A Batalha da Normandia, conhecida como Operação Overlord, foi a invasão do continente europeu levada a cabo pelos Aliados no noroeste da França, então ocupada pela Alemanha nazista. O esforço aliado se concentrou em desembarcar na Europa um exército que, depois de libertar a França, chegasse ao coração do III Reich.
Em 1943, apesar dos reiterados protestos de Stalin que reclamava a abertura de uma segunda frente na Europa, que comprometesse mais tropas alemãs no Ocidente e aliviasse a situação da União Soviética, Churchill e o comando aliado adiaram-na mais um ano.
Em 1944, a Wehrmacht tinha suas forças espalhadas em vários fronts. Havia perdido a África para os britânicos e em seguida se deslocaram para a Sicília e o resto da Itália. No front oriental a situação era desesperadora ante o irresistível avanço do Exército Vermelho que já estava ingressando na Polônia.
A Operação Overlord envolveu 39 divisões aliadas: 22 dos Estados Unidos; 12 da Grã Bretanha; três do Canadá; uma polonesa e uma francesa, totalizando mais de um milhão de soldados. A missão era assaltar as praias da Normandia mediante desembarques anfíbios.
Originalmente, a missão deveria começar no dia 5 de junho de 1944, porém devido à inclemência do tempo adiou-se para o dia seguinte. Na madrugada do dia 6, dez divisões norte-americanas, britânicas e canadenses pisaram terra entre os rios Orne e Vire. Apesar de se ter conquistado muito menos terreno que o previsto, instalaram sólidas cabeças de praia onde nos dias subsequentes desembarcaram 250 mil homens e 50 mil veículos. A operação iria terminar no dia 25 de agosto quando Paris foi libertada. O desembarque é a maior operação de invasão por mar da história, já que quase três milhões de combatentes cruzaram o Canal da Mancha da Inglaterra à Normandia.
O terreno interior da Normandia era bastante favorável para a defesa. Os atacantes tinham grandes dificuldades para a ação de seus blindados. A ondulação do terreno, as cercas de pedra, os arbustos, as inclinadas ladeiras obrigavam que o ataque dos blindados se efetuasse em ponta e não em amplitude e sempre com uma cobertura dos flancos muito curta. O mesmo problema tinha o defensor com seus blindados, embora seus granadeiros pudessem ficar ocultos até que os blindados inimigos estivessem muito próximos. Bastaria então disparar sobre o primeiro para que toda a coluna quedasse praticamente imobilizada. Até que a vanguarda norte-americana abrisse uma brecha em Avranches, a progressão dos Aliados foi muito lenta.
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“Adentrando as presas da morte”: foto registra desembarque de soldados norte-americanos na Normandia em 06 de junho de 1944
Os alemães baseavam sua tática no emprego maciço de granadeiros enquanto os Aliados empregaram uma força extraordinária de caça-bombardeiros que, voando a baixa altura, destroçavam as unidades inimigas. A partir de 12 de agosto, os Aliados começaram a usar o oleoduto submarino para o aprovisionamento de combustível entre a ilha de Wight e Cherburgo.
Outra tática aliada foi a de confundir o comando alemão. O objetivo se cumpriu plenamente, uma vez que generais germânicos acabaram acreditando na existência no Reino Unido de um segundo exército preparado para o desembarque em Calais, exército totalmente imaginário – manequins e blindados de borracha para confundir os aviões alemães de reconhecimento.
O exército aliado estava composto de 1,75 milhão de britânicos; 1,5 milhão de estadunidenses e 44 mil voluntários de outras nacionalidades. Foi necessário lançar tropas paraquedistas a fim de assegurar setores da península de Cotentin e o mesmo fariam os paraquedistas britânicos no vale de Odon. Os norte-americanos desembarcaram nas praias ao sul de Cherburgo e de Omaha. Nesta praia se travaram os mais duros combates e foi batizada como Bloody Omaha (Sangrenta Omaha). Os britânicos se ocuparam das praias de Gold e Sword. Ao general Bernard Montgomery se encomendou tomar a cidade de Caen no mesmo dia da invasão, porém sua indecisão fez perder tempo precioso. Caen foi tomada três semanas mais tarde, após cruentos combates.
O comando alemão não sabia o lugar em que se daria o desembarque. Aviões aliados lançaram papel de alumínio para confundir os radares inimigos. Quase dois meses após o desembarque, Hitler ainda tentava convencer seus generais que o desembarque na Normandia não passava de uma manobra de distração e que o desembarque principal se daria em Calais. Os aliados contribuíam para esta crença. Para cada missão de bombardeio preparatório sobre a Normandia se faziam dois sobre Calais.
