Houve duas batalhas de El Alamein na Segunda Guerra Mundial. As duas travadas entre Grã-Bretanha e Alemanha em 1944 no Egito.
Com a vitória das forças aliadas na primeira delas, em julho — a mais pontual —, El Alamein já dava os primeiros sinais do que viria a acontecer alguns meses depois. No segundo embate de El Alamein, entre 23 de outubro e 11 de novembro, ocorreu o que pode ser considerado o ponto de inflexão da guerra no norte da África. A vitória aliada acabou com as ambições alemãs de se apoderar do Egito, então colônia britânica, e de também assumir assim o controle do Canal de Suez e de uma série de poços de petróleo do Oriente Médio. Depois de El Alamein, as tropas germânicas tiveram de se retirar de toda a costa norte da África.
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Soldados da artilharia britânica avançam em meio à areia do campo de batalha em El Alamein
Em confronto estavam o célebre Afrika Korps, expedição militar alemã no Norte da África, chefiado pelo marechal Rommel, e o VIII Exército britânico, comandado pelo general Bernard Montgomery.
Em 23 de outubro de 1942, em El Alamein, o Afrika Korps teve de recuar ante o VIII Exército britânico. Foi o primeiro golpe infligido à Wehrmacht — Exército alemão — após as guerras-relâmpago que renderam às tropas hitleristas boa parte da Europa Continental e a bacia do Mar Mediterrâneo.
A ofensiva na Líbia
Antes disso, em dezembro de 1940, os ingleses haviam lançado uma ofensiva contra a Líbia, colônia italiana, a partir de seu protetorado egípcio. Puseram três divisões italianas fora de combate e avançaram até Tobruk. Os italianos pediram ajuda aos seus aliados alemães. Foi assim que o general Rommel desembarcou em Trípoli, capital da Líbia, em abril de 1941, com uma divisão ligeira e uma divisão blindada.
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Rommel cumpria oficialmente ordens do comandante-em-chefe das forças do Eixo ítalo-alemão na África, o marechal italiano Ugo Cavallero. Rommel agiu, porém, com total independência, conseguindo expulsar os anglo-saxões da Líbia, com exceção de uma divisão canadense instalada no forte de Tobruk.
No outono de 1941, aproveitando-se de que Hitler concentrava todos os seus esforços na invasão da União Soviética, os ingleses retomaram a ofensiva e libertam Tobruk. Rommel repeliu novamente os britânicos em dezembro de 1941 e, no mês seguinte, convence Hitler de lhe enviar os reforços indispensáveis em blindados e em homens. Empreende em maio de 1942 uma terceira ofensiva em direção ao rio Nilo contando com seus aliados italianos. O sucesso dessa operação lhe valeu o posto de marechal.
Assista, em inglês, documentário sobre a batalha de El Alamein:
Começam os confrontos no Egito
As forças eram naquele momento mais ou menos equivalentes: 125 mil homens e 740 tanques entre os aliados; 113 mil homens e 570 blindados das forças do Eixo.
Em 30 de junho de 1942, os blindados de Rommel chegam ao oásis de El Alamein. A primeira batalha assiste ao confronto entre as tropas de Rommel e o VIII Exército britânico. Embora com ligeira vantagem aliada, termina em 27 de julho sem vencedor nem vencido. Os dois exércitos se enterram nas trincheiras à espera de reforços.
Na noite de lua cheia de 23 de outubro de 1942, os britânicos deram início à ofensiva chamada de Operação Lightfoot, disparando sua artilharia durante seis horas, utilizando 882 canhões com uma média de 600 disparos cada um. Nesta operação, a infantaria deveria avançar primeiro já que o peso dos soldados não seria suficiente para fazer detonar as minas antitanques. A infantaria deveria abrir um caminho livre de minas pelo qual passariam os tanques em fila. A operação não teve os resultados esperados porque a extensão dos campos minados resultou ser maior que o esperado. De outro lado, por diversas circunstâncias, o trabalho de detecção das minas atrasou em demasia o desenrolar da batalha.
Na manhã do dia seguinte, o quartel-general alemão foi bombardeado. Rommel se encontrava na Alemanha. O comandante alemão no cargo, general Georg Stumme, sofreu um ataque cardíaco e morreu.
À tarde, teve lugar o primeiro enfrentamento de tanques: uma luta foi equilibrada. À meia-noite, os aliados lançaram três ataques em distintos pontos. A confusão reinou no campo de batalha e os britânicos perderam 500 homens com um só oficial sobrevivente. Enquanto isso, tropas australianas atacavam um posto de artilharia alemão no topo de uma colina, obtendo resultados favoráveis: foram capturados 250 soldados germânicos.
