida tradição de protesto público, mas transformar empregadores em reféns é um método que praticamente desaparecera desde os anos 1970. Sete casos ocorreram em março e abril deste ano, fora dois em que os chefes foram apenas proibidos de deixar o escritório por algumas horas. Em nenhum deles houve violência.
Os executivos das fábricas foram apenas mantidos em seus escritórios ou em salas de reunião e liberados no dia seguinte, na maioria dos casos depois de fazer concessões aos trabalhadores ou com a promessa de novas rodadas de negociações. Em uma das fábricas, um empregado chegou a ressaltar que levou croissants para o café da manhã do diretor.
“Não é um comportamento revolucionário. O objetivo não é demitir o chefe ou mudar a empresa”, explica Guy Groux, estudioso especializado em sindicatos franceses. “É uma ferramenta usada por trabalhadores que serão condenados ao desemprego e querem mais garantias para encarar isso”.
Desde o início da crise econômica, a França viu a taxa de desemprego saltar: estima-se que chegue a 11% até o fim do ano. “Em um contexto de diálogo social difícil, o 'bossnapping' é um recurso que pode dar poder aos trabalhadores, ainda que por pouco tempo”, afirma Groux. “Ele tem um papel simbólico, mas também almeja uma certa repercussão, pois as pessoas encarregadas de tomar decisões estão no exterior na maioria desses casos”.
Apoio da opinião pública
Isso pode explicar por que quase dois terços dos franceses manifestam simpatia pela prática do “bossnapping”. E por que as associações patronais relutam em intervir, mesmo que a possível pena para a prática chegue a 20 anos de prisão. Até agora, a polícia não teve de agir e as autoridades enviaram mediadores para aliviar a tensão. Apenas uma companhia, a Caterpillar, apresentou queixa, sem dar os nomes dos trabalhadores que prenderam os chefes.
O governo condena a prática e promete fazer o possível para evitar a repetição desse fenômeno tipicamente francês. Paris insiste que tal comportamento abalará a imagem da França e evitará que investidores estrangeiros abram negócios no país.
“Mas os investidores estrangeiros são muito menos estúpidos do que o governo quer que acreditemos”, diz Groux. “Eles simplesmente observam os números e veem sete casos de 'bossnapping' num país com milhões de empresas. Não acho que estejam impressionados. O movimento funcionou bastante bem com a Sony e por isso outros tentaram. Mas já está perdendo força e os trabalhadores estudam outros modos de agir”.
Pesquisa divulgada em abril mostrou que dois terços dos entrevistados se opunham a ações legais contra os “seqüestradores”, segundo o Financial Times. Em outra consulta, metade disse que ações como essa são aceitáveis no atual contexto econômico.
Leia também:
Reforma provoca paralisação das universidades francesas
NULL
NULL
NULL