A vitória do candidato de centro-esquerda Viktor Yanukovitch nas eleições presidenciais deste domingo (7), apesar da margem apertada, marca uma sensação de decepção popular com as promessas da Revolução Laranja, o movimento de liberais e nacionalistas que chegou ao poder na Ucrânia após conseguir invalidar o pleito anterior, cinco anos atrás.
Com 99,42% dos votos apurados na noite de segunda-feira (horário local), Yanukovitch está matematicamente eleito com 48,81% dos votos, ligeiramente à frente de Yulia Tymoshenko, com 45,61%, segundo o jornal Ukrainska Pravda. O número de votos nulos chega a 4,37% (ver quadro).
Assim como nas últimas duas eleições presidenciais, o mapa eleitoral da Ucrânia revelou um país dividido. O Partido das Regiões, de Yanukovitch, venceu no leste e sul do país, regiões de perfil rural e minerador, onde predomina a maioria étnica russa (que é a do candidato vencedor). Já Tymoshenko, assim como Yuschenko, ambos etnicamente ucranianos, venceu no oeste e no norte, onde sua etnia é maioria e se concentram as maiores cidades e núcleos industriais.
Laranja partida
Antes unida, a coalizão “laranja” desta vez concorreu dividida entre as candidaturas de Tymoshenko, primeira-ministra do país, e Viktor Yuschenko, o atual presidente, eleito em 2005, além de aliados menores que concorreram como independentes.
Yuschenko chegou a concorrer à reeleição mas não passou do primeiro turno, com 5,45%, evidenciando a rejeição a seu governo.
Há cinco anos, os “laranjas” – liberais, conservadores, nacionalistas e outros grupos então na oposição ao presidente Leonid Kutchma, padrinho político de Yanukovitch – foram alçados ao poder depois de semanas de protestos, prometendo reformar o país, combater a corrupção e liberalizar a economia.
Logo no primeiro ano, porém, o crescimento do PIB despencou de 12% em 2004 para 2,6% em 2005. Nos quatro anos seguintes, o desemprego ficou estável, o poder de compra caiu e o país entrou em recessão, segundo dados do próprio Banco Nacional da Ucrânia. No ano passado, a economia encolheu mais de 15% e a inflação anual passou de 16,4%, depois de bater 25,8% em 2007.
Além disso, o país não conseguiu aproximar-se da União Europeia e da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), como era objetivo dos “laranjas”, e se envolveu em crises com a Rússia sobre o acesso aos oleodutos e gasodutos para escoar a produção energética, como no último inverno europeu. Yuschenko e Tymoshenko romperam, com a primeira-ministra criticando a corrupção nos setores público e privado, derivada de privatizações sem fiscalização, embora ela mesma já tenha sido processada por sonegação fiscal.
Eleições limpas
Depois do resultado, Tymoshenko já descartou a possibilidade de qualquer aliança com o candidato vencedor – pelo contrário, avisou que irá renunciar à chefia do governo se Yanukovitch e Yuschenko formarem uma improvável aliança, segundo o jornal local Forpost.
Embora o partido da premiê, Bloco Yulia Tymoshenko, tenha anunciado que irá fazer uma “apuração paralela”, desta vez as eleições não foram questionadas por suspeitas de fraudes. De acordo com a revista ucraniana ForUm, observadores da ONG Enemo (European Network of Election Monitoring Organizations), especializados em monitorar eleições no Leste Europeu, afirmaram que a votação transcorreu “livre de pressões, intimidações ou ameaças”, nas palavras da chefe da missão, a cazaque Taskyn Rakhimbek.
“Não houve relatos sobre abusos centralizados na máquina pública. No geral, houve apenas um caso de pressão sobre eleitores e observadores”, disse, sem especificar o episódio.
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