França: adolescente morto pela polícia é enterrado; Macron adia viagem à Alemanha
País se prepara para viver quinta noite consecutiva de protestos contra morte do adolescente, que provocou uma onda de revoltas em Paris
O enterro do adolescente de 17 anos morto por um policial na França aconteceu neste sábado (01/07) sob alta tensão em Nanterre, na periferia de Paris. Centenas de pessoas participaram do velório, sem a presença da imprensa, a pedido da família de Nahel.
Uma cerimônia fúnebre foi realizada na mesquita Ibn de Nanterre, onde o jovem morava e perdeu a vida após receber um tiro no peito, durante uma blitz na última terça (27/06). Depois, o corpo foi encaminhado para o cemitério de Mont Valérien e foi enterrado no fim da tarde. Grupos de jovens afastaram jornalistas que tentavam se aproximar do local.
"Descanse em sua alma, e que justiça seja feita. Vim para apoiar a mãe. Ela só tinha ele, coitada", disse à AFP uma mulher que não quis se identificar, ao sair da mesquita.
A França se prepara para viver uma quinta noite consecutiva de protestos violentos contra a morte do adolescente, que provocou uma onda de revoltas nos bairros populares e subúrbios das principais cidades do país. De sexta (30/06) para sábado, mais de 1,3 mil pessoas foram detidas por participar de saques, vandalismos e ataques à polícia.
Em todo o país, 45 mil policiais estavam nas ruas para conter os distúrbios, mas mesmo assim, 1.350 veículos foram incendiados e 234 prédios foram queimados ou danificados.
O governo decidiu cancelar todos os "eventos de grande escala", como os shows da cantora Mylène Farmer na sexta e no sábado no Stade de France, e pediu para que ônibus e bondes não circulem depois das 21h em toda a região parisiense.
Nas cidades de Marselha e Lyon, que enfrentaram violentos distúrbios na última noite, a segurança vai ser reforçada a pedido dos prefeitos.
Macron adia viagem oficial à Alemanha
O presidente francês, Emmanuel Macron, decidiu adiar a visita de Estado que faria à Alemanha a partir da noite de domingo até terça-feira. O anúncio foi feito pela presidência alemã, em um comunicado.
"O presidente francês Macron falou por telefone hoje com o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier e o atualizou sobre a situação em seu país. O presidente Macron solicitou o adiamento de sua planejada visita de Estado à Alemanha", disse o texto. "O presidente alemão lamenta o cancelamento e compreende perfeitamente a situação", especifica o comunicado.

Twitter/Ministère de l'Intérieur et des Outre-mer
45 mil policiais estavam nas ruas para conter os distúrbios
Segundo o palácio do Eliseu, ainda não há uma nova data marcada para a viagem. Em Paris, uma fonte do governo insiste que os líderes franceses e alemães têm muitas oportunidades de se encontrarem, e que uma visita de Estado representa, sobretudo, um momento de celebração da amizade franco-alemã.
No final de março passado, o governo francês já havia cancelado a visita de Estado do rei britânico Charles III à França, em meio à crise social devido à reforma da Previdência.
Balanço dos estragos
Nesta tarde, o ministro francês da Economia, Bruno Le Maire, fez um balanço dos estragos causados pelos protestos. Pelo menos uma dezena de centros comerciais, 200 hipermercados, 250 tabacarias e 250 agências bancárias, além de inúmeros fast-foods e lojas de roupas, esportes e tecnologia foram saqueados, danificados ou mesmo totalmente queimados desde terça-feira, quando se iniciaram os distúrbios.
Le Maire chamou os eventos de "imperdoáveis, indescritíveis e intoleráveis" e reafirmou a determinação do governo de restaurar a ordem no país. “Não há nação sem ordem”, disse ele, antes de anunciar um pacote de medidas de apoio aos comerciantes atingidos por vandalismo.
Já o ministro da Justiça, Éric Dupond-Moretti, disse que os serviços de inteligência franceses trabalham para identificar e eliminar as contas nas redes sociais que têm incitado as violências, principalmente no Snapchat. O ministro garantiu que os responsáveis serão encaminhados à Justiça.
Dupont-Moretti ainda reforçou a cobrança feita aos pais dos jovens moradores das periferias, feita por ele próprio na véspera e também pelo presidente Emmanuel Macron. “Eles que cuidem dos seus filhos. Não cabe ao Estado criar os filhos”, criticou.