Em meio aos intensos bombardeios da coalizão ocidental para conter os avanços do EI (Estado Islâmico) na fronteira turca da Síria, protestos de manifestantes curdos contra a ameaça dos jihadistas sunitas terminaram com a morte de 14 pessoas na Turquia, segundo informou a imprensa local nesta quarta-feira (08/10).
A minoria curda — que há décadas milita para separar-se da Turquia e criar um Estado independente — teme os avanços do grupo extremista sunita na Síria, especialmente nos últimos dias, quando os jihadistas se aproximaram de Kobani, cidade sírio-curda próxima da fronteira com a Turquia. Os protestos curdos, pedindo por ações mais enérgicas contra o EI, não ficaram restritos às ruas turcas, mas espalharam-se por toda a Europa, chegando até a invasão da sede do Parlamento Europeu ontem.
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Agência Efe
Polícia turca usa canhões d'água para conter manifestantes curdos na região de Sanliurfa; 14 pessoas já foram mortas nos protestos
Na Turquia, os curdos protestaram contra a recusa do governo local em socorrer a cidade de Kobani. A administração turca também se nega a abrir a fronteira e permitir que milhares de refugiados curdos procurem abrigo no país.
A maioria das mortes é consequência de confrontos de rua entre ativistas curdos de esquerda e militantes islamitas. Os primeiros são simpatizantes do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), enquanto os outros se identificam como seguidores da organização Hizbullah (sem relação com o partido libanês de mesmo nome), afirma o jornal local Hürriyet. Essa organização, que na década de 1990 cometeu atos terroristas contra ativistas pró-PKK, supostamente com o apoio dos serviços secretos turcos, foi refundada em 2012 como partido com o nome de Hüda-Par.
O PKK, considerado um grupo terrorista na Turquia, é muito próximo da YPG (Unidades de Protação Popular), grupo curdo sírio responsável pela resistência de Kobani frente aos avanços dos jihadistas do EI.
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Atualmente, curdos e turcos estão em processo de negociação de um frágil acordo de paz, iniciado em outubro de 2012 e cujo objetivo é pôr fim ao conflito que se arrasta desde 1984, quando o PKK decidiu pegar em armas para lutar por sua independência da Turquia. O conflito separatista já provocou mais de 40 mil mortes — maioria entre militantes curdos e população civil.
Embora o governo turco já tenha autorização para enviar o Exército nacional a Síria e Iraque — o que colocaria turcos e curdos lado a lado no front de batalha —, a ameaça dos extremistas do EI tem acirrado a tensão entre os dois lados. A resistência da Turquia em intervir, causa dos recentes protestos curdos, também irritou a Otan (aliança militar ocidental) e as potências ocidentais.
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Agência Efe
Manifestantes da minoria curda resolveram sair às ruas pedindo ações mais enérgicas para conter avanços do EI na região curda da Síria
Há uma semana, Abdulah Ocalan, líder histórico do PKK e sentenciado a prisão perpétua em uma penitenciária turca, emitiu um comunicado sinalizando que a queda de Kobani para as mãos do EI poderia significar o fim do processo de paz com a Turquia.
Ontem, o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pediu uma ofensiva terrestre da coalizão internacional para deter os avanços do EI próximos à fronteira.
Bombardeios em Kobani
Os curdos na cidade síria de Kobani afirmaram hoje que os bombardeios aéreos liderados pelos Estados Unidos foram responsáveis por diminuir os avanços do EI na região. Pelo menos 45 jihadistas morreram nos últimos dias em função dos ataques, informou o Observatório Sírio de Direitos Humanos.
(*) Com informações da Agência Efe