Criança em praia da Califórnia: sem o influxo de imigrantes, aumento populacional nos EUA pode ter queda
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Um número cada vez maior de países no século 21 tem de encarar uma decisão crucial: mais imigrantes ou menos cidadãos. Um caso emblemático do dilema que os países desenvolvidos encaram é o Japão, cuja população diminuirá 14% nas próximas quatro décadas. A força simples e poderosa por trás dessa situação difícil é a demografia. Quando as mortes são mais frequentes do que os nascimentos, o resultado inevitável é o declínio populacional – a menos que o fluxo de imigrantes compense a queda.
Hoje, o número de mortes é maior do que o de nascimentos em mais de uma dúzia de países, incluindo Alemanha, Hungria, Itália, Japão, Portugal, Rússia e Ucrânia. Espera-se que outros 24 países também vejam suas populações diminuindo até a metade do século, mesmo com a imigração contínua ao longo das próximas décadas. Além disso, se o fluxo de imigrantes fosse subitamente interrompido, o declínio populacional em países como Áustria, Alemanha, Itália e Rússia seria ainda maior do que o previsto atualmente.
A razão pela qual o número de mortes é maior do que o de nascimentos é simplesmente o resultado da queda nas taxas de nascimento para valores inferiores ao número mínimo de reposição de dois filhos por mulher. Na ausência de imigrantes, se a taxa de fertilidade média em um país permanecer abaixo de dois filhos por mulher, sua população irá, eventualmente, encolher.
Imigração necessária
Atualmente, cerca de 76 países, incluindo Brasil, Canadá, China, Cuba, Irã, Suíça, Tailândia e Vietnã têm taxas de fertilidade abaixo do valor de reposição, o que representa metade da população mundial. Além disso, um terço desses países, incluindo Alemanha, Itália, Japão, Rússia, Cingapura, Coreia do Sul e Espanha, têm níveis de fertilidade inferiores a 1,5 nascimento por mulher. Uma exceção é a Índia, que apresenta uma taxa de fertilidade de 2,5 nascimentos por mulher. Como consequência da taxa de natalidade comparativamente alta e do tamanho de sua população, cerca de 1,3 bilhão, a Índia, que agora responde por cerca de 22% do crescimento populacional anual no mundo, com cerca de 78 milhões de nascimentos, deve ultrapassar a China em oito anos.
Se os governos em países com taxas de fertilidade abaixo do nível de reposição quiserem estabilizar o tamanho de suas populações, então a imigração será necessária para compensar a diferença entre mortes e nascimentos. Por exemplo, o número total de imigrantes necessários para manter a atual população da Alemanha, de quase 82 milhões, ao longo da próxima década, é de cerca de 200 mil por ano, o dobro do número previsto pelas atuais projeções da União Europeia. Os números totais de imigrantes necessários para que o Japão e a Rússia estabilizem sua população são ainda maiores, cerca de 230 mil e 350 mil ao ano, respectivamente, muitas vezes maior do que o influxo atual de imigrantes.
Mesmo em países que têm taxas de natalidade próximas do nível de reposição, como Austrália, França, Nova Zelândia, Reino Unido e Estados Unidos, a imigração pode ter um enorme impacto no crescimento populacional. No Reino Unido, por exemplo, quase 95% do crescimento populacional até o meio do século será resultado da imigração. Além disso, enquanto até o meio do século as populações da Austrália e dos Estados Unidos, com a imigração, têm previsto um aumento de 35% e 27% respectivamente, sem a imigração seus aumentos populacionais previstos cairiam em 10%.
Mais idosos
Além do crescimento populacional, o envelhecimento da população também é outra consideração demográfica a ser feita. Muitos países, especialmente aqueles com taxas de fertilidade inferiores ao nível de reposição, enfrentam mudanças acentuadas em sua estrutura etária, com maior número de idosos e uma diminuição do número de pessoas em idade economicamente ativa. Prevê-se, por exemplo, que a Itália, com seu fluxo imigratório contínuo de 135 mil pessoas ao ano, verá até o meio do século sua população idosa aumentar em 57% e sua população em idade economicamente ativa, isto é, entre 20 e 64 anos, cair em 22%. Sem imigrantes, o declínio da população em idade economicamente ativa na Itália seria ainda mais substancial, dobrando para 44%.
Outra consideração demográfica diz respeito à composição dos imigrantes. Muitos daqueles que imigram hoje são étnica, religiosa e culturalmente diferentes da população do país que os recebe, o que aumenta temores relacionados à integração, integridade cultural e conflitos étnicos. Em alguns países, como Japão ou Coreia do Sul, a homogeneidade étnica é vista como uma característica nacional positiva. A população nativa frequentemente percebe os imigrantes como uma ameaça às condições de emprego e às oportunidades.
Como é amplamente reconhecido, os esforços do governo para aumentar as taxas de fertilidade até o nível de reposição parecem pouco produtivos. Embora os governos possam querer que as coisas sejam diferentes, as leis da demografia não podem ser repelidas ou ignoradas. Menos cidadãos ou mais imigrantes – esta continua sendo uma escolha crucial para um número cada vez maior de países ao longo do século 21.
Tradução por Henrique Mendes
* Texto originalmente publicado no site YaleGlobal
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