Quatro anos após iniciar o primeiro governo de esquerda do Uruguai, o presidente Tabaré Vázquez realizou no último sábado (7) um balanço de sua gestão, num ato público em Montevidéu.
Enumerou conquistas, reconheceu que há pendências e afirmou que o povo não precisa de “campanhas publicitárias ou relatórios” para perceber as mudanças no país. “Todas são sentidas no dia-a-dia”, discursou perante milhares de partidários, mas em número bem menor em comparação com o discurso de posse, em 1º de março de 2005.
Enquanto uns gritavam “Tabaré, és el único!” e “Viva Tabaré”, outros protestavam em silêncio, com cartazes que recordavam ao presidente que seu veto à lei da saúde sexual e reprodutiva condenou anos de luta pela descriminalização do aborto. Outros criticavam o apoio do governo à revisão da anistia para os acusados de tortura no regime militar, assunto em tramitação na Suprema Corte.
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No início do discurso, Tabaré, que tem 61% de popularidade, a mais alta desde a volta da democracia ao Uruguai, afirmou que seu governo aproveitou o crescimento econômico para “reduzir as brutais vulnerabilidades do país” e está mais bem preparado para a crise. Admitiu, porém, que ainda resta “muito a ser feito”. “Temos que melhorar a distribuição da riqueza. Mas não somos mágicos, somos humanos”.
A respeito da crise internacional, afirmou que o Uruguai deve ser ainda mais “prudente com os gastos públicos”. “Vamos evitar cair nas políticas pro-cíclicas do passado, que derivavam do ajuste fiscal”.
Pobreza
O presidente uruguaio recordou que atualmente um em cada cinco uruguaios é pobre, contra um para três em 2004; que se conquistou um recorde de inscrições na seguridade social; que praticamente quadruplicaram os investimentos em saúde e triplicaram em educação. Agradeceu ao governo de Cuba pelo apoio à instalação do Hospital dos Olhos e ao governo da Venezuela pela doação para a construção do Instituto Nacional do Câncer.
“Desapontamos aqueles que torciam contra, mostramos que um governo progressista sabe manejar a economia e que o fizemos melhor do que outros governos”, afirmou.
Concluiu seu discurso agradecendo a sociedade uruguaia. “Em março de 2005, pedimos: ‘Não nos deixem sozinhos’. E vocês atenderam ao pedido. Muito obrigado”. O mandato termina dentro de um ano e a campanha dos pré-candidatos à sucessão já está começando.
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Reação
A oposição questionou Tabaré pelo ato de sábado. O pré-candidato com a maioria das intenções de voto do Partido Nacional, Jorge Larrañaga, afirmou ao Opera Mundi que o presidente fez um discurso “tedioso” e “acredita que o Uruguai se refundou a partir do 1º de março de 2005”.
“Recebemos com muita tranqüilidade, porém surpresos, a informação de que o presidente deprecia a oposição. É um presidente que sabe que tem os dias contados e pretende enviar uma mensagem interna à sua força política, pensando na candidatura para 2014”.
A candidatura do presidente para as eleições de 2014 é dada como certa dentro da Frente Ampla. Não existe reeleição no Uruguai. A realização de uma campanha para mudar a Constituição e permitir que Tabaré se candidatasse de novo neste ano não teve sucesso. Os organizadores conseguiram coletar somente metade das assinaturas necessárias para a convocação de um referendo.
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