Rommel retorna ao Egito
Neste momento, Rommel [na foto, à direita] regressa ao Egito e encontra suas tropas numa situação deplorável: a divisão italiana “Trento” havia perdido metade de sua infantaria; a divisão ligeira alemã havia perdido dois batalhões inteiros, a maioria dos soldados havia adoecido, a comida estava sendo racionada e o moral bem próximo no chão. Para piorar, o Afrika Korps tinha combustível apenas para três dias.
Apesar dessa debilidade, o Exército alemão conseguiu deter a nova ofensiva britânica, o que levou o premiê inglês Winston Churchill a exclamar: “É tão difícil encontrar um general que possa ganhar uma batalha?”.
Decidido a recuperar o posto de artilharia, Rommel mobilizou a divisão italiana “Ariete” e uma divisão panzer, mas não puderam tomar a colina. A falta de combustível imobilizou os tanques que passaram a ser alvo fácil da força aérea aliada.
Desobediência ao Führer
Entre 27 e 29 de outubro ocorreram violentos confrontos entre os blindados ingleses e alemães e, ainda que ambos sofressem baixas, a falta de combustível e a inferioridade numérica do Afrika Korps pôs Rommel numa difícil situação. “Será impossível safar-nos do inimigo. Não há gasolina para tal manobra. Nossa única opção é lutar até o fim em El Alamein”, disse o marechal. Em 1º de novembro, Rommel iniciou a retirada a Puka, poucos quilômetros a oeste. Nesse dia chegaram 1.200 toneladas de combustível, todavia eram muito poucos os tanques disponíveis.
As tropas alemãs perderam 12 mil homens e 350 tanques. Os aliados perderam 23.500 homens entre mortos e feridos. Apesar das pesadas baixas, a vitória foi comemorada na Grã Bretanha e a Montgomery se atribuiu o título de visconde.
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General Montgomerry observa, de seu blindado, avanço das tropas britânicas no deserto no Norte da África
Rommel e seu exército escaparam às pressas rumo a Túnis enfrentando o risco de serem cercados. Na capital tunisiana recebeu reforços e recursos, pois na costa noroeste da África tinham desembarcado tropas norte-americanas. Contudo, o que deveria ser uma vitória rápida sobre a Alemanha, se converteu numa campanha relativamente longa, uma vez que as inexperientes tropas dos Estados Unidos cometeram muitos erros, especialmente na batalha da Kasserine.
Em 2 de novembro, Rommel pede a Hitler que proceda à retirada. O Führer recusa e lhe ordena que resista “custe o que custar”. O marechal, confiando em seu prestígio, assume a responsabilidade de desobedecer o ditador. Em 3 de novembro, emite a ordem de bater em retirada e leva seu exército em boa ordem e quase intacto a algum ponto da Tunísia. Alguns dias mais tarde, mais aliados desembarcavam na África do Norte.
Em Londres, diante da multidão em êxtase, Churchill exulta: “Não é ainda o fim, nem mesmo o começo do fim, mas é o fim do começo”. O primeiro-ministro considerou que esta batalha era um momento crucial da Segunda Guerra Mundial. Constataria mais tarde, como historiador: “Antes de El Alamein, jamais tínhamos tido vitória, após El Alamein jamais tivemos derrota!”.
No final do ano de 1942, o Eixo germano-italiano havia sido expulso da África, com exceção da Tunísia. Nessa mesma ocasião, em outro extremo da Europa, um exército alemão estava preso numa armadilha às margens do rio Volga, na cidade de Stalingrado, tendo seu comandante obedecido a Hitler de não recuar em nenhuma hipótese.
Muito popular entre a jovem oficialidade alemã, o marechal Rommel, era conhecido como a “Raposa do Deserto” por sua audácia e domínio da tática de guerra com blindados nas suas primeiras vitórias em solo africano. Chamado novamente a Berlim seis meses após a batalha de El Alamein, antes mesmo que seu exército fosse completamente expulso da África pelas tropas de Montgomery. Designado para o front do Atlântico, Rommel se dá conta de que a Alemanha não tinha mais qualquer chance de ganhar a guerra. Abordado pelos oficiais que conspiravam contra o Führer, recusa-se a participar. Porém, após o atentado fracassado de 20 de julho de 1944, devido a suas relações com os chefes do complô, vê-se obrigado a se envenenar. Seus funerais foram celebrados em 18 de outubro de 1944 com as mais altas honrarias do II Reich. Oficialmente, sua “causa mortis” foi anunciada como efeito dos ferimentos recebidos em combate.