As tropas britânicas tiveram melhor sorte que as estadunidenses, porém avançaram muito pouco. As coisas começaram a sair mal para as divisões aerotransportadas. Ao tentar evadir o fogo antiaéreo, se dispersaram muito e ficaram disseminados pela retaguarda inimiga. Não consolidaram a cabeça de ponte até o fim da jornada e perderam algo mais de 300 homens.
O primeiro objetivo estratégico foi a criação, entre os rios Sena e Loire, de uma base a partir da qual se chegaria ao rio Reno. Apesar desta estratégia, o mar fez estragos entre os britânicos, tragando cerca de 50 tanques Centaur que serviriam de apoio móvel de artilharia. Na praia Omaha as primeiras ondas norte-americanas foram massacradas. No entanto, o fogo alemão não tinha densidade nem continuidade, pois só estava defendido por um batalhão de infantaria. A maior parte dos barcos aliados devia apoiar o desembarque com disparos sobre objetivos terrestres.
A aviação alemã foi afastada da zona de invasão, destruindo ao máximo suas bases no norte da França e intensificando os bombardeios sobre cidades germânicas. O objetivo foi plenamente cumprido, uma vez que no dia da invasão a Luftwaffe contava com apenas 250 aparelhos estacionados na França e a esquadrilha mais próxima da Normandia era composta por apenas dois caças.
Com a ajuda da resistência francesa (“maquis”) obteve-se ampla informação sobre as fortificações alemãs. Destruíram-se as vias férreas com ataques aéreos aliados e sabotagens dos “maquis”. Apesar da rapidez com que os agrupamentos de engenharia conseguiam reparar os danos, as divisões blindadas alemãs levavam menos tempo em chegar em seus trens da Rússia ao Reno do que do Reno à Normandia.
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Navios na praia Omaha, codinome dado pelos Aliados a um dos cinco setores da costa da Normandia, na França, em junho de 1944
Desde o fim de 1942, o alto comando alemão carecia de estratégia em todos os seus fronts, simplificando suas atividades a conceitos táticos e operacionais. Hitler temia um desembarque aliado na costa atlântica francesa e ordenou ao general Rommel, no fim de 1943, que inspecionasse as defesas costeiras do “Muro Atlântico”, desde a Dinamarca até a fronteira espanhola. Preocupado, Rommel fortaleceu a costa atlântica, especialmente no Canal da Mancha. Sob seu comando, o ritmo se acelerou significativamente. Ordenou colocar, numa distância entre 8 a 10 quilômetros, 20 milhões de minas – das quais só se chegou a colocar 4,1 milhões. Em novembro de 1943 recebeu o comando do Grupo de Exércitos B, trasladado do norte da Itália ao norte da França. O destino para a libertação da Europa ocidental estava traçado.
Hitler, obstinado com a ideia que o desembarque era uma manobra de distração, ordenou inicialmente contra-atacar com as forças disponíveis na zona. Mais tarde enviou as divisões Panzer estacionadas nos arredores de Paris. Durante o desembarque, o que mais estragos causou às tropas aliadas foram as metralhadoras MG 42 situadas nas escarpas.
Para que as embarcações de todo tipo pudessem descarregar a carga e os soldados, os Aliados necessitavam de porto em águas profundas, como Cherburgo ou Havre. Foram descartadas e se construíram peça a peça, diante dos povoados de Arromanches e Saint-Laurent, dois portos artificiais, trazendo da Grã Bretanha centenas de cofragens pré-fabricadas de concreto, que serviriam de diques e molhes.
O Comandante Supremo Aliado, general Dwight Eisenhower, foi designado como comandante-em-chefe da Operação Overlord. O comando das forças terrestres ficou a cargo de Montgomery. Antes de invadir a Europa, Eisenhower mandou entregar uma mensagem a cada soldado que participaria da batalha.
Eisenhower planejou a missão baseando-se nas experiências aliadas nos desembarques em Marrocos, Argélia, Sicília e Salerno. O plano consistia em desembarcar nas praias, consolidar ao longo de 80 quilômetros uma formidável cabeça-de-praia, estabelecer portos artificiais até tomar Caen e Cherburgo, romper a resistência alemã, penetrar na planície francesa, libertar Paris e finalmente abrir passagem para penetrar na Alemanha até encontrar-se com as tropas do Exército Vermelho, finalizando a guerra com a rendição incondicional da Alemanha nazista. Contava-se com uma enorme frota para manter o fornecimento de víveres e material e uma incontestável supremacia aérea, o que impediria os alemães de trasladar facilmente tropas ao front, abastecer-se e organizar os contra-ataques.
