Temperatura de 9º C, um pouco de vento, um muito de chuva. E nenhum samba. Parece não combinar com Carnaval, mas milhares de pessoas se divertem, e ninguém arreda o pé.
É terça-feira gorda, Mardi Gras, o dia mais esperado do Carnaval de Nova Orleans (Luisiana), que, como todo Carnaval que se preza, começou bem antes, no dia 15 de fevereiro. Foram duas semanas de desfiles, com 24 rotas diferentes.
Haroldo Ceravolo Sereza/Opera Mundi
Pedir e ganhar colares, a grande diversão do Mardi Gras; muitos ficam agarrados às árvores
Durante o dia, a principal atração é uma parada — que combina desfile de carros alegóricos, gente fantasiada, fanfarras, militares a cavalo. Enquanto cortam as principais ruas da cidade, os foliões que desfilam, especialmente nos carros, lançam para a plateia — que se espreme em pequenas arquibancadas, algumas privadas, outras públicas — colares e mais colares, em geral muito coloridos e brilhosos.
Mas há outros ingredientes, facilitados pela invasão de bugigangas chinesas: cocos pintados, bichinhos de pelúcia, espadas luminosas. Quem pede mais, ganha mais; quem está distraído corre o risco de tomar um colar na fuça — e sair achando tudo muito engraçado.
Haroldo Ceravolo Sereza/Opera Mundi
Entre os carros alegóricos, bandinhas que animam o Carnaval de Nova Orleans
Há fantasia de todos os tipos na rua: onça, espaçonauta, pão-de-forma. Nos carros, uma combinação de dia-dos-mortos, zumbis e vampiros com muita cultura afro-americana e indígina.
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Em geral, especialmente entre os que veem o desfile, são todas muito improvisadas. O importante é ficar colorido e não permitir que nada combine com nada: nesse sentido, o frio ajuda, e fru-frus são vistos em gente usando luvas, enquanto os cobertores ganham forma de capuz com a ajuda dos colares.
Haroldo Ceravolo Sereza/Opera Mundi
Contra o frio e as águas de março, muitas capas, guarda-chuvas e até luvas
A terça-feira gorda e molhada de Nova Orleans toca blues, jazz, rock e rap. Samba não passa por aqui, embora há quem encare as ruas com, lembremos os Novos Baianos, um batuque de matar. Fora essas tentativas malogradas, no entanto, a música é boa.
Avisa um motorista de táxi muito bem informado que a festa na tradicional Bourbon Street, onde estão os melhores bares e de onde o camarote (as sacadas dos prédios coloniais francesas) continua o festival de colares de fabricação chinesa, pedindo e às vezes conseguindo que as mulheres mostrem rapidamente os seios, é encerrada oficialmente pela polícia à meia-noite.
Haroldo Ceravolo Sereza/Opera Mundi
Saxofinista da parada Zulu, uma das mais tradicionais
Também ele informa que, nessa hora, ninguém tá nem aí pra polícia. Nem os próprios policiais. E que a divertida Terça-Feira Gorda, que apesar do frio esquentou pra valer na sexta-feira passada, só acaba quando o pessoal mais animado acordar na sarjeta da Quarta-Feira de Cinzas.