No programa SUB40 desta quinta-feira (29/04), o fundador de Opera Mundi, Breno Altman, entrevistou Aroaldo Oliveira, montador da Mercedes e diretor executivo do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, que defendeu a necessidade de políticas industriais para enfrentar a nova revolução tecnológica.
“O Brasil poderia ter uma indústria nacional, do carro elétrico por exemplo, se tivesse vontade do Estado de articular os atores nacionais necessários. Seriam eles o próprio Estado, a capacidade intelectual brasileira, capaz de criar tecnologia, e as empresas já instaladas no Brasil, para que, entre todos, se criasse uma nova cadeia de produção”, ponderou.
Para ele, essa discussão se faz necessária diante da nova revolução tecnológica, a “Revolução 4.0”, que ameaça empregos nas fábricas. “O sindicato vem tentando intervir para diminuir os impactos dessa nova realidade na vida dos trabalhadores”.
Mais do que necessária, Oliveira reforçou que o tema é urgente, pois o Brasil vem sofrendo um forte processo de desindustrialização. “A falta de políticas industriais e a economia baseada na especulação financeira, que não cresce, afugenta as empresas. Aí a Ford, por exemplo, vai embora porque vai ganhar uma nova escala, está mudando sua lógica de produção e aqui no Brasil não pode concretizar esse novo projeto, mas quer que a gente continue consumindo carros da Ford. Na China, por exemplo, isso nunca seria permitido”, argumentou.
Criar políticas públicas, no entanto, não significa dar subsídios de forma permanente, na opinião do dirigente metalúrgico. “Subsídios fazem parte da implementação de um caminho estratégico traçado até que o setor em questão se estabeleça. Mas, desde o momento de articulação inicial do setor, é preciso dar incentivos a pesquisas de desenvolvimento e inovação, criação de mercados e formação para os trabalhadores. Dar o suporte para que as empresas deem o salto tecnológico necessário”.
A luta sindical durante a pandemia
Não só a revolução 4.0 tem afetado a luta dos trabalhadores, como a pandemia também tem se mostrado um obstáculo para os metalúrgicos e a atividade sindical.
“Houve empresas que a gente conseguiu discutir, pensar alternativas, segurar o desemprego, mas teve empresas que não conseguiram se sustentar, principalmente as micro e pequenas, que não tinham capital para manter os empregados em casa”, admitiu Oliveira.
Além disso, ele contou que a luta sindical teve de migrar para o meio digital, devido à impossibilidade de se realizar assembleias nas portas das fábricas, por exemplo.
“Mas acho que a gente não pode só ficar no mundo virtual. Com todos os cuidados, cumprindo os protocolos, o principal é que a gente não perca o contato humano, o olho no olho na nossa luta. Complementando-a com a atuação no mundo virtual”, defendeu.
SMABC
Aroaldo Oliveira foi o entrevistado de Breno Altman na edição desta quinta (29/04) do SUB40
‘Anulação de sentenças contra Lula mudou o clima nas fábricas’
Oliveira, que começou a trabalhar como montador da Mercedes aos 14 anos, quando ingressou no Senai, se diz fã de Lênin e é militante do Partido dos Trabalhadores. Ele acompanhou no chão da fábrica a perseguição política contra o PT, que culminou com o golpe de 2016. Ele analisou os motivos pelos quais a classe trabalhadora não foi capaz naquele momento de se mobilizar e enfrentar o movimento golpista.
“Foram dois fatores. O primeiro foi como a mídia incutiu na cabeça da população que o PT era corrupto, que a corrupção era o grande mal do Brasil e que a Operação Lava-Jato vinha nos salvar. Aí era inevitável. Vai o cara trabalhar todos os dias, sai lascado todos os dias, enfrenta transporte público abarrotado para ir e voltar, e quando chega em casa vê na TV que não sem quem roubou. De tanto pregar, insistir, isso ficou muito marcado”, pontuou.
O segundo fator, de acordo com Oliveira, foi a chegada da crise econômica europeia, “que explodiu no colo da Dilma”.
Como resultado, se gerou uma sociedade apolítica ou contra a política, como definiu o dirigente sindical, de que quem está na política só está ali por interesse. Ele mesmo foi vítima desse tipo de pensamento, revelou.
“Sou dirigente sindical, mas eu sou montador, vivo do salário de montador, mas o pessoal acha que como também sou dirigente, não vivo só disso. Foi tão repetido que quem está no meio político vive de interesse que a população foi se afastando do debate”, refletiu.
No entanto, segundo ele, a anulação das sentenças contra Lula e a retomada de seus direitos políticos está mudando esse cenário. Oliveira assegurou que a repercussão nas fábricas tem sido grande e que aqueles que tinham virado apolíticos ou que haviam se distanciado do debate político estão mudando de ideia.
“Agora que as verdades estão vindo à tona, os trabalhadores estão voltando a debater. Mudou o clima nas fábricas”, reforçou.