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Cemitério militar alemão em La Cambe, na Normandia, onde estão enterrados cerca de 20 mil soldados alemães
No comando das tropas alemãs se encontrava o marechal Rommel, que, depois do suicídio forçado, foi substituído pelo general Günther von Kluge. Este também se suicidou e foi substituído pelo general Walter Model, que também tirou a própria vida depois da derrota na Batalha do Ruhr.
Os soldados aliados desembarcaram nas praias da Normandia com nomes em código Omaha e Utah (estadunidenses), e Sword e Gold (britânicos). Nesse desembarque participaram 110 mil soldados do 1º Exército dos Estados Unidos; 58 mil soldados do 2º Exército britânico e 17 mil soldados do exército do Canadá. Ao anoitecer a cabeça de praia estava formada e nas semanas seguintes desembarcaram milhares de soldados aliados.
A praia mais difícil de ocupar foi a de Omaha. Ali morreram seis mil norte-americanos e 15 mil foram feridos. Embora tenham morrido 50% dos que chegaram na primeira onda, puderam dinamitar as fortificações inimigas.
A praia onde houve maior resistência da parte da Wehrmacht foi Juno. Sua ocupação foi encomendada a duas divisões canadenses e o desembarque se deu às 07h49. Repelidos inicialmente, os canadenses conseguiram penetrar nas defesas alemãs após uma hora de combate graças ao apoio dos tanques Sherman. As baixas canadenses foram 980 entre mortos, feridos e capturados. Gold resultou ser a segunda praia mais fácil de ocupar depois de Utah. As tropas inglesas desembarcaram às 07h25 e, apesar de forte resistência inicial e 400 baixas, alcançou seu objetivo. Em Sword, em pouco menos de 45 minutos, conseguiram, com certa dificuldade, alcançar seu objetivo. Tiveram aproximadamente 700 baixas.
Os Aliados dedicaram-se nas semanas seguintes a consolidar o front do desembarque, tendo por meta tomar a oeste Cherburgo e seu valioso porto e Caen ao sul. Em sete, uniram-se as cabeças de ponte norte-americana e britânica, salvo a de Utah, separada do restante pelo rio Douve. No entanto, um ataque da 101ª Divisão Aerotransportada sobre o povoado de Carentan em 12 permitiu formar um front contínuo. No dia seguinte, ocorreu um contra-ataque alemão, repelido pelo 506º Regimento de Infantaria na batalha de Bloody Guich.
Os desembarques da Normandia foram a maior invasão marítima da história, com cerca de cinco mil embarcações de desembarque e ataque, 289 navios de escolta, e 277 caça-minas. Aceleraram o fim da guerra ao forçarem a retirada de tropas alemãs da Frente Oriental. A abertura de uma nova frente na Europa Ocidental foi um golpe psicológico tremendo para as forças militares da Alemanha, que temiam a repetição de uma guerra de duas frentes como acontecera na Primeira Guerra Mundial. Os desembarques da Normandia também marcaram o início da “corrida para a Europa” entre as forças soviéticas e as potências ocidentais, que alguns historiadores consideram o início da Guerra Fria.
Os custos da campanha da Normandia foram altos para ambos os lados. Desde o Dia D até 21 de agosto, os Aliados desembarcaram mais de dois milhões e 50 mil homens no norte da França. Os aliados sofreram cerca de 200 mil baixas de 6 de junho até o fim de agosto, incluindo 36 mil mortos, 150 mil feridos e 19 mil desaparecidos. Os britânicos, canadenses e poloneses sofreram 16 mil mortos, 58 mil feridos e nove mil desaparecidos, num total de 83 mil baixas. Os americanos sofreram 20 mil mortos, 94 mil feridos e 10 mil desaparecidos, num total de 125 mil baixas. Os Aliados perderam 4 mil aeronaves e 16 mil aviadores mortos ou desaparecidos. As perdas de tanques dos Aliados foram estimados em cerca de quatro mil.
As forças alemãs na França relataram perdas de 158 mil homens entre o Dia D até 14 de agosto. Na ação do Bolsão de Falaise, 10 mil morreram e 40 mil foram capturados. As perdas alemãs são estimadas em 240 mil mortos, feridos ou desaparecidos, além de 210 mil capturados.