A nova taxa aplicada a medicamentos vitais para o tratamento de pessoas que sofrem de doenças crônicas como câncer, artrite, hepatite e esclerose múltipla ligou o sinal de alerta em diferentes grupos e associações na sociedade civil espanhola. Apesar de o governo central ter instado as Comunidade Autônomas a iniciarem a cobrança no dia 1o de outubro, nenhum governo local começou a cobrar o valor estipulado pela administração do Partido Popular (PP).
Em entrevista a Opera Mundi, Carmen Menéndez, coordenadora da comissão de Saúde da Federação Espanhola de Famílias com Crianças com Câncer, explicou que este é pelo menos o terceiro aumento nos custos destas famílias afetadas em menos de um ano. Em um país onde o salário mínimo é de 752,85 euros, ela afirma que os gastos deste grupo, antes da mais nova taxa, chegavam a 500 euros mensais.
Opera Mundi: Como funciona a Federação Espanhola de Pais com Crianças com Câncer?
Carmen Menéndez: Nós somos representantes de praticamente todas as crianças que têm um problema de câncer na Espanha. Nossa federação tem 16 associações em diferentes Comunidades Autônomas, estamos em praticamente todas. E as famílias são tratadas em hospitais de referência, que não estão em todas as cidades em que vivem as crianças. Elas têm que se deslocar às vezes e [suas famílias] têm que assumir uma quantidade de gastos adicionais que, com a situação de crise econômica, coloca em risco a continuidade do tratamento de seus filhos.
Rafael Duque/Opera Mundi
Associação de Carmen Menéndez faz parceria com outras para tentar barrar impantação de nova taxa
OM: Qual é a posição da federação em relação a esta nova taxa?
CM: Somos totalmente contrários a esta taxa. As famílias estão assumindo outras taxas que neste mesmo ano as obrigaram a pagar, como o transporte não urgente. As crianças necessitam se deslocar ao hospital várias vezes ao ano, às vezes para a indicação de tratamento ou para receber quimioterapia, e este transporte não urgente agora também tem um preço e antes não tinha. Eles também têm que assumir parte do preço das próteses para membros que tenham sido amputados ou usem cadeiras de roda. E então é claro que esta taxa a mais se soma às muitas que ultimamente estão cobrando das famílias.
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OM: Como a federação irá atuar para tentar mudar este cenário? É possível fazer alguma coisa?
CM: Sempre se pode fazer algo. Vamos entrar em contato com o Ministério da Saúde para justificar a nossa negativa a esta taxa pelo prejuízo que irá causar às famílias. E em todos os meios de comunicação estamos, todos os dias, dando as nossas razões. Esperemos que tanto o Ministério como as Comunidades Autônomas reflitam e voltem atrás em relação a esta lei que foi elaborada de surpresa, sem consultar ninguém e sem examinar o prejuízo que pode causar. E assim minimizem o impacto que isto terá ou possa ter nas crianças.
OM: Vocês estão em contato com outros grupos afetados pela nova lei?
CM: Nós estamos em contato com nossas associações. Somos membros também de grupos grandes e de associações de pessoas com deficiências. Por exemplo, a Confederação Espanhola de Pessoas com Deficiência Física e Orgânica tem 1,6 mil associações que são membrom. Nós estamos dentro deste grupo também.
OM: Vocês têm alguma estimativa de quantas famílias serão afetadas por esta medida?
CM: O número de famílias que podem ser afetadas a partir de agora eu não poderia dizer. O que eu posso afirmar é que nós temos 14 mil usuários que atendemos, incluindo a família completa: pai, mãe e crianças. Damos-lhes atenção psicológica, trabalho social e analisamos a situação econômica. Outro dado que posso dar é que o número de crianças afetadas por câncer não é muito alto, mas temos 1,3 mil novos casos a cada ano.
OM: Quanto uma família que possui uma criança com câncer gasta mensalmente com o tratamento?
CM: O gasto médio mensal para uma família afetada pode ser de 500 euros. É preciso ter em conta que muitas famílias se deslocam de seu lugar habitual de domicílio para buscar tratamento nos hospitais. Há famílias que perdem o trabalho para cuidar de seus filhos. [Algumas famílias] estão em uma situação crítica.
OM: E esta nova taxa supõe um aumento de quantos euros nos gastos dessas famílias?
CM: Eu não posso quantificar porque [o valor] é muito diferente dependendo da patologia, da doença de cada criança. Existem crianças que podem, ao sair do hospital, ter que continuar o tratamento em suas casas. Isso pode representar a compra de quatro a dois medicamentos, que devem ser retirados nas farmácias hospitalares e que podem representar dez euros ou o dobro. Às vezes até mesmo o triplo, dependendo do tratamento de cada criança e dependendo também do tempo que tenham que tomar este tratamento. Ou seja, há muita diferença.
O que eu posso afirmar é que estão tentando há anos deixar as crianças hospitalizadas o menor tempo possível. Às vezes é uma medida que pode beneficiar as crianças, mas beneficia principalmente os hospitais. Cada dia que elas não estão nos hospitais é uma economia para a administração e esta economia é grande. Mas, se além de economizar nisso, cobram o tratamento dado às crianças em casa, um tratamento vital… Não é uma aspirina […], este tratamento é vital para eles. [Com esta medida] eles querem conseguir mais dinheiro, que, além do mais, vai representar um aumento pequeno para eles e vai incidir nas pessoas mais vulneráveis. As crianças não são como os adultos, que podem trabalhar ou ter auxílio-desemprego. As crianças devem ser protegidas por toda a sociedade. E a sociedade é representada pela administração pública, eles não podem se esquivar deste compromisso.