Israel teve uma eleição equilibrada que ainda não definiu nada, além de tendências e munição para seus políticos disputarem os postos mais importantes no próximo governo. As conversas na rua e os comentários da imprensa revelam confusão do eleitorado e a sensação de que tudo é possível, de que a balança pode pender para um lado ou para o outro – ou até para os dois ao mesmo tempo.
Os dois lados são o Kadima, partido do governo, liderado pela atual chanceler Tzipi Livni, e o Likud, do conservador ex-premiê Benjamin Netanyahu, que começaram hoje (11) mesmo as negociações com as demais forças políticas.
Apurados 99% dos votos, o Kadima conquistou ontem 28 cadeiras no Parlamento, contra 27 do Likud, mas Netanyahu reivindica o direito de governar o país formando uma coalizão com a direita, o que lhe daria uma folgada maioria de até 65 cadeiras, contra 55 de uma aliança considerada de centro-esquerda em torno de Livni. Para ter maioria, é necessário formar um bloco de 61, já que há 120 deputados.
Mas essa suposta coalizão ideológica só seria viável contabilizando-se os 11 deputados árabes, que, poucas horas após conhecerem os resultados, disseram que não vão apoiar nenhum partido. O governo do Kadima terminou com uma violenta invasão da Faixa de Gaza, que deixou cerca de 1,4 mil mortos, e nenhuma perspectiva de uma negociação de paz com o Hamas, grupo palestino que governa a região.
Outra dificuldade para Livni é o Partido Trabalhista, liderado pelo atual ministro da Defesa e ex-premiê Ehud Barak, que anunciou intenção de fazer parte da oposição e não integrar nenhuma coalizão de governo, após sofrer a derrota mais desanimadora de sua história (13 deputados).
Netanyahu reuniu-se hoje com Eli Yishai, dirigente do partido judeu ortodoxo sefardita Shas, que obteve 11 cadeiras, informou a rádio pública israelense. Livni também não perdeu tempo e encontrou-se com Avigdor Lieberman, líder do terceiro partido mais votado (15 cadeiras), o direitista e ultranacionalista Yisrael Beiteinu (Israel é a Nossa Casa), após reunir-se com um dirigente do bloco pacifista Meretz, que só conseguiu três vagas.
O partido de Lieberman, que despertou a simpatia de importantes setores da população com uma mensagem direta e propostas como fazer um “teste de lealdade” aos cidadãos árabes do país, também se reuniu para estudar qual candidato é mais apropriado para uma aliança.
Livni disse a Lieberman que ela foi a escolhida da população para ser primeira-ministra, segundo o jornal Haaretz. Afirmou também que agora é a hora da unidade, e do líder do Yisrael Beiteinu avançar em sua agenda. Mas ele preferiu deixar todas as portas abertas. Os dois concordaram em ter outras conversas.
Outra opção seria o Kadima e o Likud se unirem em uma só plataforma de governo, com Livni e Netanyahu se alternando como chefes de governo, dois anos um, depois dois anos o outro. Isso foi feito uma única vez, em 1984, quando Yitzhak Shamir, do Likud, e Shimon Peres, do Partido Trabalhista, revezaram-se no governo. Nos tempos em que os trabalhistas tinham mais poder.
Mas o Likud já descartou essa possibilidade. Segundo o periódico israelense Yedioth Ahronoth, Netanyahu
declarou em reunião com os deputados eleitos do partido que Livni deveria
deixar de lado suas considerações políticas e se unir a um governo
presidido por ele.
“Recebemos um mandato do povo e devemos nos dirigir a nossos
parceiros naturais, para depois tentar expandir o governo”, afirmou Netanyahu. “Não haverá
alternância”.
Antes das eleições, Livni chegou a convidar Netanyahu para que participasse de um governo de união nacional sob a direção do Kadima, mas ele recusou.
“Não haverá revezamento,” disse o ex-ministro das Relações Exteriores, Silvan Shalom, do Likud, à emissora de rádio do Exército israelense, de acordo com o Haaretz. “Esse método é aplicado quando existe um empate entre os blocos, 60 cadeiras para cada um, e este não é o caso. A vitória do Likud é clara”.
Benny Begin, candidato a uma cadeira no Parlamento pelo Likud, disse que prefere uma ampla coalizão, incluindo o Kadima e o Partido Trabalhista, do que um governo menor com o Yisrael Beiteinu. “Não vejo chances no futuro para um acordo com nossos vizinhos árabes, por isso, sou a favor de uma estrutura de governo mais robusta e com bases políticas fortes”.
Netanyahu telefonou para Lieberman após a votação, no que analistas acreditam ter sido um ensaio de um acordo. O Likud também manteve contato com outros partidos de direita, incluindo o HaBayit e o Shas.
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Reportagem ampliada
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