O governo da Somália decretou hoje (20) estado de emergência no país, depois que o Parlamento pediu aos países vizinhos uma intervenção militar imediata para salvar a administração do presidente Sharif Sheikh Ahmed, ameaçada por grupos radicais que tentam derrubá-lo.
Em reunião no escritório do primeiro-ministro, o gabinete aprovou um decreto, que ainda deve ser assinado por Sheikh Ahmed, no qual “se declara o estado de emergência e se pede ao mundo e aos países vizinhos para que nos ajudem rapidamente e salvem o governo”, disse o ministro da Informação, Farhan Ali Mohamud.
“As células da Al Qaeda no país estão retirando a bandeira somali de onde estão e trocando por uma preta, que significa que o país está sob o poder da Al Qaeda”, afirmou Mohamud em entrevista coletiva.
Ele pediu ao povo somali para “salvar sua soberania” e ressaltou que os grupos fundamentalistas islâmicos que lutam contra o governo, entre eles o Al-Shabab, estão liderados em Mogadíscio por “um general paquistanês que se uniu à Al Qaeda”.
Mais cedo, o presidente do Parlamento, Sheikh Aden Mohammed Noor, pediu a Etiópia, Quênia, Iêmen e Djibuti para enviarem tropas imediatamente, “ou serão os próximos caso os terroristas tomem o poder aqui”. “A Somália está em perigo. Pedimos ao mundo e aos países vizinhos que intervenham em 24 horas”, disse.
O Governo de Sheikh Ahmed, segundo o líder parlamentar, está a ponto de ser deposto por grupos radicais islâmicos liderados pelo Al-Shabab, que os Estados Unidos vinculam com a Al Qaeda.
A milícia e outras organizações radicais islâmicas, apoiadas por centenas de combatentes estrangeiros e comandadas por um paquistanês vinculado com a Al Qaeda, iniciaram em 8 de maio uma ofensiva contra o governo.
Mortes na capital
No norte de Mogadíscio foi registrada hoje uma intensificação dos confrontos que começaram na sexta-feira, nos quais pelo menos 15 pessoas morreram e 60 ficaram feridas, disseram à agência Efe serviços médicos e de saúde.
Milhares de pessoas não conseguem sair das regiões situadas entre as forças do governo e os rebeldes, que foram expulsos de algumas áreas ocupadas ontem, segundo alguns moradores.
Muitas pessoas também começaram a abandonar Mogadíscio e seus arredores depois que o presidente do Parlamento pediu a intervenção imediata das tropas estrangeiras.
Neste país, os habitantes lembram com temor a atuação e as muitas vítimas civis deixadas pelas tropas etíopes nos dois anos que estiveram na Somália, entre 2006 e 2008, para apoiar o governo de transição anterior, respaldado pela ONU.
A atual situação na Somália é uma das piores das duas décadas de anarquia vividas pelo país, que não tem um governo firme desde que o ditador Siad Barre foi derrubado, em 1991, e que “senhores da guerra” e organizações islâmicas armadas tomaram o poder e repartiram o território.
Nos últimos dias, várias autoridades somalis morreram. A última vítima fatal foi o parlamentar Mohammed Hussein Addow, um antigo senhor da guerra morto ontem à noite quando liderava as milícias governamentais no bairro de Karan, em Mogadíscio.
Na quinta-feira, o ministro de Segurança Interior, Omar Hashi Aden, morreu em um atentado suicida na cidade de Baladweyne, no centro, junto com pelo menos 37 pessoas.
No dia anterior, o comissário de polícia de Mogadíscio, coronel Ali Said Sheikh Hassan, havia morrido em um confronto com rebeldes.
Fugindo de casa
O ministro de Assuntos Exteriores queniano, Moses Wetangula, após se reunir com enviados da União Europeia, insinuou que o país poderia realizar uma intervenção militar.
A Missão da União Africana na Somália (Amisom) tem cerca de 4.300 soldados de Burundi e Uganda na zona de Mogadíscio, mas eles apenas protegem o palácio presidencial e algumas instalações essenciais, como o aeroporto.
Desde 8 de maio, quando começou a ofensiva contra o governo, cerca de 450 pessoas morreram em decorrência da violência na Somália, segundo diversas fontes, e pelo menos 117 mil fugiram de suas casas em Mogadíscio, segundo a ONU.
NULL
NULL
NULL