Efe
Maduro participou de marcha e afirmou que foi eleito graças à classe trabalhadora
O presidente da Venezuela Nicolás Maduro, afirmou nesta quarta-feira (01/05) que não há polarização em seu país, mas sim mobilização de um “povo protagonista nas ruas”. Ao fim de uma marcha em comemoração ao Dia Internacional do Trabalho, o chefe de Estado afirmou que seu governo está sendo censurado pelos meios de comunicação da “burguesia” do país e que há uma conspiração para derrocá-lo.
“Vocês sabem que eu sou censurado em todos os meios de comunicação da burguesia, vocês sabem que o povo venezuelano é censurado. Vocês sabem que estão conspirando para derrocar o governo bolivariano outra vez. Vocês vão deixar que derroquem o governo?”, perguntou, ao que a multidão vermelha presente no ato respondeu um sonoro “não”. “Bom, aqui temos o povo unido”, complementou, dizendo que é presidente “graças à classe trabalhadora venezuelana”.
“A classe obreira unida é maioria e governa esta pátria”, disse o mandatário venezuelano, afirmando que é preciso diferenciar o seu governo do projeto político da oposição, que qualificou de “imperialista”. Durante o ato, Maduro assinou o Regulamento da Lei Orgânica do Trabalho. Segundo ele, a normativa será publicada nesta quinta-feira (02/05) no Boletim Oficial do país, para a redução da jornada de trabalho no país.
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O presidente contou que foi questionado por uma jornalista francesa acerca da polarização no país. “Eu disse a ela que o país não está polarizado, que o país está mobilizado porque temos uma democracia de um povo protagonista nas ruas. Temos uma democracia mobilizada e devemos estar orgulhosos disso”. Maduro diz ter explicado à jornalista que as tensões políticas existem há muito tempo, devido ao debate entre dois modelos políticos. “Porque há uma revolução de povo, por isso há uma tensão democrática, uma luta de ideias”, expressou.
“A tensões vem desde que aqui chegaram uns barcos de Europa e assassinaram nossos avós, isso não são tensões? Quando perseguiam nossos avós índios, para matá-los, para exterminá-los. O que a Europa diz disso? Ou quando o império ianque veio há 100 anos para se apoderar do nosso petróleo? Não são tensões? Quando aqui massacraram o povo, em 27 de fevereiro de 1989 [na insurgência popular reprimida, conhecida como “Caracazo”], isso não é tensão? Não, isso é normal para a visão burguesa da política”, indagou.
Luciana Taddeo/Opera Mundi
Marcha de opositores percorreu outro trajeto, em clima de reivindicação e protesto
Paralelamente, opositores realizaram sua própria marcha em homenagem ao dia dos trabalhadores. Para que os percursos não coincidissem, Maduro alterou, há dois dias, o trajeto do ato convocado pelo governo. Para a educadora de 45 anos Ana Maria Ortega, houve uma marcha de trabalhadores no país. “Aqui há uma marcha só, a de todos os venezuelanos, independente do partido. Se não defendermos os direitos que adquirimos como trabalhadores, estamos perdidos”, disse a Opera Mundi, agregando que os opositores “apoiam o dia do trabalhador a sua maneira”.
Presente na marcha dos trabalhadores convocada pelo governo, que percorreu ruas de Caracas até o ponto onde Maduro discursou, em uma praça no centro da cidade, o aposentado Pablo Celestino Salseo, de 69 anos, afirmou que as pessoas que votavam em Chávez, mas que na última eleição preferiram o opositor Henrique Capriles, não consideraram o passado de desigualdade social do país. “Alguns passaram para o outro lado, porque não sabem o que acontecia antes aqui. Quem é velho sabe como era antes”, afirmou.
“Os votos em Maduro são dos revolucionários verdadeiros, esses são os votos duros, e não vão mudar jamais”, garantiu, enquanto levantava uma imagem do falecido presidente, feita de madeira, e que movia os braços, como se batesse na sigla opositora MUD (Mesa de Unidade Democrática). “Fiz esse boneco há 10 anos e sempre o levo comigo. Eu vou mudando a mensagem de acordo com a marcha, vou arrumando, mudando a tábua”, explica, afirmando que sobrevive graças a um decreto de Chávez sobre o pagamento de pensões.
Marcha opositora
No ato liderado pelo opositor Henrique Capriles, no entanto, o clima era de reivindicação. De menor dimensão que a chavista, grande parte dos manifestantes protestava contra a prisão preventiva do ex-general Antonio Rivero, dirigente do partido opositor Vontade Popular, decretada na última segunda -feira (29/04), acusado de instigação a crimes cometidos durante a onda de violência pós-eleitoral na Venezuela. No dia, Capriles, que não reconheceu o resultado eleitoral, convocou um panelaço contra a proclamação de Maduro como presidente. A responsabilidade do opositor nos atos de violência está sendo investigada.
“O governo quer prender o Capriles, e se isso acontecer, todo o povo vai para as ruas, porque nós somos maioria”, afirmou Elizabeth Freites, aposentada de 74 anos, que carregava um cartaz onde defendia o líder opositor. “Ele é o vencedor, tenho certeza absoluta de que ele ganhou a eleição”, completa a moradora do bairro nobre de Las Mercedes, afirmando que nunca gostou de Chávez. “Trabalhei na indústria elétrica por 34 anos, e quando este governo chegou, eu fui aposentada. Mas não estou marchando por mim, estou aqui pela Venezuela”, disse.
Carmen Planchar, de 62 anos, ex-funcionária da Assembleia Nacional, afirma que não tem liberdade. “Não podemos dizer o que queremos. Quando dizemos alguma coisa, dizem que são fascistas”, disse, afirmando que foi aposentada há dois anos. “Porque sabiam que eu não era governista”, garantiu, enquanto levantava um cartaz na que pedia a liberdade para o ex-general, preso após aparecer em um vídeo em que instruía jovens sobre como lidar com policiais, durante o panelaço convocado por Capriles.