Depois de sete meses de uma crise política que mobilizou o continente e de quatro meses de refúgio na embaixada do Brasil em Tegucigalpa, o ex-presidente hondurenho Manuel Zelaya, deposto pelo golpe militar de 28 de junho, deixou o país hoje (27) em um avião rumo à República Dominicana.
“Nós voltaremos”, disse Zelaya à rádio Globo hondurenha, pouco antes de decolar. “Minha ideia é retornar um dia. Não sei quanto tempo levará, mas, sim, regressarei. Eu sou um hondurenho de verdade”.
Roberto Escobar/EFE
O presidente deposto decolou do aeroporto de Toncontín, aonde chegou junto ao presidente dominicano, Leonel Fernández. O novo presidente de Honduras, Porfirio Lobo, também acompanhou o antecessor pessoalmente. Junto com Zelaya, embarcaram sua mulher, Xiomara Castro, a filha Hortênsia e o assessor Rasel Tomé.
Ao chegar a Santo Domingo, Zelaya foi recebido com honras militares e agradeceu ao presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, ao chanceler brasileiro Celso Amorim e ao assessor presidencial Marco Aurélio Garcia a proteção diplomática dada pelo Brasil.
Em seu discurso, Zelaya disse que ficou “129 dias prisioneiro” em seu país, mesmo “sendo presidente livre, eleito em eleições transparentes e honestas”. Zelaya também acusou o governo golpista de Roberto Micheletti, “pelo não cumprimento do acordo de San José”, que previa o estabelecimento de um governo de conciliação.
Com a voz embargada e com a mulher Xiomara aos prantos, ele se mostrou simpático a Lobo, ressaltando que “a vontade que ele demonstrou para solucionar os problemas de Honduras” terão agora de se tornar realidade.
Zelaya já avisou ao seu anfitrião dominicano que após alguns dias em Honduras deve seguir para o México, onde assumirá uma cadeira no Parlamento Centro-americano.
Resistência
Milhares de hondurenhos se concentraram em volta do aeroporto de Tegucigalpa para se despedir de Zelaya e pedir que ele volte ao país em breve, ao final de uma passeata.
Avião de Zelaya decola no aeroporto de Tegucigalpa:
“A luta do povo, a luta da resistência, se transferirá agora rumo à tomada do poder”, declarou o coordenador da frente, Juan Barahona, ao jornal hondurenho El Tiempo.
A marcha se concentrou em frente a uma universidade no centro da capital e partiu em direção ao aeroporto. Os manifestantes caminharam sob sol intenso ao longo de cinco quilômetros. Foi o último ato da frente de resistência ao golpe, que durante sete meses pediu a restituição do estadista, sem sucesso.
“Vim aqui porque sou consciente e nós queremos mudanças sociais. Queremos que o povo tome o poder e que nosso presidente também volte logo”, disse a estudante Sara Avila, de 25 anos, que participou do protesto, à agência de notícias francesa AFP.
“Participo das passeatas desde o dia 28 de junho. E, três meses antes, já marchava pela 'quarta urna', com a qual Zelaya pretendia realizar um plebiscito para reformar a Constituição, o que foi impedido pelo golpe”, contou.
Reconciliação
Manuel Zelaya foi beneficiado por um salvo-conduto concedido por Porfirio Lobo, em acordo com o presidente da República Dominicana, que aceitou abrigá-lo. Hoje, ao assumir o cargo, Lobo sancionou a anistia aos golpistas, recém-aprovada pelo Congresso, e defendeu que o país precisa de um grande processo de “reconciliação”.
Para o sindicalista e ex-deputado Víctor Cubas, um dos líderes da frente de resistência, o movimento “concorda que deve haver conciliação, mas não perdão aos golpistas”.
“Temos de fazer com que a lei chegue a todos e não seja aplicada somente aos pobres”, defendeu, citado pelo El Tiempo.
Para a partida de Zelaya, foi montado um forte esquema de segurança, que incluiu ambulâncias e carros com soldados armados. Dentro da embaixada brasileira ficaram seis pessoas, que sairão ao longo do dia em coordenação com a Justiça hondurenha.
Atualizada às 09h45
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